A história de Francisca Machado Ferreira, a Chica Machado, se tece nas entrelinhas do tempo, onde os livros e registros oficiais falham em capturar toda a sua importância. Mulher negra, escravizada, ela chegou a Goiás por volta de 1750, no povoado de Cocal, região de Niquelândia. Casou-se com um homem branco e letrado, conquistou sua alforria e passou a lutar pela liberdade de seus ‘irmãos’. Sua vida, marcada pela coragem, é retratada no curta documental Chica Machado - Rainha de Goyaz, que será apresentado em pré-estreia nesta quinta-feira (20), às 19h30, no Centro Cultural UFG.O documentário é um desdobramento da pesquisa de doutorado no Programa de Pós-Graduação em Performances Culturais da UFG, conduzida pela diretora Renata Rosa Franco. Durante a produção, a equipe realizou uma série de viagens por diversas cidades goianas, com o intuito de seguir os passos de Chica Machado. Desde sua chegada a Cocal, onde começou a trabalhar nas minas de ouro, até sua última morada em Jaraguá, onde passou seus últimos anos ao lado de um dos filhos, o padre Silvestre, figura ilustre do Estado, que se elegeu deputado por Goiás graças à influência da mãe. Outro filho, Manoel Álvares, também se destacou como sacerdote na região.Chica Machado tem uma história que começa com a dura realidade da escravidão. Segundo outras publicações, ela foi comprada como escrava aos 13 anos por um comerciante português. Ao longo dos anos, a personagem se tornou a mulher mais respeitada e influente do arraial de Cocal. Sua trajetória de luta pela liberdade e pelos direitos dos negros a consolidou como uma líder natural da comunidade. Entre suas conquistas mais significativas, destaca-se a construção da Igreja de Nossa Senhora das Mercês, no norte de Goiás, espaço dedicado à prática religiosa da população negra.Como ela conquistou sua alforria, conseguiu viabilizar essa construção da igreja e se tornou uma senhora de terras a perder de vista? A riqueza de Chica Machado segue sendo um mistério até mesmo para aqueles que transmitem seus feitos. Alguns acreditam que ela teria acumulado uma fortuna por meio do ouro que extraía do garimpo e escondia, usando esses recursos para comprar sua liberdade e a de outros escravizados. Era com esses mesmos recursos que ela libertava mais pessoas, criando um ciclo de gratidão, onde os libertos seguiam trabalhando ao seu lado. A memória de Chica Machado segue viva há quase 300 anos, especialmente no povoado de Cocal, onde o documentário foi gravado. Sua importância vai além dos registros históricos, como observa a diretora Renata Rosa Franco. “O mais interessante de se observar é que, no século 18, a projeção dela era tamanha que seu marido não é retratado pelo nome próprio, mas sim como marido de Chica. Seus filhos, mesmo sendo padres, e figuras influentes locais, são lembrados como filhos da Chica. Ela foi o pilar dessa família e da comunidade da época, mesmo sendo mulher, negra e escravizada”.Com entrada gratuita, a exibição será seguida por um bate-papo com a diretora Renata Rosa Franco, a bailarina Daya Gomes e o fotógrafo e editor Hudson Cândido. Após a pré-estreia, o curta também será exibido no Cine Cultura, no Cineclube Maria Grampinho (integrante do Sertão Negro Ateliê), na Escola de Artes e na Cinemateca do IFG Câmpus Goiânia. As datas e horários serão divulgados nas redes sociais oficiais do filme (@chicamachado_go). A produção conta com recursos da lei federal Lei Paulo Gustavo, operacionalizada pela Secretaria de Estado da Cultura (Secult Goiás). ()ServiçoEvento: Pré-estreia do documentário Chica Machado - Rainha de GoyazData: Quinta-feira (20), às 19h30Local: Centro Cultural UFG / Avenida Universitária, nº1533Entrada gratuita