Depois de três anos debruçada sobre lembranças, imagens caseiras e o diário da irmã mais velha, a cineasta Petra Costa colocou no mercado, em 2012, o documentário Elena. Na produção, recebida com surpresa pela crítica especializada, entre elogios rasgados diante de sua delicadeza poética, a diretora trata da dor causada pela morte precoce da irmã e da vontade de criar memórias misturando acontecimentos reais e lembranças muitas vezes turvas.Enaltecido também por estudiosos do comportamento humano, o filme é fio condutor do debate deste sábado na 2ª Mostra Cinema Psi, do Lumière Bougainville. A conversa com o público começa às 20h30, logo após a exibição do longa, que se inicia às 19 horas.“A intenção é falar, entre outras coisas, sobre como as estéticas impressionista e expressionista utilizadas pela cineasta possibilitam que o espectador se depare com uma relação especular existente entre ela a irmã. Queremos tratar também das memórias recriadas a partir de um embaralhamento entre as falas de Elena e as imagens de Petra, e vice-versa”, antecipa a psicanalista Glacy Roure, que recebe o público mais tarde ao lado do paulista, e também psicanalista, Christian Dunker.Durante a palestra, que tem como temática As Perdas e as Memórias da Vida de uma Mulher, os dois tratam ainda da importância de elaborar os traumas e o luto de uma maneira verdadeira.Ao longo do filme, Petra mergulha no passado de Elena e na intenção de redescobrir a jornada da primogênita, assim como os sentimentos dela, acaba criando uma nova memória sobre a irmã. “No debate vamos abordar essa busca da diretora por elementos que a possibilitaram afastar a presença de Elena de sua vida e se recolocar como sujeito no mundo. Assim como na vida real, no documentário testemunhamos a junção de diferentes fragmentos, de dor e alegria, que criaram uma narrativa que transformou o sofrimento e a angustia frente a perda em memória”, explica Roure, destacando, em tempos de instantaneidades, a importância do respeito à subjetividade do tempo do luto.Psicanálise Conhecido por defender o cinema contemporâneo como uma ferramenta eficiente na abordagem do sofrimento de forma geral, o psicanalista Christian Dunker diferencia os processos de recordar, quando a memória está disponível, e rememorar, quando é preciso reconstruir a experiência que estava em jogo naquele momento.“Nesse segundo fenômeno vamos reorganizar os afetos que não foram vividos ou que foram deformados naquela experiência. Nesse aspecto estamos falando do valor que a vivência teve para a formação da pessoa que aquele sujeito se formou”, explica, destacando a relação entre o cinema e a psicanálise. “A pessoa se entende, se lê melhor a partir dos filmes.”Dono de um canal no YouTube com mais de 60 mil inscritos, Dunker aborda constantemente essa relação em seus vídeos. “Existem muitas analogias da sétima arte com temas que perpassam os estudos e as manifestações de comportamento. Podemos, por exemplo, fazer uma ligação com os sonhos, com a realização do desejo e com as nossas experiências de intimidades. É como se fosse o divã do pobre”, brinca, emendando que o que mais lhe interessa, como profissional e pesquisador, diz respeito à parte prática, com um foco maior no fazer cinema em detrimento das histórias que ele conta.-Imagem (Image_1.1602734)