O genial Raduan Nassar completou 90 anos no final de novembro. Um homem que escreveu pouco, mas falou muito. E uma das características que me faz achá-lo genial é a atemporalidade de seus livros. Embora Lavoura Arcaica, publicado em 1975, seja sua obra-prima, espanta-me voltar a Um Copo de Cólera e ver como ele soa atual se lido por uma perspectiva de análise de País. A breve e intensa narrativa do escritor paulista conta a história de um casal que se desentende abruptamente após uma noite de amor. E é a partir desse mote que o autor esbofeteia o incauto leitor com pensamentos e reflexões que, para mim, soam quase como profecias do momento vivido pelo Brasil nos últimos anos, sobretudo no campo político. Como, por exemplo, não ouvir a fala de alguém que não compactua com as ideias da extrema direita, independentemente de suas crenças políticas, a um “patriota” propagador convicto de fake news ao ler uma passagem como esta: “(...) Nunca te passou pela cabeça que tudo que você diz, e tudo que você vomita, é tudo coisa que você ouviu de orelhada, que nada do que você dizia você fazia (...)?”