Nasci com uma boca de sacola, não consigo fechar a matraca. Como inimigo da introversão, acho uma bênção. É regozijante contar com o artifício do gogó, imparável. Só que é também uma maldição. A falta de freio dos pensamentos - “será que deveria estar falando isso mesmo? - causa certo desconforto. Às vezes, até remorso, arrependimento por hablar mais que a menina que vende Yakult na Sé. Algo entre “acho que devia ter ficado quieto” e “agora todo mundo pensou algo ruim sobre mim”. Muitos amigos apoiam, alguns até compartilham desse problema genético. Nós, bocas de sacola, geralmente formamos bandos. Podemos ser vistos em rodinhas em festas, tagarelando sobre QUALQUER assunto. Só que nossa comunidade, apesar de se apoiar, ainda sofre riscos. Imagina só, ter uma boca gigante, que nunca se fecha, é perigoso, você fica vulnerável. Falar sem parar chama a atenção, causa interações e toda interação humana é arriscada.