A cineasta norte-americana Kathryn Bigelow filma e monta melhor do que a esmagadora maioria dos marmanjos cujos filmes vejo por aí. Portanto, se há interesse em Casa de Dinamite, ele se deve sobretudo ao talento da diretora e do montador Kirk Baxter (colaborador de David Fincher desde Benjamin Button, sendo um dos responsáveis pela estupenda arquitetura fílmica d’A Rede Social). Bigelow, para quem não sabe ou não se lembra, é responsável por dois dos melhores filmes deste século: Guerra ao Terror (pelo qual ela ganhou o Oscar de direção) e A Hora mais Escura (que deveria ter rendido outro Oscar para ela). O cenário proposto em Casa de Dinamite é pisado e repisado naquela levada apocalíptica em que Godot está efetivamente a caminho, ainda que, sendo Godot, não o vislumbremos no final. Se, como escreveu o poeta italiano Eugenio Montale, “os inícios são sempre irreconhecíveis”, nossos olhos tampouco distinguem o fim, pois já estão mortos ou enterrados vivos. E o fim, aqui, é o fim para valer, ao menos para o mundo tal qual conhecemos.