Quando menino, vivendo no orfanato, nossos diretores nos fotografavam para enviar as fotos aos padrinhos da missão United Brothers. Em troca, a meninada ganhava presentes. Ainda tenho na memória a minha foto em preto e branco, com uma enxada, misturando massa de pedreiro e que me rendeu um marcador de Bíblia, lindíssimo e que acompanhou minha jornada de leitor cristão. Se antes eu era apenas fotografado, nos anos 1970, quando a Kodak espalhou suas câmeras Instamatic, com o cartucho de filme já pronto para uso, esse entretenimento entrou de vez no meu cotidiano. Já morando fora do orfanato, comprei uma pequena máquina amarelinha, e podia fotografar primos e, principalmente, as primas. Bastava mirar, apertar o botão e confiar que, semanas depois, no retorno do laboratório, a memória viria revelada em papel brilhante e com pagamento em suaves prestações.