Eu sempre fui acostumado a ter amigos ruins. Meu melhor amigo da adolescência era um ególatra desvairado e, na época, eu achava isso engraçado, ele sempre destacava que não precisava de ninguém, inclusive de mim. Eu percebia a sua bravata de autossuficiência como algo cômico. Cresci vendo minha mãe e minhas tias, ao final dos almoços em família, quando já não havia mais ninguém além delas e de mim, falando mal de todas suas amigas sem papas na língua. Para mim, era normal não gostar muito de quem supostamente estaria na sua intimidade. Só que eu comecei a fazer psicanálise e ver que parte do meu auto-ódio vinha dessa relação tóxica com as amizades. Depois de anos trabalhando a psique, já não era mais possível me relacionar com quem eu não gostava tanto. Claro que entre a percepção de um problema e a resolução dele existem quilôooometros de distância. Não é da noite para o dia que você para de sair com aquilo que os americanos chamam de “Frenemy” (mistura de “friend” e “enemy”). Foram anos entendendo que eu não preciso sair com alguém só porque a pessoa me chamou, que é imperativo que eu goste de alguém só porque ela gosta de mim.