A arte como forma de expressão, somada à imaginação de uma criança e uma forma única de enxergar e interpretar o mundo. Augusto Mangussi tem apenas 12 anos e uma lista de exposições pelo Brasil – e fora dele – que mostram o reconhecimento de seu talento com a pintura. Diagnosticado com autismo ainda bebê, o garoto ganhou com as artes plásticas muito mais que um extenso currículo: “O maior ganho é a autoestima. O Augusto descobriu que é útil, pertencente ao mundo. Isso é o que o autista mais precisa”, diz a mãe Larissa Lafaiete.O talento de Augusto foi descoberto nas aulas de pintura da escola, aos 9 anos de idade. A escola foi fundada pela mãe do garoto em Caldas Novas após situações de preconceito em outra instituição de ensino. “Sempre insistimos para que o currículo dele fosse adaptado, mas na escola pudemos referenciar uma metodologia diferenciada com os alunos. Coloquei as aulas de pintura para todos, mas quem realmente manteve interesse foi o Augusto”, lembra Larissa. A capacidade de concentração realizando a atividade foi um dos primeiros sinais de que o garoto havia encontrado uma paixão. “Ele passava duas, três horas concentrado pintando. No início, a professora precisou adaptar algumas formas e materiais devido a dificuldade motora que ele tem. Com o tempo, viu que a melhor forma de pintar é com os dedos”, explica.O resultado das aulas podia ser observado nas telas e começou a render elogios a Augusto. Na escola é que o garoto começou a expor as primeiras obras, que logo ganhariam espaço em salões renomados. “O pai dele foi o primeiro a querer impulsionar esse talento e abriu o perfil no Instagram”, conta. “As postagens começaram a ganhar atenção e muitos seguidores para a página.”A partir da rede social veio o primeiro convite, para o concurso de arte Eyecontact Festival of Arts for Autists, em 2019. O projeto é uma criação da artista plástica Grazi Gadia que integra a Semana Internacional do Autismo (TEAbraço, em Ribeirão Preto, São Paulo). O neurologista Carlos Gadia é cofundador do TEAbraço e um dos maiores especialistas do mundo no assunto. A partir daí, as portas das galerias se abriram cada vez mais para Augusto. Suas obras integraram a 6º edição da Expo Arte SP. “Ele foi a primeira e única criança a participar da Expo. O fundador brinca que o Augusto é o mascote deles”, conta a mãe, orgulhosa. “Ali, ele recebeu muito apoio dos jovens artistas e vendeu o primeiro quadro. Inclusive, fizemos uma venda para uma pessoa famosa sem saber: uma moça muito bonita e simpática, que conversou bastante, se encantou com os quadros e fez a compra. Descobrimos depois que era a Karina Maluf, esposa do Seu Jorge e neta do Lima Duarte”, relembra. Em pouco tempo, as obras de Augusto chamaram a atenção e viajaram para outros países. “Ele participou da Semana de Arte Basel, em Miami, veio também o convite da Focus Brasil para a Expo Arte Arizona, em Phoenix”, conta Larissa. No início do ano, a participação no 1º Congresso Internacional de Autismo, realizado na Bahia, também arrancou elogios. Com as obras circulando por aí, Augusto ganhou outro hiperfoco – característica que faz parte dos padrões comportamentais do autista. “Com as participações e seleções cada vez mais frequentes, ele não pintava por pintar mais. Pintava também para viajar, para participar das exposições. E, com isso, criou gosto por geografia. Adora mapas, cronologia”, explica a mãe.O processo criativo de Augusto é incentivado por suas professoras de artes – mas o estilo, a escolha de cores e combinações, são dele. O gosto pela música também auxilia no desenvolvimento da criatividade: ele faz aulas de música e tem uma cantora preferida, Luiza Possi. A casa da família ganhou um cantinho especial desde que o garoto começou a se dedicar às artes; é nesse ateliê que Augusto se dedica a suas pinturas.