Nesta semana, pela primeira vez, eu discordei da minha terapeuta. Na hora experimentei um certo estranhamento. Mas quem foi que disse que terapeuta sempre tem razão? Por acaso isso está escrito em algum lugar – num manual de psicoterapia, talvez? Porque, se está, é certo que esse livro eu nunca li. Fato é que ela me disse crer que conseguimos nos autoconhecer por completo. Dá uma trabalheira danada, mas que é possível, é. Não acho, foi o que retruquei. Disse a ela que o ser humano é inabarcável. Fosse eu genial como Dostoiévski, teria respondido com mais classe, densidade e filosofia: o homem é vasto; vasto até demais. Mas, claro, não o fiz. A meu modo, prossegui dizendo que precisaria de umas 45 encarnações para conhecer a mim mesmo. E que se assim seria num processo de autoconhecimento, quão impossível não seria conhecer o outro, tão ou mais multifacetado do que eu, ainda quadradinho demais.