Uma amiga viu Oldboy (a versão original de Park Chan-wook lançada em 2003), mas não se lembra dele. Achei isso incrível. Não vou dizer o que acontece em Oldboy, mas posso citar alguns elementos sem incorrer em spoilers: polvo, martelo, filha, tesoura, língua. Como alguém se esquece de um filme desses? Eu gostaria de esquecer Irreversível, por exemplo. O filme de Gaspar Noé só me trouxe exaustão. Nem mesmo a técnica me interessou, e sou louco por um plano-sequência. O problema não é a selvageria; alguns dos melhores cineastas (Peckinpah, Scorsese, Cronenberg, Refn, Miller, Bigelow) fizeram filmes muito violentos. A questão, para variar, é o “como”. A cena capital de Irreversível é um estupro. A cena capital de Sob o Domínio do Medo é um estupro. Mas, enquanto Noé chafurda sadicamente no choque pelo choque, Sam Peckinpah cria uma das sequências mais perturbadoramente ambíguas da história do cinema. E o pior: Peckinpah (a exemplo de Michael Haneke em Violência Gratuita) diz que o problema está nos nossos olhos. E está mesmo. Em nossos preconceitos, taras, expectativas, graus variados de machismo e misoginia, etc. Pessoas diferentes descrevem de formas diferentes a cena de Sob o Domínio do Medo. Seu tio bolsominion, por exemplo, dirá: “Ela pediu. Não foi nada, segue o jogo”.