Eu estava no supermercado quando senti uma saudade apertada da vó. No caixa ao lado, um casal de velhinhos bem idosos pagava a conta, num ritmo bem lento, muito próprio de avós que agora só têm a tarefa de curtir seus netinhos no fim de semana. A saudade bateu quando, antes de sair do mercado, a sacola que o vô carregava caiu e quebrou duas caixas de ovos. A atendente do caixa revirou os olhos, se levantou com certa raiva, me olhou como se procurasse um cúmplice, mas evitei dar atenção a ela. Foi quando a senhorinha começou a rir. E me deu vontade de rir junto, como eu e minha vó fazíamos. A idosa, de batom vermelho-quente e cabelo curto fixado com laquê, ria de não conseguir se mexer, enquanto o marido se atrapalhava com as compras. Ele, sem graça, como o meu avô faria, resmungava e se desculpava com a atendente, como se tentasse formar um time para jogar contra a esposa.