Uma tia minha costumava dizer a respeito de um outro tio, seu irmão, que ele era ruim de telefone. Por ruim de telefone entenda-se que ele raramente atendia ou retornava as ligações que lhe faziam para o celular, já que, como a maioria das pessoas hoje, já não possui telefone fixo.Minha irmã também diz o mesmo de nosso irmão mais velho. Dificilmente ele atende quando ligamos e muitas vezes deixa conversas no WhatsApp por responder. E não é que estou indo eu agora pelo mesmo caminho. É coisa rara eu atender na hora quando alguém me liga, talvez até mesmo porque na maior parte das vezes quem chama são empresas de telemarketing ou golpistas de toda sorte.Parei de prestar atenção ao sonar do telefone, quando não o coloco no silencioso mesmo. Antes, até me gabava de ser ágil e gentil ao retornar as ligações e responder a amigos e familiares, mas ultimamente tenho sentido um enorme cansaço ante nosso excesso de conectividade.São tantos memes, fotos, vídeos e links compartilhados dos grupos de que ainda participo, que só de abrir a tela já estremeço ante tanta informação. E as mensagens realmente pessoais, que demandam respostas igualmente pessoais, se perdem meio que confundidas e soterradas nesse amontoado de conteúdo coletivamente compartilhado.Pelo jeito não sou só eu que me encontro assim exausta e confusa. Já vi reportagens dizendo que os usuários de redes sociais têm reduzido o número de postagens nas linhas do tempo e compartilhado apenas, quando o fazem, conteúdos temporários nos stories.Eu mesma reduzi bastante o uso, principalmente porque com a dinâmica dos algoritmos, quase já não vemos as publicações dos amigos, mas aquilo que os algoritmos entendem que desejamos ver. E somos todos o tempo todo bombardeados por polêmicas e tretas fúteis, além de publicidade disfarçada de conteúdo que acionam compulsivamente as nossas molas de desejo, culpa e ira.As redes sociais que a princípio deveriam propiciar interação social e servir ao entretenimento e mesmo a discussões saudáveis, têm se tornado cansativas e prejudiciais à nossa saúde mental.Infelizmente, porém, não podemos prescindir dos celulares, pois hoje precisamos deles para tudo, para os tantos aspectos práticos da vida, para pagar contas, para solicitar carros em aplicativos de transporte, para comprar passagens aéreas, para reservar hotéis, para marcar consultas, para viver e morrer.Estamos de tal forma presos aos celulares e neles encerrados, que se os perdemos, ou eles estragam ou são roubados, ficamos em desespero, sem lenço e sem documento.Na última viagem que fiz, descobri que alguns museus nem vendem mais presencialmente os ingressos. É preciso comprá-los pelo site ou aplicativo. A escola de meu filho também solicita que os pais acompanhem todas as atividades que os estudantes fazem por meio de aplicativos e uma plataforma própria de ensino. Socorro!Tento me convencer de que a tecnologia facilitou nossa vida, que nos poupa tempo, pois não precisamos por exemplo ir até o banco para pagar contas, mas tenho me sentido a cada dia mais saudosa de um tempo em que não existia tanta tecnologia.Quem me dera poder fazer como um professor que outro dia ouvi contar a uma vendedora: “Não tenho pix ou WhatsApp, já nem uso celular. “Você pode agir assim, porque sua esposa tem, paga as contas pelos aplicativos e responde as mensagens”. Quem me dera eu ter alguém que se ocupasse de tudo isso para mim. Aí sim, eu não seria ruim de telefone, mas péssima.