No episódio que foi ao ar na terça-feira (15), de Sob Pressão, após uma rotina pesada de trabalho no hospital, Carolina (Marjorie Estiano) e Evandro (Julio Andrade) conseguiram ter prazer sozinhos. Mas como tudo pode mudar de uma hora pra outra na vida do casal, em um momento íntimo durante o banho, a médica percebe uma alteração na mama e suspeita que pode ser algo mais grave. Em um primeiro instante, Carolina evita dividir a preocupação com o parceiro e decide ir atrás do seu colega de faculdade, Daniel (Emilio Dantas), capaz de ajudá-la no tratamento, o que impacta ainda mais o casamento com Evandro. 
 
Como você descreve o momento de Carolina na quinta temporada, levando em consideração o câncer de mama?

Carolina talvez se encontre no auge de uma etapa da vida, bem consigo mesma, inteira, desfrutando da maternidade, mais madura e praticando o novo sentido que a família trouxe pra ela, colocando todo dia um tijolinho na construção desse conceito. A descoberta de um câncer nunca vem em boa hora, não existe momento mais ou menos adequado para se enfrentar uma questão como essa, mas nesse período da vida surpreende muito, desorganiza todas os planos e idealizações. Com a chegada do Francisco, o futuro é um projeto concreto. O tempo, nesse momento da vida, é para ser um parceiro fiel ao seu lado e não o contrário. Carolina vai viver o medo da morte, a negação, a aceitação, a luta dura contra uma doença e todos os efeitos psicológicos e físicos, profissionais e pessoais desse atravessamento. O medo da mudança, essa inversão de papéis (se ver como paciente), medo de tudo. De repente, tudo muda. É um chamado e Carolina passa por essa trajetória vivendo todas as etapas e a transformação que um diagnóstico como esse oferece a alguém.

&nbsp;

E a relação dela com Daniel? 

Daniel é daquelas figuras na nossa vida, em que a gente olha pra trás e pensa “Onde eu estaria hoje se não tivesse encontrado com ele? Quem seria eu?”. Daquelas pessoas que “naturalmente”, “acaso” ou “destino” vão apresentando uma direção, uma perspectiva na qual você se inspira. E que não necessariamente vai ter uma continuidade ou presença na sua vida no futuro, mas que fez total diferença naquele período. Talvez sem muita consciência dos desdobramentos no momento em que o encontro se deu, mas, lá na frente, você entende quão fundamental foi pra quem você se tornou hoje ter seu caminho cruzado pelo dele. Daniel é amigo pra vida toda.

&nbsp;

De que forma a doença e a chegada desse antigo “amor” interfere no casamento com Evandro?

É o câncer o motor das mudanças, ele mexe com tudo, e uma das principais perguntas que vem junto com ele é: “O que eu fiz com o meu tempo até hoje?”, “Se eu for morrer agora, valeu a pena?”. A ameaça do câncer reestabelece a importância do tempo em muitos sentidos, em especial do tempo no presente. As escolhas na vida passam a ter critérios diferentes. Reflexões muito profundas sobre como quero viver, o que tem realmente valor na minha vida, o que é prioridade, se tornam urgentes e novos balizadores. Questionamentos que propõem uma nova chance, uma vida nova, tenha ela o tempo que tiver.

&nbsp;

Câncer de mama é um tema de extrema importância. Como é pra você poder dar vida a uma personagem com essa doença e, consequentemente, poder alertar as mulheres sobre os cuidados e tratamento?

Muito especial estudar esse tema. No mundo, é o câncer de maior incidência entre as mulheres. E conhecer mais intimamente esse assunto é um aprendizado que vou desfrutar também de forma muito prática e concreta na minha vida. É verdade que sempre desfruto de muito aprendizado com Sob Pressão, mas quando o ponto é especialmente feminino, me sinto muito identificada. Qualquer uma de nós pode passar por um câncer de mama, diretamente ou por intermédio de amigos, conhecidos, familiares. E mesmo que isso não aconteça, poder promover saúde é um dos lugares mais prazerosos e gratificantes que vivo junto da série. Pude conhecer histórias lindas, mulheres incríveis, inspirações pra minha vida. Médicas, pacientes, voluntárias. Até por ser uma realidade de muitas mulheres e famílias, a quantidade de histórias compartilhadas preenche muito. Pacientes de faixa etária distinta, de classe social diferente, em fases diferentes na relação com a doença, com o tratamento, recém-diagnosticadas, metastáticas, um compartilhamento muito bonito e generoso. Acho que, na minha vida, foi onde eu vi mais claramente o sentido de palavras como solidariedade, empatia, sororidade e companheirismo. E até minha perspectiva sobre as redes socias se ampliou, percebi como ela pode se tornar um instrumento capaz e forte de união verdadeira, de acolhimento, de informação, de cura, um viés que ainda não tinha observado tão intimamente.

&nbsp;

Vera sempre esteve disponível para ajudar Carolina, e nesse momento do câncer ela também se mostra uma excelente amiga. Fale um pouco dessa relação, por favor.

A ficção é uma versão editada da vida e Vera é uma grande amiga que está presente nos momentos mais sensíveis. A troca é sempre muito respeitosa e considera as particularidades de cada uma. Vera é aquela que acompanha no exame, que fiscaliza, conversa, ampara e cobra. Um registro um pouco diferente do que tinha visto até então. Natural e bom que seja assim, momentos diferentes, posicionamentos diferentes. Relações vivas estão em movimento constantemente e os conflitos podem separar ou fortalecer ainda mais o vínculo e esse foi o caso delas. Trabalhar esse tema com a Drica, em especial, foi muito emocionante. Não só porque é uma atriz extremamente generosa e entregue, mas pela história pessoal dela, por ter enfrentado, pessoa física, um conflito tão extremado ou mais que a Carolina.

Em 'Sob Pressão', Marjorie Estiano fala das dúvidas que um câncer provoca

Magazine

Magazine - título

Assine - Offers Target - 2

Matéria - Magazine

Entrevista

Quando estreou, há pouco mais de três anos, Round 6 não parecia ter a pretensão de se tornar um fenômeno global capaz de rivalizar com superproduções anglófonas como Stranger Things ou Succession. Mas sua fantasia enraizada na cultura sul-coreana não encontrou resistência mundo afora.Nesta quinta-feira (26), em plena ressaca de Natal, a série volta para uma nova temporada revigorada e mais entrelaçada à política local do que nunca. Primeiro, porque sua popularidade é a prova de que as estratégias de “soft power” do governo vêm rendendo frutos.Segundo, porque os novos episódios parecem refletir o caos que tomou o país de assalto desde que o ex-presidente Yoon Suk Yeol encampou uma tentativa de autogolpe que resultou em impeachment. O protagonista de Round 6, afinal, agora tem como objetivo derrubar um líder autoritário.Coincidência ou futurologia, a reestreia acontece depois que a série tirou prêmios Emmy de produções caras e prestigiosas como o drama familiar da HBO, que perdeu os troféus de melhor direção e ator, pela primeira vez embolsados por asiáticos.Em termos de audiência, Round 6 teve 330 milhões de espectadores e 2,8 bilhões de horas vistas, de acordo com a Netflix, pouco afeita a divulgar dados do tipo - ou nem tanto quando a transparência é motivo de festa. Esses números fazem dela a obra original mais popular da plataforma.“Isso é prova de que o idioma não é uma barreira, que o inglês pouco importa quando estamos entretidos com uma história”, disse o diretor e criador Hwang Dong-hyuk em dezembro passado, em Seul, num intervalo entre as gravações de uma segunda temporada que nem estava em seus planos iniciais.Tempos atrás, Dong-hyuk chegou a dizer que o trabalho na primeira temporada foi tão estressante que ele perdeu alguns dentes e não voltaria a escrever e dirigir novos episódios. Mas ele não conseguiu abandonar a cria e, ao receber a reportagem, caminhava alegre pelos cenários coloridos de seu set de filmagem, com maior liberdade artística e um cachê mais generoso.Cercado por centenas de camas, que formavam o dormitório onde os personagens de Round 6 descansam e firmam alianças, Dong-hyuk se sentou para conversar com jornalistas de todas as partes do mundo que voaram até a Coreia do Sul para assistir às filmagens, num set tão hiperbólico quanto as intenções renovadas da série.“Minha linha de raciocínio é a mesma da primeira temporada, quando quis criar uma história em que confiava e que divertisse as pessoas. Agora há mais pressão, por causa da expectativa e porque minha mente já está cansada, mas o jeito é transformar isso em combustível”, afirmou o diretor.Em sua primeira temporada, Round 6 (ou Squid Game, no título original) narrou a história de Seong Gi-hun, um sul-coreano afundado em dívidas que, num momento de desespero, aceita participar de uma competição baseada em jogos infantis. A cada rodada, os vencedores avançam para a próxima fase, enquanto os perdedores são mortos.Tudo bancado por um grupo de ricaços que se divertem às custas do sofrimento de homens e mulheres que precisam do prêmio em dinheiro para pagar por cirurgias, empréstimos, estudos e por aí vai. Nos novos episódios, Seong percebe que, para interromper aqueles jogos olímpicos do sadismo, precisa participar da competição novamente, a fim de desmascarar seu organizador.“Qualquer um podia se relacionar com os temas da primeira temporada, então não foi difícil passá-los ao público por meio do meu personagem. Minha tarefa, enquanto ator, era encontrar o ponto certo entre divertir e espalhar uma mensagem”, diz Lee Jung-jae, que venceu o Emmy por interpretar o protagonista.Round 6 é, ao mesmo tempo, muito coreana e muito universal, diz seu diretor. Ele costurou a trama de ação e suspense a problemas sociais graves não só em seu país, mas num mundo abatido por taxas de desemprego crescentes, desigualdade social galopante e discursos populistas vazios.A série lembra Parasita, filme de Bong Joon-ho que fez história ao vencer a Palma de Ouro em Cannes e, depois, ser o primeiro longa em língua não inglesa a embolsar o Oscar, há quatro anos. O drama familiar também usava as particularidades e excentricidades da produção audiovisual local para denunciar o abismo social que opõe pobres e ricos.Os pontos de contato entre série e filme vão além. Ambos se inserem numa estratégia de “soft power” adotada pela Coreia do Sul especialmente a partir dos anos 1990, quando o governo percebeu que o blockbuster americano Jurassic Park fez mais dinheiro do que a montadora sul-coreana Hyundai em 1993.Assim, o país passou a investir massivamente no audiovisual e em outras áreas da cultura, fazendo florescer a onda “k” que tomou de assalto países como o Brasil, hoje com legiões de fãs dos k-dramas, do k-pop e até de k-food ?as novelas, a música e a gastronomia do país.“Várias formas de incentivo público tiveram uma influência positiva na indústria. Foi igualmente crucial o apoio do governo para que as nossas histórias fossem exportadas”, disse Don Kang, vice-presidente de conteúdo da Netflix na Coreia do Sul no começo do ano.Para coroar o retorno da série, a festa de lançamento em Seul, na semana passada, foi marcada pelo tom político acalorado, que teve o ex-presidente Yoon Suk Yeol como alvo.As entrevistas da equipe de Round 6 foram feitas meses antes de o país mergulhar no turbilhão político. No evento da Netflix, porém, Dong-hyuk foi firme ao dizer que o momento do lançamento dos novos episódios, mais sombrios em suas críticas sociais, era obra do destino.

'Round 6' estreia segunda temporada nesta quinta-feira (26)

Série

Todos os sinais estavam ali, mas Marcela Luise de Souza Ferreira, de 31 anos, não soube ou não teve forças para decifrá-los. Morta, segundo a polícia, após feroz agressão do nutricionista e fisiculturista Igor Porto Galvão, 32, com quem vivia há nove anos, a estudante de arquitetura entrou para a estatística brasileira de vítimas de feminicídios, tipo de crime ancorado num ciclo sistemático de violência identificado em 1979 pela psicóloga norte-americana Lenore Edna Walker.

No livro The Battered Woman (A Mulher Espancada), a psicóloga revela que numa relação o abuso físico, sexual, financeiro e psicológico acontece em ciclos que se sucedem em menor ou maior tempo. A tensão aumenta, depois há uma explosão de violência, seguida pelo pedido de desculpas do agressor que promete agir melhor. E então o ciclo recomeça. A obra conferiu prêmios a Lenore Walker, ela foi introduzida no Hall da Fama das Mulheres do Colorado e sua descoberta passou a ser disseminada pelo mundo como um padrão de comportamento a ser combatido e evitado.

A morte de Marcela ocorrida em Aparecida de Goiânia no dia 20 de maio teve ampla repercussão. Sua mãe, a arquiteta Cida Freitas, que vive em Brasília, soube de imediato que o Igor Porto poderia estar por trás do politraumatismo no corpo da filha constatado no hospital. “Ela sempre teve o apoio da família, mas seu ponto fraco era a filha. Marcela acreditou que ele poderia mudar e ter uma família saudável”, contou ao POPULAR sobre a decisão do casal de reatar após uma agressão dele no final de 2020. Mãe de uma menina de pouco mais de um ano na época, Marcela concordou em cancelar a medida protetiva e se mudar com o companheiro para a cidade vizinha a Goiânia.

<div class="p-readmore-box"><a href="https://opopular.com.br/cidades/mulher-baleada-dentro-de-sal-o-de-beleza-pelo-ex-esta-sem-movimento-das-pernas-diz-familia-1.3141857">Mulher baleada dentro de salão de beleza pelo ex está sem movimento das pernas, diz família</a> 
<a href="https://opopular.com.br/cidades/fisiculturista-se-torna-reu-por-matar-mulher-espancada-1.3141595">Fisiculturista se torna réu por matar mulher espancada</a> 
<a href="https://opopular.com.br/cidades/pm-e-condenado-a-111-anos-de-pris-o-por-matar-a-mulher-e-a-enteada-de-3-anos-em-rio-verde-diz-defesa-1.3141093">PM é condenado a 111 anos de prisão por matar a mulher e a enteada de 3 anos em Rio Verde, diz defesa</a></div>

As investigações conduzidas pela delegada Bruna Coelho, da Delegacia Especializada de Atendimento à Mulher (Deam) de Aparecida de Goiânia revelaram que a mudança só adiou o desfecho brutal. Nos depoimentos, vizinhos, amigos e familiares detalharam o comportamento agressivo e opressor de Igor Porto. “Testemunhas relataram um perfil de agressividade com a vítima. Na frente de outras pessoas ele a menosprezava e a humilhava”, contou a delegada aos jornalistas. Marcela não foi e não é a única a enfrentar esse tipo de abuso.

Elaine (nome fictício), 41, chora e tem vergonha de falar sobre seu casamento. Cabeleireira, mãe de três filhos adolescentes, ela conta que se viu na pele de Marcela. “Muito do que ela viveu, eu enfrento. Quando nos casamos era um mar de rosas, promessas de uma boa vida, mas tudo mudou. Ele fica pouco em casa e não tem mais paciência nem comigo, nem com os filhos”, Elaine descreve o relacionamento com o marido, representante comercial. As discussões, ausências e humilhações estão cada vez mais frequentes em seu cotidiano.

A cabeleireira teme pelo pior porque já foi agredida fisicamente pelo marido ao questionar sobre um relacionamento extraconjugal. Os filhos não estavam em casa e ela não compartilhou o que viveu com os familiares. “Cada vez que vejo uma mulher morrer depois de ser agredida por alguém que ela acreditava ser a pessoa com quem dividiria tudo, penso na minha situação. Preciso dar alimento e educação para meus filhos, minha renda não é suficiente, mas não sou feliz. Sei que devo e quero dar um fim nesse casamento, só preciso encontrar o caminho.”

<h2>Uma estatística que assusta</h2>

<img attr-cid="policy:1.3141980" attr-version="policy:1.3141980:1717203106" class="p-smartimage" src="/image/policy:1.3141980/WhatsApp Image 2024-05-31 at 21.28.13.jpeg?f=default&amp;w=400&amp;q=1" /> 
Baleada pelo ex, Dyullya está sem o movimento das pernas (Arquivo pessoal)

Os números pertinentes à violência contra a mulher não são animadores. Em Goiás, em 2023, segundo a Secretaria de Segurança Pública (SSP), 12.492 mulheres sofreram lesões corporais provocadas por homens com quem conviviam ou conviveram. Foram registrados durante todo o ano, 13 feminicídios. Em 2024, entre janeiro e março, foram 3.136 lesões, número maior do que o mesmo período de 2023, quando houve 2.844 registros. Este ano, no primeiro trimestre, ocorreram nove feminicídios em território goiano.

Casos de morte, como o de Marcela Luise, e de grave lesão como o de Dyullya Rodrigues Nunes, 19, baleada esta semana pelo ex-namorado Gleniton Lopes Ribeiro, em Goiatuba, ainda não estão na estatística porque os números são divulgados pela SSP a cada três meses. Ambas vivenciaram relacionamentos abusivos. A primeira decidiu manter a convivência e perdeu a vida; a segunda havia dado um basta dez dias antes de ser atingida por dois disparos dentro de um salão que a deixaram paraplégica.

Dyullya, segundo o padrasto Amiltomério Alcântara, namorou Glenilton durante três anos. O ciúme desmedido dele o levou a invadir a privacidade dela e a comentar inverdades sobre o comportamento da ex-namorada. Com o apoio da família, Dyullya colocou um fim no relacionamento e solicitou medida protetiva. Inconformado, Glenilton, que pensava em disputar uma vaga na Câmara de Vereadores de Goiatuba, ultrapassou o limite estabelecido pela Justiça e disparou contra a ex pelas costas.

<h2>A síndrome da mulher espancada e seus efeitos</h2>

Especialistas em comportamento humano sabem que é difícil responder aos questionamentos frequentes sobre as razões que uma mulher repetidamente espancada permanece ao lado do agressor. Coube também a Lenore Walker, no livro The Battered Woman (A Mulher Espancada), cunhar o termo transtorno de estresse pós-traumático (TEPT), uma condição conhecida como síndrome da mulher espancada. Para Walker, não é uma doença mental, mas os efeitos psicológicos de conviver dia após dia com a violência praticada pelo parceiro íntimo.

“Há uma dependência emocional e financeira e quando chega no estresse pós-traumático, a mulher fica catatônica, não consegue responder, principalmente quando o casal tem filhos. Ela continua aceitando a violência física e psicológica, que é ainda pior, por medo de perder os filhos, dos quais ela depende emocionalmente”, diz Inês Cristina Pena, terapeuta de casal e família. Mesmo com o vínculo de dependência doentia, a mulher tem dificuldade de procurar a polícia, segundo a psicóloga. “Sempre oriento que ela compartilhe essa situação com um amigo ou familiar próximo que não irá intervir sem a sua autorização e também procurar um profissional de saúde mental, como psicólogo ou psiquiatra.”

Inês Cristina ressalta que hoje há muitas saídas e a escola pode ser uma grande parceira. “Quando casos assim são relatados, o Conselho Tutelar é procurado pela escola para resguardar a criança, que percebe o que está acontecendo em casa. Se ela não for protegida, será vítima desse ambiente tóxico e lá na frente tem grande chance de se tornar um novo agressor porque vivenciou a violência contra a mãe na fase de formação.”

<h2>Ditado ‘em briga de marido e mulher não se mete a colher’ perdeu força</h2>

Há quase 20 anos estudando e se envolvendo com os temas relacionados à violência contra a mulher, a promotora de Justiça Rúbian Corrêa Coutinho, titular da 63ª Promotoria de Goiânia e integrante do Núcleo Estadual de Gênero do Ministério Público de Goiás (MPGO), concorda com a terapeuta Inês Cristina Pena. “O abuso emocional deixa a mulher sem forças. Vigiada constantemente, ela fica isolada, não frequenta a família e o meio. Ela precisa se abrir para outras possibilidades, como terapias, facilitar o acesso, conversar para melhorar a autoestima. Isso faz com que ela perceba que pode tomar um passo no sentido de se libertar da relação abusiva.”

Para a promotora de Justiça, ainda está muito arraigado na sociedade que o homem, por ser forte, tem de se projetar em seus conflitos de forma violenta. “E as mulheres, pela educação que recebem, acham que isso é natural, mas sou otimista em relação a um processo de mudança. A violência contra a mulher não é mais naturalizada e o ditado popular, ‘em briga de marido e mulher não se mete a colher’, deixou de ter força. A sociedade está se envolvendo. Quando ocorre uma situação de violência em área pública, transeuntes chamam a polícia”, afirma Rúbian.

Na opinião da promotora de Justiça, a violência doméstica que sempre esteve presente nos lares “está saindo debaixo dos tapetes e de trás das cortinas”, por isso assusta a sociedade. “A mídia tem uma importância muito grande porque sempre traz à baila essas situações, despertando as mulheres. É preciso que esse tema seja um fator de incômodo para que a sociedade busque soluções e formas de ajudar as mulheres a romper o ciclo da violência.” Rúbian defende uma educação para que “as meninas sintam que há outras possibilidades na vida e não somente buscar um homem para estar bem enquanto pessoa.”

A promotora de Justiça cita quatro passos que uma mulher deve dar para sair de um relacionamento abusivo: 1) Reconhecer que ela está vivendo uma situação de violência e que não é natural; 2) Tomar consciência, uma reflexão que pode contar com a ajuda de amigos, da família e de colegas de trabalho; 3) Buscar saídas com a intervenção da rede de apoio; 4) Ao assumir a decisão, ela precisa se sentir capaz porque há uma rede para garantir o reforço necessário.

<img attr-cid="policy:1.3141969" attr-version="policy:1.3141969:1717201889" class="p-smartimage" src="/image/policy:1.3141969/010624-vidt_alerta.jpg?f=default&amp;w=400&amp;q=1" /> 
&nbsp;

&nbsp;

O agressor emite sinais

Cidades

Cidades - título

Matéria - Cidades

Violência

Primeiro bairro de Goiânia, o Setor Central é alvo de debates há mais de 20 anos sobre o que deve ser feito no local, em busca de uma revitalização que traga uma valorização imobiliária, representando um aumento na quantidade de moradores e, ao mesmo tempo, fortalecendo o comércio. Ideias de projetos para que isso ocorra, evitando a degradação atual do bairro, ocorrem a cada nova gestão municipal. A atual propôs o programa Centraliza em outubro de 2023, com ações que começaram em dezembro, das quais algumas já foram concluídas, como a troca dos abrigos dos pontos de ônibus. Outras propostas, porém, como a revitalização do Bosque dos Buritis e do Jóquei Clube, são de médio a longo prazo e devem ser para os próximos anos.

Arquiteta e urbanista, a pesquisadora do Observatório das Metrópoles - Núcleo Goiânia, Maria Ester de Souza, afirma que o Centraliza poderia ser o projeto a resolver a questão do Centro, mas acredita que ele será só mais um dos que tentaram melhorar o bairro. “Há muito viés de parceria, de vender, de entregar, de adotar. Mas é a gestão quem tem de adotar os espaços públicos, a Prefeitura é quem é ‘mãe’ da cidade, não precisa de ninguém adotar”, diz. Para ela, a ideia de conceder isenção fiscal deveria ser revista, trocando o objeto e passando a dar benefícios a empreendimentos culturais, como teatros e cinemas no Centro.

<div class="p-readmore-box"><a href="https://opopular.com.br/cidades/lojistas-temem-vazio-com-calcad-o-da-avenida-anhanguera-1.3134911" target="_blank">Lojistas temem vazio com "calçadão" da Avenida Anhanguera</a> 
<a href="https://opopular.com.br/cidades/prefeitura-abandonou-projeto-de-wi-fi-gratuito-nas-pracas-de-goiania-1.3139289" target="_blank">Prefeitura abandonou projeto de wi-fi gratuito nas praças de Goiânia</a> 
<a href="https://opopular.com.br/opiniao/editorial/a-espera-do-centro-1.3138327" target="_blank">A espera do Centro</a> 
&nbsp;</div>

“Não é a renúncia que leva investimentos para um lugar, é o investimento mesmo. Os bairros da Região Sul de Goiânia não têm isenção e têm investimentos, porque o poder público também investe lá”, afirma, ao citar a qualidade da iluminação pública, das calçadas, dos mobiliários e estruturas, como parques e praças, em bairros como Bueno e Marista. Maria Ester ressalta que o problema no Setor Central sempre foi a falta de investimento na infraestrutura e em realizar a manutenção urbana. “O que leva investimento é nenhuma lâmpada queimada, é não ter calçada quebrada. É um investimento responsável. O BRT atrasou e as obras matam o comércio”, considera ao citar a construção do corredor exclusivo da Avenida Goiás, iniciado em 2015 e ainda não finalizado.

A presidente do Conselho de Arquitetura e Urbanismo de Goiás (CAU-GO), Simone Buiate, considera que já está passando da hora do Setor Central ter um olhar de atenção e cuidado da gestão pública, especialmente voltado para a história do local e de suas construções. “A pauta tem de fazer parte do contexto de discussão. O Centro tem infraestrutura, pode abrigar muitas pessoas, mas está em um processo de abandono mesmo, com degradação natural, sem oferta básica da manutenção pública. Tem de ter iluminação, calçamento, sem isso leva à insegurança.” Porém, ela entende que, além desse serviço, é preciso um projeto maior para o bairro que acelere o processo de revitalização, o que é o papel do Centraliza.

“Em urbanismo a gente costuma dizer que não existe projeto perfeito e pronto, é uma construção coletiva. O Centraliza tem pontos bons, com a promoção de mais moradores, de mais empreendimentos comerciais, mas tem problemas também, como o grande incentivo aos estacionamentos”, conta ao lembrar que o CAU-GO contribuiu com a discussão da proposta na Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) da Câmara Municipal ao sugerir que a isenção das moradias fossem equiparadas à dos estacionamentos.

Simone acredita, no entanto, que o principal problema do Centraliza é a falta de participação popular em sua realização, de modo que os moradores não teriam sido consultados para o projeto. A Prefeitura de Goiânia alega, por outro lado, que ocorreu o debate com associações e representantes do bairro. Ela afirma que não é o caso de esquecer o projeto a partir de uma possível nova gestão. “A gente tem de mudar um pouco a visão de quem propõe os projetos e deixar que eles andem com as próprias pernas. Melhorias são sempre bem-vindas, pode rever o projeto, avaliar, mas não esquecer”, considera.

Ainda sobre a população local, a presidente do CAU-GO acredita que o projeto deve pensar em um bairro equilibrado, lidando com as diferenças. “Falta ter mais questões culturais. Ocorreu a perda de cinemas de ruas, tem de ter museus, teatros e isso vai resgatando a população. A visão que temos de um Centro, em geral, é a diversidade”, diz. Maria Ester já acredita que a próxima gestão municipal deve focar em levar a estrutura para o Centro. “Tem de consertar o estrago do BRT, fazer a limpeza das ruas, realizar a sinalização turística, retomar o uso da Praça Cívica, a iluminação, fazer investimentos em arte, em cinema, em teatro.”

Projeto de lei deve ser votado na terça-feira (28)

O projeto de lei que institui o programa Centraliza e o seu comitê gestor deve ser pauta da sessão plenária da Câmara de Goiânia na próxima terça-feira (28). Ele foi aprovado na Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) no dia 8 de maio e ainda não foi ao plenário. Na comissão, sua tramitação foi iniciada em fevereiro e duas audiências públicas foram feitas em março, em realização da relatora do projeto, vereadora Sabrina Garcês (Republicanos), e do presidente da CCJ, Henrique Alves (MDB).

Após as discussões, o Paço Municipal enviou, em abril, um conjunto de emendas substitutivas ao projeto original, a partir das propostas recebidas. Entre as mudanças, está a equiparação dos incentivos fiscais aos imóveis residenciais e aqueles usados como estacionamentos e também que os proprietários de imóveis tombados poderão vender a transferência do direito de construir (TDC) como contrapartida pela manutenção do imóvel. Após aprovado em primeira votação, o projeto é remetido a outra comissão antes da segunda e última votação.

Centro de Goiânia precisa de uma solução definitiva

Qual Goiânia Queremos

Pouco antes da pandemia de Covid-19, Alexandre Rodrigues virou assunto nas redes sociais por um motivo: pela falta de trabalho como ator, ele precisou virar motorista de aplicativo para ajudar nas contas. Aliado a esse trabalho, Alexandre, o Buscapé do filme Cidade de Deus (2002), viu-se numa situação inesperada e extremamente favorável no momento de maior crise econômica da história recente.

“Durante a pandemia foi o melhor momento profissional da minha vida. Eu vivo de milagres”, afirmou ele, em entrevista à Folhapress. Em 2019, Alexandre havia acabado de deixar a Globo após o fim da novela O Outro Lado do Paraíso (2017), e não queria mexer na reserva de dinheiro que tinha da novela.

“Uber estava super em alta, eu peguei um carro e decidi dirigir por dois motivos. O primeiro, para tirar uma grana, e o segundo, para conhecer São Paulo. Não sei exatamente nome de rua, mas só me dá uma referência que eu vou saber chegar. Grana eu não ganhei muita”, diz.

O “milagre” aconteceu pouco antes de a pandemia estourar, em fevereiro de 2020. O ator ficou dois anos como contratado da Globo por causa do adiamento das gravações da segunda temporada da série Aruanas. “Eu assinei com Aruanas no final de fevereiro, e logo em março, estourou a pandemia. Eu fiquei dois anos contratado porque nem eu nem ninguém sabíamos quando iríamos gravar”, explicou.

De fato, Aruanas só foi ser gravada em meados de 2021, e ter um contrato com a Globo lhe deu tranquilidade. Nos últimos anos, Alexandre focou seu trabalho em produções de cinemas e em curta-metragens. Um deles, foi uma peça publicitária que reviveu seu personagem mais clássico. “Eu tinha umas duas semanas de folga em Aruanas e gravei esse curta que está rolando, ganhamos até um Leão em Cannes recentemente”, diz, orgulhoso.

Com 40 anos, Alexandre Rodrigues está na ativa desde a explosão de Cidade de Deus e comemora o aumento da representatividade negra na televisão. Para ele, o filme de Fernando Meirelles, indicado a quatro Oscars em 2004, abriu portas.

“O que a gente viu, o que eu vi, de movimento dentro das favelas para criar cinema, conteúdo, foi enorme. As pessoas se viam representadas com o filme. Hoje, tem o Nós no Cinema, a Cufa, o Afroreggae fazendo muita coisa, e coisa legal, de qualidade. Depois que o filme explodiu, a galera foi atrás. Viu que era possível”, afirmou. 
 
Buscapé em série 
Nos próximos meses, Buscapé vai voltar às telas. Alexandre será protagonista da série baseada no longa, que vai contar a história dos personagens 20 anos depois do filme. Por causa do contrato com a Warner, que vai prozudir, ele não pôde dar nenhum spoiler. Mas se disse animado e orgulhoso: “Revisitar esse personagem é sempre muito prazeroso. Ele segue um pouco a minha linha de vida. Ele cresce, vira um profissional reconhecido, premiado, e a vida vai levando-o para lugares que ele nem imaginava”. 
 
Mas antes de Buscapé, Alexandre vai ser visto em Justiça 2, continuação da série de Manuela Dias, na Globo. Ele já terminou de gravar sua participação no núcleo que envolve Nanda Costa e Paolla Oliveira. “É uma trama de filme gringo. Se você assistir um, você vai querer ver o resto. O texto é excelente. Eu queria ter gravado mais, mas meu personagem é importante para a trama andar.”