Ficar pendurado na asa de um avião e depois saltar de paraquedas. Atravessar andando sobre uma linha esticada de um prédio ao outro. Escalar lugares inóspitos e inimagináveis para qualquer mortal. O medo se transforma em boa dose de aventura para os aficionados por adrenalina. A paixão pelo perigo é o tema central do filme A Travessia, do diretor Robert Zemeckis, em cartaz nos cinemas, que rememora a história do artista de rua francês Philippe Petit, equilibrista que caminhou entre as torres gêmeas do World Trade Center em Nova York, nos EUA, em 1974, através de um cabo de aço instalado entre ambas.O mesmo sangue aventureiro compartilha o estudante goiano Matheus Barros, de 23 anos, praticante de highline, a vertente mais desafiadora entre as quatro modalidades de slackline. O jovem viajou por mais de dez Estados para atravessar um percurso em cima de uma fita. Ele andou na Pedra da Gávea e no Corcovado, no Rio de Janeiro, e no Monte Roraima, na fronteira entre Brasil e Venezuela. “É um momento de pura confiança porque é algo assustador. Você não pode pensar no medo. Eu preciso de adrenalina em tudo que faço na vida, seja em um simples passeio de bicicleta ou no esporte.”O maior desafio de Matheus na modalidade foi o mesmo superado por Philippe Petit. Sob os pés, uma fita de 2,5 centímetros de largura, presa entre duas rochas no Bananal, no Parque Estadual Serra da Tiririca, em Niterói (RJ), distantes 15 metros uma da outra. Abaixo, nada menos que 50 metros de queda livre. A aventura foi realizada sem equipamento de segurança. O mesmo procedimento foi repetido também na cidade carioca, no Morro do Pai Inácio. “Apesar de parecer suicida, não penso em cair, mas se acontecer, sempre estarei preparado para agarrar a linha.”A confiança do jovem é reflexo de muita dedicação. Matheus treina todos os dias desde quando começou, há três anos. Ele conheceu o highline em uma festa e quando chegou em casa passou a noite inteira treinando equilíbrio. O primeiro teste foi enfrentar uma altura de dez metros na caminhada de uma árvore para outra no Parque Lago das Rosas, na capital. “Consegui concluir o percurso com as pernas tremendo, o que é normal porque é algo psicológico para um iniciante”, conta.VETERANOAs alturas também são o lugar preferido do comerciante goiano Marcos Aurélio Albuquerque, de 45 anos, que há mais de uma década salta de paraquedas. Todos os finais de semana é lei entrar em um avião e se jogar de uma altura de cerca de 20 mil ou 40 mil metros e chegar até o solo em torno de sete minutos. Ele já repetiu o mesmo passeio dos céus em boa parte do País. “Gosto e vivo disso e se eu ficar sem enlouqueço. Se tiver dez decolagens programadas no dia quero participar de todas. Sou viciado e acredito que sem adrenalina não funciono direito”, brinca.Marcos já perdeu as contas do número de saltos. Ele contabiliza pelo menos 900 e comemora o fato de nunca ter precisado abrir o paraquedas reserva, uma espécie de anjo da guarda caso o principal não funcione. A primeira vez que ele subiu em um avião para descer com as próprias pernas foi no Aeroclube da capital, na época situado na saída de Inhumas – atualmente instalado em Pirenópolis. “É um esporte seguro. O perigo é a euforia do praticante, se ele for bem instruído, os riscos de acidente são zero e você terá tempo mesmo de brincar no céu e descobrir porque passarinho gosta tanto de voar”, pondera.Antes de saltar, Marcos gostava mesmo era de acelerar em cima de uma moto. Ele foi piloto de motocross. O paraquedismo veio ao acaso após aceitar um desafio dos amigos que duvidaram que ele teria coragem. “Fiz o curso no sábado e no domingo estava descendo de paraquedas. Ainda bem que troquei a velocidade do asfalto pelas nuvens, porque de motocicleta quebrei a coluna em cinco lugares, depois a perna, fiz uma cirurgia no olho esquerdo, além de outras quedas. Voando, ainda, não tive nenhum arranhão. Graças a Deus”, comemora.-Imagem (Image_1.969037)-Imagem (Image_1.969038)