Uma amiga enviou mensagem, na semana passada, querendo um conselho. O homem com quem ela estava se relacionando queixou-se de “estar apertado” e lhe pedira dinheiro emprestado. Ele alegava que a pensão da ex-mulher era alta e que os gastos com a filha consumiam quase todos os seus recursos. Ponderei que era cedo para um empréstimo. Ela não o conhecia em profundidade e o valor pedido não era baixo – R$ 10 mil. Dois dias depois, ela ligou. “Ainda bem que segui sua dica. Uma ex-namorada dele entrou em contato comigo e alertou para o golpe que ele costuma dar nas mulheres”, contou.Ela o conhecera em um aplicativo de encontros. Educado, agradável e disponível, ele a cativara logo nas primeiras conversas. Depois de duas semanas, marcaram um encontro presencial e ela ficara ainda mais encantada. “Ele levou flores e disse que gostaria de um relacionamento sério”, recordou ela.O homem morava em Brasília e mudou-se para Goiânia. Estava desempregado e falava que aqui era mais fácil de arrumar alguma coisa. Morava no apartamento dela e fazia questão de levar e buscá-la no serviço todos os dias. Chegava sempre 15 minutos antes e tratou de ficar amigo dos colegas dela e até do chefe. Na festa de final de ano da firma, lá estava ele, fazendo selfies com a equipe dela. Ele dizia que não tinha redes sociais porque não gostava da exposição virtual. Minha amiga achava estranho não ter sido apresentada à filha dele, mas o homem justificava com o fato de a criança morar em Brasília e a mãe ser “complicada”.No final de semana, uma ex-namorada do homem descobriu o contato da minha amiga e mandou uma mensagem para alertá-la. Ele possui redes sociais, apenas nunca contara a ela. Nos perfis, postava fotos em frente ao prédio em que ela trabalhava, com os colegas de departamento, como se fossem do trabalho dele.As imagens da festa de final de ano da empresa foram postadas como sendo da confraternização do local onde ele trabalha. Ela aparecia uma única foto, junto com outros “colegas da firma”. Tudo isso porque a ex-mulher estava pedindo na justiça a guarda compartilhada da criança e ele queria fugir da responsabilidade.Para não ter de ficar com a filha durante a metade do mês, ele alegara à ex-mulher que havia conseguido um emprego em Goiânia e, por isso, não dispunha de tempo para cuidar da menina. Pedir dinheiro emprestado às namoradas também era algo recorrente. Depois que elas faziam o empréstimo, ele sumia. Desolada, minha amiga bloqueou o contato dele no celular e foi lamber as feridas. O caso a fez reviver um episódio ocorrido há dois anos, com outro homem que ela também conhecera no aplicativo. Namoraram por seis meses, até que ela descobriu que ele era casado e tinha três filhos. Há alguns anos, também passei por uma experiência desagradável em um aplicativo. Estava conversando com um homem há três dias, quando ele começou a questionar minha vida financeira e patrimonial. Queria saber se eu tinha carro, se mantinha algum tipo de investimento, se meu apartamento era próprio ou alugado.Diante das perguntas invasivas, brinquei, questionando se ele era fiscal da Receita Federal. A resposta é que ele não queria se casar e precisava se assegurar de que eu teria para onde voltar, caso a relação terminasse, pois seu apartamento com varanda gourmet era “topíssimo” e as parceiras “mais quebradas” se recusavam a sair de lá. A vida da mulher solteira heterossexual “não está sendo fácil”, como dizia a cantora Kátia, em seu hit dos anos 1980. Tenho várias amigas que conheceram caras incríveis em aplicativos e até se casaram, mas é preciso ter sorte. Ou fé. A gente reza o Salmo 91 antes de dar match, segura na mão de Deus e vai. Para onde, só Ele sabe.