“Faz cinco anos que tento deixar meu cabelo crescer. Faz cinco anos que ele só diminui.” Escrevi isso há dois anos numa crônica sobre a indústria de cabelos curtos. Agora achei honesto atualizar a história: estou ficando calvo. Desde pequeno soube que seria calvo. Todos os homens da família da mãe eram calvos. Eu era a cara da mãe. Acontece que ainda gosto do cabelo maior, e por isso insisto em deixá-lo assim, contra a força da natureza. “Os franceses ficam bonitos calvos”, eu digo a um amigo. “Mas os franceses já são bonitos, Luca”, ele me acerta. No começo do ano, meu gêmeo começou um tratamento com cápsulas. Depois do período de teste, me recomendou o remédio. Ainda mirando nos franceses, eu disse que não. “Meus cabelos pararam de cair”, o irmão, o que só usa cabelos curtos, insiste. Há duas semanas, num bar com o amigo anterior, ele também me indicou o remédio. “Eu uso há dois anos”, ele diz, enquanto alisa em câmera lenta seu cabelo grande e volumoso. Eu mostro uma foto no celular e digo: “Eu quero o meu assim.” E ele me responde: “Mas você não tem esse cabelo”.