Passei parte da minha vida sem entender por que Raimundo Fagner cantava que quem dera ele fosse um peixe. Foi só com a experiência, digamos, que achei ter captado a mensagem escondida sob as escamas do bicho: o peixe de Fagner parecia uma metáfora para o pênis. O animal aquático, em Borbulhas de Amor, teria desbancado a supremacia histórica das aves que gentilmente emprestam seus nomes ao falo. Minha intuição se confirmou pela boca do poeta Ferreira Gullar, autor da versão brasileira da música. Segundo ele, o peixe de Fagner era, de fato, um pinto (ou peru, como queira). Confesso que essa descoberta me tranquilizou um pouco a alma, que teima em ser pragmática, ortodoxa e deficiente para metáforas e entrelinhas. Por sorte, também, sou apaixonado pelas artes. Porque, se por um lado o pragmatismo por anos impediu-me de ver um pinto no peixe, por outro a literatura revelou-me o quão genial e reflexivo pode ser um animal aquático nos livros.