Rogério Borges

Os amores de Ermira na longínqua Jurubatuba, fazendona dos tempos antigos perdida no meio de chapadões e vales, onde se escondem vinganças e paixões proibidas. As tocaias a onças ferozes que rendem encontros inacreditáveis com a morte na forma de garras e rugidos, numa mistura de contos e outras prosas. As margens dos rios largos e cheios de histórias tão caudalosas quanto aquele que narra com um jeito muito peculiar, repleto de expressões e respeitos ao matuto, ao homem do campo, à sabedoria que as vivências e a natureza dão a essa gente de peles gretadas e imaginários sem limites. Tudo isso está na produção internacionalmente premiada de Carmo Bernardes, um dos maiores nomes da literatura em Goiás, cuja obra completa a Editora UFG começa a publicar a partir de 2026.

“Há cerca de um ano, quando começamos a discutir o projeto da Coleção Biblioteca Goiana e a pensar quais seriam os títulos que deveriam compô-la, olhamos primeiramente para nosso rico catálogo construído ao longo de quase cinco décadas e Carmo foi um dos primeiros nomes consensualmente escolhidos para compor a lista da nova coleção”, conta o professor Marlon Salomon, coordenador de publicações da Editora UFG. Ele se refere a uma iniciativa que busca retomar um perfil que o selo já teve no passado, mas que andava um tanto adormecido. “Com a Biblioteca Goiana, o objetivo da Editora UFG é se transformar na casa da literatura e dos escritos fundamentais da cultura goiana”, afirma Marlon, que apresenta nos próximos dias o primeiro título da coleção.

Dia 12 será lançada a nova edição de Sertão sem Fim, de Bariani Ortencio, marcando essa retomada na ficção da principal editora universitária goiana. Outros títulos estão sendo trabalhados para os próximos meses. São obras de caráter acadêmico, algumas já do catálogo da editora, de professores de renome em suas áreas. São eles A Teoria da História de Jörn Rüsen: Uma Introdução, de Arthur Assis; Lima Barreto: Um Pensador Social da Primeira República, de Maria Cristina Teixeira Machado; Michel Foucault e as Idades do Homem, de José Ternes; O Regionalismo de Hugo de Carvalho Ramos, de Albertina Vicentini; Goiânia e o Art Déco, de Isabel Rodrigues; e Ciência do Vinho: Noções Básicas de Enologia para Curiosos Enófilos, de Eric Gil.

Já a Coleção Biblioteca Goiana contempla obras de ficção e o resgate do legado de Carmo Bernardes tem uma importância especial. Homem que sabia unir erudição e cultura popular, ganhador do Prêmio Casa das Américas, em Cuba, e que teve também grande presença na imprensa e na TV, Carmo foi um homem de múltiplos talentos e de uma prosa fascinante. É mesmo inconcebível imaginar que uma obra tão relevante não estivesse à disposição dos leitores. “Estamos trabalhando para que os dois primeiros volumes das Obras Completas de Carmo Bernardes saiam em 2026, quando se completam 30 anos de seu falecimento”, informa Marlon. “O primeiro livro deve ser Nunila, originalmente publicado em 1984, um dos grandes romances de Carmo”, aponta. Avaliação corroborada pela família.

Para que as Obras Completas de Carmo Bernardes pudessem voltar sob o selo da Editora UFG, houve um período de negociação com os herdeiros do autor. “Por intermédio do desembargador, historiador, poeta e crítico Itaney Campos, nosso conselheiro, começamos as tratativas com a filha de Carmo, Ana Maria do Carmo, para a reedição desses títulos no interior da Biblioteca Goiana”, descreve Marlon. Mas ele logo se deu conta que todos os títulos de Carmo não só estavam esgotados, como não tinham previsão de reedição. Foi quando houve a sugestão de que a editora, com a autorização de Ana Maria do Carmo, publicasse as obras completas do escritor. “São 18 livros publicados por nosso autor, entre contos, romances, crônicas, ensaios, memórias e verbetes”, lista Marlon Salomon.

A UFG havia editado Quarto Crescente, em 1984, Pepetinha, em 1986, Santa Rita, em 1995, e A Ressurreição de um Caçador de Gatos: Contos e Outras Prosas, em 1997 - este ganhou uma reedição em 2013 pelo selo universitário. “O último livro de Carmo foi publicado em 2005. Trata-se da edição póstuma de Xambioá, feita pela Agepel. Depois disso, houve uma ou outra reedição e com a reedição de A Ressurreição de um Caçador de Gatos, em 2013, nada mais foi publicado. É surpreendente verificar que as obras de um dos maiores prosistas em língua portuguesa do último terço do século 20 tenham sido simplesmente abandonadas à própria sorte”, lamenta Marlon. “Essa publicação tem importância estratégica literária, cultural, política e institucional”, salienta o professor.

“As novas gerações terão acesso a uma parte constitutiva de nossa história e cultura e que hoje é praticamente inacessível. Queremos encontrar parceiros que nos ajudem a levar esses livros a todas as escolas públicas de Goiás e, com isso, contribuir para que nossos alunos tenham acesso e leiam sua própria literatura”, enfatiza Marlon. “As narrativas de Carmo preservam modos de falar, costumes, práticas culturais e experiências sociais ligadas ao campo e às margens urbanas. Editar suas obras é também um gesto voltado à defesa do patrimônio imaterial, assegurando às novas gerações o contato com esse universo. Ele deu voz às camadas populares, denunciou injustiças e criticou a violência. A edição completa reforça a atualidade de suas reflexões sobre terra, poder e desigualdade.”

O tratamento planejado para todos os títulos da Coleção Biblioteca Goiana inclui várias contextualizações para cada obra, a exemplo do que já aconteceu com Sertão sem Fim, de Bariani Ortencio. “Pretendemos contar com especialistas que contribuam com a preparação dos volumes por meio de textos críticos que devem figurar como apensos a cada um dos livros, de modo a contribuir com o esclarecimento dos leitores sobre a situação histórica e estética de cada um dos volumes”, assegura o professor. “A edição ajudará a consolidar Carmo como autor amplamente reconhecido da literatura brasileira, que é seu lugar de direito, inserindo-o de modo mais forte nos estudos acadêmicos. Isso permitirá que sua obra seja estudada em cursos de literatura brasileira, história cultural e sociologia da literatura.”

Outro ganho expressivo da edição das obras completas de Carmo Bernardes será a reunião de textos esparsos ou de livros que ele mesmo bancou, com tiragens modestas e sem a merecida distribuição. Eles ficaram quase invisíveis para o grande público. Além disso, vêm mais surpresas por aí. “Há pelo menos dois inéditos de Carmo, um deles reunindo textos avulsos que foram publicados em jornais. São livros fundamentais que não poderão ficar de fora desse projeto editorial”, promete Marlon. A editora tem feito esforços para que outros gigantes de nossa literatura também estejam na Biblioteca Goiana. “Leodegária de Jesus precisa ser reeditada urgentemente. Bernardo Élis não é editado há cerca de uma década”, frisa Marlon. Seria Élis o próximo a figurar sob o selo da UFG?

Contos do sertão

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Bariani Ortencio: livro Sertão sem Fim será lançado dia 12 pela Editora UFG (Laila Santoro/Divulgação)

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Uma edição caprichada para um volume de contos que merece realmente todo esse carinho em razão de sua importância. Sertão sem Fim, de Bariani Ortencio, que será relançado no dia 12, às 18h30, no instituto criado na antiga residência do autor, na Rua 82, Setor Sul, é o principal trabalho de ficção do escritor nascido no interior paulista, mas que fez de Goiás sua terra pelas mais de oito décadas que viveu em Goiânia, onde chegou quando a cidade estava nascendo. Essa nova edição, a 4ª da obra, inaugura a Coleção Biblioteca Goiana, da Editora UFG, com tratamento esmerado, excelente projeto gráfico, fortuna crítica e o resgate de dedicatórias e prefácios antigos. Os professores Rogério Santana, Vera Tietzmann, Adolfo Casais e Aparecida Gavioli assinam textos nessa edição.

“Certamente, a perda de Bariani reacendeu o interesse por sua obra e chamou atenção para a importância do seu legado”, pondera Marlon Salomon, da Editora UFG. “A reedição de Sertão sem Fim que, como todos sabemos, é não só um dos livros mais importantes de Bariani Ortencio, mas um dos mais representativos da literatura produzida no Estado de Goiás, nos pareceu um excelente início, que marca essa espécie de renascimento da Editora UFG e o esforço para que as atividades da universidade dialoguem cada vez mais de perto com a sociedade”, argumenta. O volume conta com ilustrações de Bruno de Abreu Mendonça, funcionário do Cegraf UFG, e a capa e o projeto gráfico são assinados pela designer Ana Laura Campos, que mora na Alemanha e tem trabalhos na Europa.

No caso de Sertão sem Fim, houve uma compra prévia de mil exemplares por parte da Secretaria Estadual de Educação (seduc), que vai distribuir o livro no âmbito do projeto Ciranda da Arte. “O trabalho com Sertão sem Fim será articulado a práticas de leitura literária e de pesquisa cultural, para que estudantes e professores possam refletir sobre identidade, território e memória goiana”, anuncia a professora Luz Marina, gerente de Arte e Educação da Seduc Goiás. “A proposta é que a obra não seja vista apenas como conteúdo, mas como experiência estética e de pertencimento. O texto poderá se desdobrar em outras linguagens artísticas, como teatro, música, artes visuais e até produções audiovisuais, de modo a promover a interdisciplinaridade, que é marca do trabalho pedagógico da Seduc.”

Luz Marina explica a decisão de levar a obra de Bariani Ortencio aos estudantes da rede estadual. “Sertão sem Fim foi escolhido justamente por trazer em sua essência o registro da identidade cultural goiana. É uma obra que fala dos costumes, da oralidade, do território e das memórias regionais, valores fundamentais para o fortalecimento da educação e da cultura”, diz. “Esse olhar está em sintonia com a proposta multidisciplinar que a Seduc promove por meio da Gerência de Arte e Educação e com o suporte pedagógico do Ciranda da Arte, onde diferentes linguagens artísticas se complementam e se fortalecem na formação dos estudantes.” Segundo a coordenadora, outras obras do escritor, que tanto buscou pesquisar nossas tradições, serão utilizadas nas escolas.

“O projeto prevê um percurso bibliográfico que contempla obras essenciais de Bariani Ortencio. Além de Sertão sem Fim, estão incluídas as produções Ciclo do Sertão – O Rio e a Terra, A Força da Terra e também o Dicionário do Brasil Central, que é um registro único da cultura popular brasileira. Para 2026, a secretaria já definiu que a Cartilha do Folclore Brasileiro será o eixo temático central do Concurso Literário Bariani Ortencio, aprofundando o diálogo entre literatura, memória e práticas pedagógicas nas escolas”, anuncia. “Quando é mediada de forma criativa, a obra deixa de ser uma obrigação escolar e se transforma em oportunidade de expressão, em diálogo com outras linguagens, inclusive digitais. Assim, os livros de Bariani tornam-se pontes entre a tradição e a contemporaneidade”, acrescenta.

“A Secretaria de Educação se tornou parceira da Editora UFG na reedição desse livro exatamente no momento em que decidíamos qual seria o primeiro título a ser lançado na nova Coleção Biblioteca Goiana”, relata o professor Marlon Salomon. “Foi uma feliz coincidência. O Concurso Literário Bariani Ortencio, promovido pela Seduc junto às escolas e as ações de arte-educação desenvolvidas pelo projeto Ciranda da Arte foram aliados importantes nesse projeto. Justamente pelo caráter da iniciativa, sua preocupação em oferecer aos estudantes experiências estéticas mais sofisticadas, foi possível, graças à nova orientação editorial que estamos buscando para a Editora UFG, elaborar um projeto mais arrojado para o livro”, complementa.

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Editora em nova fase 
O lançamento de Sertão Sem Fim, de Bariani Ortencio, a previsão da reedição de obras acadêmicas de referência de professores universitários e o anúncio da publicação das obras completas de Carmo Bernardes compõem um conjunto que demonstra o quanto a Editora UFG está se movimentando atualmente. “A Universidade Federal de Goiás, por meio da Editora UFG, decidiu assumir essa importante responsabilidade histórica diante da sociedade goiana e organizar uma coleção que tenha por objetivo valorizar a produção intelectual e literária do nosso Estado, recolocando em circulação obras de autores(as) que ajudaram a moldar e a pensar a identidade cultural brasileira”, afirma Wilson José Flores Jr., diretor da Editora UFG. O selo, assim, cumpre um papel estratégico.

“Foi um pouco a partir das discussões que nos levaram a esse diagnóstico que surgiu o projeto da Coleção Biblioteca Goiana. Pretendemos transformar essa Coleção em uma referência nacional, constituindo uma espécie de acervo indispensável para compreender nossa história, a nossa cultura e sua inserção no cenário nacional. Nesse sentido, a UFG reafirma sua posição de instituição fundamental na difusão, na produção, na valorização e na preservação daquilo que de melhor é produzido em Goiás”, explica Wilson. “Ao mesmo tempo, pretendemos que a editora seja a grande vitrine e uma espécie de representação diplomática dessa literatura, projetando-a nos quatro cantos do país e também, por que não, no exterior”, avalia o diretor.

“Nosso patrimônio literário encontra-se hoje disperso e muitas vezes inacessível. Pense em um grande autor ou em uma grande autora e corra para a melhor livraria que você conhece para comprar um livro de sua autoria. Você não o encontrará”, constata Marlon Salomon, coordenador de publicações do selo universitário. “Agora, pense sobre as consequências disso do ponto de vista educacional, da formação de novos(as) leitores(as) e da renovação de nossa cultura. É um problema grave que precisa ser enfrentado.” Por isso, uma nova rota foi traçada. “Com a autonomia que foi dada à atual direção da Editora UFG, foi possível implementar uma visão mais arrojada e moderna para os livros que produzimos. No caso da Biblioteca Goiana, foi desenvolvida uma concepção gráfica que dará identidade às obras.”

Segundo Marlon, essa nova diretiva será uma constante. “O mesmo está sendo pensado para os demais lançamentos e relançamentos. Entendemos que esse também é o papel de uma editora: aliar o conteúdo à forma e não apenas inundar o mercado e as prateleiras das livrarias com um material desprovido de qualquer atratividade e às vezes até esteticamente duvidoso”, defende. “A Editora UFG quer ser vista, quer chamar a atenção para aquilo que ela produz, isto é, seus livros e, com isso, colocar ainda mais em evidência a arte, a literatura, a ciência e o pensamento produzidos em Goiás. Há um enorme potencial dentro da própria UFG, que forma designers e artistas com grande habilidade para realizar esse objetivo. Estamos trabalhando com outros artistas que possam contribuir com essa visão.”

A Coleção Biblioteca Goiana é a joia da coroa nessa nova fase. “Não queremos lançar livros isolados, mas reunir o que se encontra disperso, aproximar o que o tempo separou, tornar possível que leitores recorrentes, mas também novos leitores, tenham acesso a esse patrimônio”, sublinha Marlon. “Propusemos uma estética que se afastasse das capas ilustrativas ou figurativas. Abandonamos soluções gráficas óbvias buscando fazer com que o projeto gráfico participe da experiência da obra. Há a tentativa de reposicionar a coleção como atual, viva e relevante.” Os livros, incluindo o lançamento de Sertão Sem Fim, de Bariani Ortencio, poderão ser encontrados na loja virtual da UFG (https://loja.editora.ufg.br) e também na Livraria Palavrear, no Setor Universitário.

 
Perfis

Carmo Bernardes (1915-1996) – Mineiro de Patos de Minas, Carmo foi um ouvinte atento das tradições do interior e um grande mediador entre a sabedoria popular e a cultura erudita. Foi pedreiro, pintor, jornalista, mas sobretudo um autor preocupado em traduzir os sertões não com a finalidade de fazê-los parecer exóticos ou curiosos, mas para preservar suas riquezas. Era grande conhecedor de tradições, de causos e foi fiel às suas ideias de igualdade, sendo perseguido na ditadura. Destacou-se como romancista e contista.

Bariani Ortencio (1923-2023) – Nascido em Igarapava, perto da fronteira entre São Paulo e Minas Gerais, o autor veio para Goiânia quando tinha 15 anos de idade e a cidade, apenas 5 anos de fundação. Instalou-se em Campinas com a família e exerceu diversas funções, de goleiro do Atlético Goianiense, a professor de matemática e dono de uma prestigiada loja de discos. Mas foi como escritor e pesquisador de nossas tradições folclóricas que Bariani se destacou e marcou seu nome, sempre incentivando nossas manifestações culturais.

Editora UFG lançará a obra completa de Carmo Bernardes

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Carmo vem aí!

Os pais de Marcus Phelipe de Souza Almeida, de 27 anos, anunciaram que vão recorrer do <a href="http://opopular.com.br/cidades/mp-arquiva-inquerito-sobre-morte-de-mecanico-em-abordagem-policial-1.3310897" target="_blank">arquivamento do inquérito</a> pelo Ministério Público do Estado de Goiás (MP-GO), que investigou a morte do mecânico. Ele foi <a href="http://opopular.com.br/cidades/pm-e-indiciado-por-morte-de-mecanico-que-fugiu-de-blitz-1.3289127" target="_blank">baleado por um policial militar</a> durante perseguição após tentativa de fuga de uma blitz da Balada Responsável, no Jardim Itaipu, região sudoeste de Goiânia. A família alega que houve falhas na investigação e cobram justiça no caso.&nbsp;

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O arquivamento pelo MP-GO ocorreu na terça-feira (9). O terceiro sargento Fellipe Mecenas de Oliveira Lima, de 35 anos chegou a ser indiciado pela Polícia Civil. Entretanto, para a promotora Elissa Tatiana Pryjmak, da 29ª Promotoria de Justiça da comarca de Goiânia, não houve elementos suficientes para afirmar que o policial militar de fato cometeu um crime.

Segundo a confeiteira Janaina Fabiana de Souza Almeida e o motorista profissional Paulo Henrique da Paixão Melo, pais de Marcus Phelipe, a família vai entrar com recurso contra o arquivamento. Eles pedem justiça pela morte do filho. A mãe ainda reforça que é incontestável a informação de que não houve troca de tiros entre Marcus Phelipe e os PMs investigados e de que não há elementos suficientes para condenação.

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Janaina Almeida, mãe; Paulo Melo, padrasto, e Wellington Souza, pai: família de jovem morto ao tentar escapar de blitz espera justiça ( Wesley Costa / O Popular)

O delegado Marcus Vinícius Cardoso do Nascimento, adjunto da Delegacia Especializada em Investigação de Homicídios (DIH), afirmou que, no relatório final do inquérito policial, divulgado em 4 de julho, não havia evidências claras de troca de tiros. Isso, aliado ao fato de não ficar comprovado que a vítima estava armada e tenha realizado disparos, eliminaria a possibilidade de legítima defesa por parte do PM, e também não se poderia falar em estrito cumprimento do dever legal (art. 23, III, do Código Penal), já que a resposta armada do agente não se mostrou proporcional ou necessária para conter uma suposta tentativa de fuga.&nbsp;

<div class="p-readmore-box"><a href="https://opopular.com.br/cidades/pm-e-indiciado-por-morte-de-mecanico-que-fugiu-de-blitz-1.3289127" target="_blank">PM é indiciado por morte de mecânico que fugiu de blitz</a> 
<a href="https://opopular.com.br/cidades/morto-em-blitz-em-goiania-estava-sem-arma-diz-m-e-de-motorista-1.3111421" target="_blank">Morto em blitz em Goiânia estava sem arma, diz mãe de motorista</a> 
<a href="https://opopular.com.br/cidades/mp-arquiva-inquerito-sobre-morte-de-mecanico-em-abordagem-policial-1.3310897" style="font-size: 12px;" target="_blank">MP arquiva inquérito sobre morte de mecânico em abordagem policial</a></div>

Os advogados responsáveis pelo caso, Lucas Rocha Andrade e Marcelo Braz, citam que já deram início à organização da peça recursal, afirmam ainda que recorrerão da decisão, que se encontra ainda dentro do prazo, de cinco dias úteis, e que uma minuciosa análise processual está sendo feita para não deixar nenhum detalhe passar. Em nota ao POPULAR, os advogados afirmaram que a decisão do juiz de Direito da 1ª Vara Criminal dos crimes dolosos contra a vida e Tribunal do Júri, Eduardo Pio Mascarenhas da Silva, veio de forma muito rápida. A petição do arquivamento foi protocolada às 15h21 da terça-feira (9) pela promotora e foi respondida no mesmo dia pelo juiz, às 17h13.

“Foi uma decisão rápida e que deixou de apreciar inúmeras questões, inúmeros indícios de autoria e materialidade que são provas incontestes e que refutam a ideia dos policiais militares de que foi uma troca de tiro. Uma das justificativas é de que houve demora na realização da perícia. No entanto, existe um depoimento no inquérito policial que diz que não foi realizada a perícia de pronto porque os policiais falaram que não havia vítimas no local e o delegado simplesmente acatou e não deu início aos trâmites periciais”, citam os advogados.

Lucas diz que outra questão é que a defesa dos agentes tenta pintar um contexto de injusta agressão. No entanto, diz ele, está evidente que os amigos estavam em fuga da blitz e que não atacaram a guarnição nem agiram de forma violenta contra ela, mas somente queriam escapar da fiscalização por estarem sem carteira de habilitação. “Outro fator, extremamente essencial, é que, se eles estavam agindo de forma agressiva com a guarnição da polícia, o objetivo dos agentes tinha de ser agir simplesmente para cessar essa injusta agressão”, argumenta. “São policiais que recebem inúmeros treinamentos. Poderiam atirar no pneu para cessar a fuga em vez de atirar em direção à cabeça de alguém”, diz Lucas, completando que foram dois tiros. “Um no ombro, que já seria suficiente para cessar uma suposta injusta agressão. Mas continuaram, a ponto de acertar a cabeça de Marcus Phelipe.”

Os pais contam que, após a morte do mecânico, policiais começaram a oprimi-los praticamente dentro da própria casa e que tiveram de se mudar de Goiânia. “Eles nos vigiavam 24 horas por dia, ficavam tirando fotos, filmando, mas não se comunicavam conosco. Horas depois de enterrar o meu filho, eles estavam na porta da minha casa.”

O POPULAR entrou em contato com a Polícia Militar do Estado de Goiás (PM-GO), que, em nota, disse que o caso está “sob a égide do Poder Judiciário”. “A corporação segue acompanhando os desdobramentos do caso concreto e atendendo a todas as determinações emanadas das autoridades competentes”, diz o texto.

(Laysa Milograma é estagiária do grupo GJC em convênio com a UniAlfa)

Pais de jovem morto em blitz vão recorrer de arquivamento pelo MP-GO

Cidades

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Inquérito

A Diretoria de Vigilância em Zoonoses (DVZoonoses) da Secretaria Municipal de Saúde (SMS) de Goiânia confirmou, nesta quinta-feira (11), o primeiro caso registrado neste ano de febre amarela em macacos. O animal, da espécie Alouatta caraya, popularmente conhecido como guariba ou bugio, foi encontrado morto na última terça-feira (9), no Residencial Forteville, localizado no Distrito Sanitário Sudoeste. Outro caso na capital, ocorrido no Zoológico de Goiânia, ainda está em investigação.

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A febre amarela é uma doença infecciosa febril aguda. Pode causar, além da elevação da temperatura corporal, também mal-estar, dores no corpo e, em casos graves, icterícia e hemorragias, com risco de morte. Ela pode evoluir de forma abrupta e com gravidade variável, podendo apresentar alta letalidade nas formas mais graves. Os macacos não transmitem a febre amarela. Assim como os seres humanos, eles também adoecem. A transmissão ocorre por meio da picada de mosquitos infectados pelo vírus. A doença pode ser prevenida por meio da vacinação. A primeira dose é recomendada aos 9 meses de idade, com reforço aos 4 anos.

A confirmação do caso em Goiânia mobilizou as autoridades. Conforme alerta epidemiológico da SMS, a morte do macaco por febre amarela “coloca o serviço de vigilância em alerta sobre o risco de ocorrência de casos humanos”, o que ressalta “a importância daqueles que tenham dúvidas quanto a sua situação vacinal procurarem as unidades de saúde para avaliação da necessidade de vacinação”.

No mesmo dia em que o animal foi encontrado e recolhido, foi realizada a necropsia e a coleta de amostras por veterinários. Em seguida, o material foi encaminhado ao Laboratório Central de Saúde Pública Dr. Giovanni Cysneiros (Lacen-GO), onde o resultado positivo foi confirmado nesta quinta. Em Goiânia, as últimas epizootias — termo que define a ocorrência de doenças contagiosas em animais de uma mesma região e período — ocorreram entre setembro de 2020 e fevereiro de 2021, com 11 epizootias positivas dentre as 48 investigadas, distribuídas em nove áreas diferentes.

<div class="p-readmore-box"><a href="https://opopular.com.br/cidades/febre-amarela-veja-quem-deve-se-vacinar-e-locais-1.3309768" target="_blank">Febre amarela: Veja quem deve se vacinar e locais</a> 
<a href="https://opopular.com.br/cidades/governo-federal-anuncia-campanha-de-vacinac-o-nas-escolas-publicas-1.3251470" target="_blank">Governo federal anuncia campanha de vacinação nas escolas públicas</a> 
<a href="https://opopular.com.br/cidades/vacinac-o-contra-febre-amarela-esta-abaixo-do-esperado-para-menores-de-1-ano-diz-ses-1.3242056" target="_blank">Vacinação contra febre amarela está abaixo do esperado para menores de 1 ano, diz SES</a></div>

Goiás

Em Goiás, já foram registrados quatro casos do tipo. De acordo com a Secretaria de Estado da Saúde de Goiás (SES-GO), dois ocorreram em Abadia de Goiás, um em Goiânia e um em Guapó. Um caso suspeito em Aragoiânia foi descartado.

Segundo a pasta, durante o ano de 2024, foram analisadas 58 amostras de macacos mortos para detecção de febre amarela em todo o Estado, sendo todas descartadas. Em 2025, até o momento, foram notificadas 37 mortes de primatas. Dessas, 33 amostras foram coletadas para diagnóstico.

Em nota, a SES-GO orientou que, ao encontrar um macaco morto, a população informe imediatamente a secretaria municipal de Saúde de seu município. Também é possível notificar as autoridades por meio do aplicativo Siss-Geo. Ao se deparar com macacos mortos ou doentes (caídos no chão), recomenda-se tirar uma foto e enviá-la pelo aplicativo. Em Goiânia, a Vigilância em Zoonoses pode ser acionada pelo número (62) 99152-2545 (mensagem via WhatsApp).

Goiânia tem 1º caso de febre amarela em macacos

Saúde

O Tribunal de Contas dos Municípios do Estado de Goiás (TCM-GO) determinou que a Secretaria Municipal de Políticas para as Mulheres, Assistência Social e Direitos Humanos (Semasdh) anule o contrato de R$ 2,57 milhões com a Diginotas Documentos Eletrônicos, de Goiânia, assinado em julho do ano passado, por irregularidades encontradas na forma como foi justificado o procedimento. A empresa foi contratada sem licitação, por meio de adesão a uma ata de registro de preço, a chamada “carona” em licitação.

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Em agosto, O POPULAR revelou que o contrato foi suspenso de forma cautelar pelo TCM-GO, já dentro do processo de investigação que culminou com o pedido atual de anulação, e não chegou a ser executado.

A gestão do prefeito Rogério Cruz (SD) fez uma série de contratações de empresas para digitalizar arquivos físicos das secretárias e outros órgãos municipais, sempre por adesão a ata, uma prática prevista em lei, mas que foi alvo de críticas por parte de órgãos fiscalizadores por falta de critérios na adoção e no volume em que era praticada. Em abril deste ano, O POPULAR mostrou que havia pelo menos oito contratos que somavam R$ 131 milhões para serviços de tecnologia e informatização do sistema interno da Prefeitura, sendo três renovados pela atual administração. A Diginotas tem um contrato com a Guarda Civil Metropolitana (GCM).

Após análise por uma equipe técnica, o TCM-GO concluiu que a pasta da área social da Prefeitura, que na época tinha outro nome – Secretaria Municipal de Desenvolvimento Humano e Social (Sedhs) –, não demonstrou a necessidade administrativa do serviço de forma que justificasse a contratação. Faltou detalhar, por exemplo, a quantidade exata de documentos por unidade, a média histórica de produção documental, a capacidade de armazenamento comparada à demanda ou a memória de cálculo usada para chegar aos quantitativos propostos. Também não teria sido comprovada a economicidade via comparativos financeiros.

<div class="p-readmore-box"><a href="https://opopular.com.br/cidades/tcm-manda-suspender-contrato-de-r-167-milh-es-da-prefeitura-de-goiania-1.3310414" target="_blank">TCM manda suspender contrato de R$ 167 milhões da Prefeitura de Goiânia</a> 
<a href="https://opopular.com.br/cidades/para-justica-compra-de-livros-de-r-1-2-mil-n-o-teve-ilegalidade-1.3309123" target="_blank">Para Justiça, compra de livros de R$ 1,2 mil não teve ilegalidade</a> 
<a href="https://opopular.com.br/cidades/terceirizac-o-em-goiania-chega-a-assistencia-social-1.3309107" target="_blank">Terceirização em Goiânia chega à assistência social</a></div>

O tribunal considerou que foram encontradas cláusulas editalícias e contratuais contraditórias (como vigência e contratação), “tendo em vista que as divergências verificadas não são simples erros formais”. Por fim, afirma que faltou um parecer técnico prévio obrigatório, que deveria ter sido emitido antes da contratação pela Secretaria Municipal de Inovação, Ciência e Tecnologia (Sictec), pasta existente na época e responsável pelo gerenciamento da parte tecnológica do sistema interno do Paço Municipal. Dois pontos da denúncia que deu origem à investigação não prosperaram: ausência de autorização do órgão que fez a licitação e contratação fora do prazo legal.

O TCM-GO também pede à Semasdh que esteja atenta aos apontamentos desse processo em caso de abertura de uma nova contratação para fornecimento de solução tecnológica para suporte à transformação digital dos serviços públicos, baseada em automação de processos e gestão da informação.

Respostas

Em nota, a Semasdh afirma que o contrato foi firmado pela gestão anterior e não resultou nenhuma despesa, pois foi suspenso cautelarmente pelo TCM-GO em agosto de 2024. “A atual gestão da Semasdh, seguindo as recomendações do TCM-GO, não aditivou o contrato e informa que não possui nenhum contrato de objeto similar, e cumprirá integralmente a decisão do TCM-GO assim que for notificada”, informou.

Procurada pelo jornal, a Diginotas preferiu não se manifestar. Na época em que o contrato foi suspenso liminarmente, o empresário Roberto França Abrão e Silva afirmou que a empresa estava há mais de duas décadas o mercado, com experiência em diversos órgãos públicos em Goiás e no Brasil e que, no caso do contrato com a Sedhs, seguiu todos os procedimentos legais para firmar a contratação. Também destacou que a empresa nunca se envolveu em vieses políticos partidários, agindo com profissionalismo reconhecido pelos contratantes.

TCM manda anular contrato sem licitação de R$ 2,57 milhões de gestão anterior de Goiânia

Gastos públicos

A Companhia de Saneamento A Companhia de Saneamento de Goiás (Saneago) promove uma obra de esgotamento sanitário no Córrego Abel Basílio, no Bairro Santo Hilário, região leste da capital, há ao menos um mês e meio, e deve concluir até o fim do ano. Ao mesmo tempo, a Prefeitura de Goiânia planeja dar início ao plano de recuperação de área degradada (Prad) do córrego no próximo ano, com a conclusão do processo licitatório para contratação de empresa especializada neste serviço. A medida atende decisão judicial dada em meio a um processo movido há mais de duas décadas pelo Ministério Público do Estado de Goiás (MP-GO) e deve ter custo de R$ 3,2 milhões aos cofres públicos.

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O repórter fotográfico do POPULAR Wesley Costa registrou no dia 31 de julho a intervenção em andamento no córrego, nas proximidades da ponte na Rua Abel Rodrigues. Sem placas indicativas do responsável da obra, à época, a Secretaria Municipal de Infraestrutura Urbana (Seinfra) justificou que ela seria feita por particulares. Já nesta quinta-feira (11), a reportagem esteve novamente no local e observou poucas mudanças desde então. Conforme a Agência Municipal de Meio Ambiente (Amma), a obra conduzida pela Saneago chegou a ser paralisada por falta de licença ambiental, mas a empresa disse que conta com licenciamento concedido pela Secretaria de Estado do Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável (Semad).

A Saneago explica que a intervenção é feita para “estabilização dos taludes de uma pequena faixa do córrego, para a construção de uma travessia aérea do interceptor Ladeira (grande tubulação que leva esgoto para estação de tratamento), para prevenir processos erosivos e garantir a durabilidade da estrutura, a qual dará funcionalidade às redes de esgoto previstas no Setor Recanto das Minas Gerais e região”. Feita por uma empresa contratada pela Saneago, a obra ainda se encontra inacabada e o POPULAR não localizou trabalhadores no local na tarde desta quinta. A companhia diz que foi finalizada a estabilização dos taludes e as próximas etapas contam com a fundação, superestrutura de pilares e montagem da tubulação em aço. A previsão é de até três meses para conclusão. A Saneago também deve ser responsável pela recomposição florística do trecho, conforme acordo junto à Amma.

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Ao mesmo tempo em que a intervenção ocorre no curso hídrico que deságua no Córrego Ladeira e, logo acima, no Rio Meia Ponte, o prefeito Sandro Mabel (UB) autorizou, em despacho publicado no Diário Oficial do Município (DOM) de segunda-feira (8), uma autorização de crédito suplementar no valor de R$ 3.186.738,69 à Amma. A medida foi justificada sobre “a necessidade de viabilizar a contratação de empresa para obra de execução” do Prad do Córrego Abel Basílio, em cumprimento à sentença dada em meio ao processo que corre desde 2002. Em nota, a agência diz que o plano “já está em fase de publicação do edital de licitação”, que deve ocorrer “em breve”. “Transcorrendo normalmente, o prazo para o processo licitatório é de 90 a 120 dias”, descreve.

No ano em que marca o início do processo para a recuperação ambiental da área de preservação permanente (APP) de 1,8 quilômetro (km) do córrego, além de 650 metros de sua vertente, foi firmado um termo de ajustamento de conduta (TAC) entre o MP-GO e a Prefeitura para medidas como recuperação da área degradada com a contenção de processos erosivos, recuperação do solo degradado e estabilização do leito do córrego, reflorestamento da área com espécies nativas, além da remoção de famílias. Foi somente em 2019 que a Amma apresentou o Prad constando as irregularidades e suas respectivas soluções.

Entre as irregularidades, foi identificada a ausência de vegetação nativa e presença de plantas exóticas nas margens do curso hídrico; descarte de resíduos e entulho; processos erosivos; assoreamento; presença de edificações; e até mesmo lançamento de esgoto em área de nascente. Na última movimentação do processo, houve decisão pela prorrogação do prazo solicitado pelo Paço, com mais seis meses para comprovar a conclusão da licitação para a realização de obras de engenharia, cronograma, além da atualização do Prad, com datas de início e fim.

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