Em Retratos Fantasmas, Kleber Mendonça Filho fala baixo e de maneira afetuosa sobre algo ensurdecedor: a fragilíssima persistência da memória por meio das imagens. Ele começa dentro de casa, falando sobre o apartamento no qual cresceu no Recife, sobre a mãe, sobre as transformações ocorridas no imóvel e no bairro ao redor, a cidade crescendo de modo vertical e, paradoxalmente, esvaziando-se. Depois, ele sai de casa e vai para o Centro da cidade, e nos leva a três cinemas históricos (dos quais apenas um sobrevive), com os quais teve e tem uma relação muito próxima. Assistir a essas imagens levou à minha própria viagem passadista. Já escrevi neste espaço sobre a importância do Cine Cultura para mim. Hoje, a sala tem como programador um amigo muito querido, Fabrício C. dos Santos (que, aliás, aparece a certa altura de Retratos Fantasmas assistindo a uma projeção de Suspiria, de Dario Argento, no Cine São Luís — Fabrício vendo um filme no cinema dentro do filme sobre cinema). Lembrei-me de quando, há 20 anos, Fabrício me apresentou aos textos (excelentes) do então crítico Kleber Mendonça Filho no site Cinemascópio. Depois, vimos os curtas dele (A Menina do Algodão, Vinil Verde, Eletrodoméstica, etc.) e o longa de estreia, O Som ao Redor, um dos melhores da década passada.