Nesta época do ano, munidos de robôs e inteligência artificial, descobrimos quantas e quais músicas mais ouvimos nos aplicativos e nos vídeos que nos atraíram no YouTube. É como estar diante de um espelho, que reflete nossas preferências e, também, aquilo que deixamos de fazer ou o que nos aprisionou nos últimos doze meses. Se antes o balanço do ano dependia apenas da memória, hoje estamos cercados por relatórios digitais, listas automáticas, notificações triunfais: “parabéns! Este ano, você leu 3.247 páginas!”. Os que rejeitam o mundo digital recorrem aos seus cadernos para manter vivo o ritual das listas feitas à mão, das páginas rabiscadas com as suas listas de leituras, filmes e séries de Tv. Esses balanços analógicos carregam uma dose de afeto e subjetividade que nenhum robô consegue replicar. Há um encanto discreto nas retrospectivas escritas à mão – tão raro quanto cultivar uma coleção de discos de vinil.