Já romantizaram tanta coisa. Cigarro, bebida, comida industrializada, vida fitness, ioga, agenda cheia de reuniões, correria da cidade grande, arranha-céus de vidro, histórias de superação. Na vez da literatura não pode? Na década de 1980, quando eu chegava da escola e ia ver televisão, no intervalo do desenho animado sempre tinha um homem num cavalo fumando um Marlboro. A cena era bonita. Até o homem morrer e mudarem de ideia. Hoje, se posto fotos de livros, se posto numa cafeteria lendo ou num aeroporto escrevendo, não pode. Dizem que estou romantizando a literatura. Mas ninguém nunca morreu por ler demais. Ler é romântico mesmo. É coisa chique, que todo mundo devia fazer e exibir. Em lugares fotogênicos então, a leitura merece a pose. A cara de intelectual numa fotografia preto e branco fica linda. E acho que escrever é um ato exuberante que deveria ser filmado e exibido nos cinemas.