As narrativas que perpassam as trajetórias da pianista vilaboense Belkiss Spenziere Carneiro de Mendonça com Goiânia caminham em paralelo. Desde o seu nascimento, percorrendo transformações e amadurecimentos, até chegar nos legados e patrimônios. “No princípio do ano de 1940, eu vim dar um concerto em Goiânia. Tinha 12 anos e minha avó fez um programa bem variado onde cantei, toquei, declamei. Foi uma noite que me marcou muito”, expressa a artista, protagonista do filme Belkiss, que será lançado nesta quarta-feira (26) na TV UFG e nos canais do YouTube da TV UFG, da Balacobaco Filmes e da Universidade Federal de Goiás.O documentário dirigido pela cineasta Simone Caetano acompanha a trajetória da vilaboense desde quando a musicista ainda morava na cidade de Goiás com a avó Nhanhá do Couto. Morta em 2005, a artista é apresentada no filme como uma mulher à frente de seu tempo, pianista de mão cheia e grande coordenadora das artes em Goiás. Também mostra como Belkiss tornou-se uma das principais artistas a divulgar a música erudita nacional para outros países e de que forma sua história ainda hoje influencia as atuais gerações.“Já tem um tempo que me interesso por histórias de mulheres goianas que lideraram épocas, que contribuíram de alguma forma para Goiás. Belkiss é o primeiro nome que me veio à mente”, destaca Simone. O lançamento coincide com o Dia Internacional da Igualdade Feminina, fazendo uma nobre relação com a carreira de Belkiss em defesa da música e da educação como fundadora da Orquestra Sinfônica Feminina de Goiás e do Conservatório Goiano de Música, hoje Escola de Música e Artes Cênicas da UFG. “É uma mulher que inspira com uma história de luta pela produção cultural de Goiás”, diz.Com roteiro assinado por Simone Caetano e Fábio Meira - o mesmo diretor de As Duas Irenes (2017) - e produção de Mazé Alves, o filme apresenta entrevistas com pessoas que participaram da vida de Belkiss, a exemplo do filho Bruno Spenzieri e das amigas Maria Luiza Póvoa e Maria Lucy Veiga Teixeira. O documentário também exibe depoimentos de ex-alunos, como Luiz Blumenschein e Érika Vilela. “Foi a primeira professora que tocou pra mim. Nenhuma professora até aí sentou ao piano e tocou uma canção. Foi emocionante. Eu não esqueço nunca”, aponta Blumenschein durante o filme.A vontade de criar uma cinebiografia de Belkiss tomou forma desde os tempos em que Simone fez pós-graduação em Audiovisual. “Queria não só falar sobre Belkiss, mas falar com ela. Acabou que ela faleceu em 2005 e o desejo ficou adormecido até 2018, quando começamos a repensar o documentário”, explica a diretora. O filme, com apoio da Lei Goyazes de Incentivo à Cultura, tem na direção de fotografia, além de Simone, nomes como Larry Sullivan - o mesmo de Kris Bronze (2018) - e Louis de la Selle.MergulhoSimone Caetano e a produtora Mazé Alves mergulharam durante quase um ano em entrevistas que Belkiss concedeu ao longo das últimas décadas para programas de rádio e televisão. No documentário, a protagonista surge por meio de sua voz contando histórias de sua trajetória de quando morava no Rio de Janeiro, da construção do Orquestra Sinfônica Feminina e das apresentações mundo afora. Há ainda imagens de apoio da casa de Belkiss em Goiânia, na Avenida Tocantins, da cidade de Goiás e seus pontos turísticos, como o Mercado Popular e a torre da Igreja do Rosário, e do Rio de Janeiro.A ideia é que o filme se torne nos próximos anos um longa-metragem. “Temos muitos arquivos e foi difícil resumir tudo para caber no formato de curta-metragem, mas a ideia é pegar mais depoimentos de outras pessoas que participaram ativamente da vida e obra de Belkiss”, aponta Simone. A diretora também já desenvolve a pesquisa de seu primeiro longa sobre outra mulher significativa para a história de Goiás: Santa Dica. “São mulheres que participam da nossa história e que nos deixam significados sobre herança, cultura e memória”, destaca Simone.-Imagem (Image_1.2108208)