Paulo Vieira. Parte do público pode ainda não ligar o nome à pessoa, mas o goiano de 27 anos nascido em Trindade e criado no Tocantins é hoje um dos grandes nomes do humor no Brasil. Para quem acha que isso é um exagero, basta olhar o currículo do humorista, que recentemente conquistou um quadro para chamar de seu no Fantástico, da TV Globo. Como Lidar?, em que Paulo mostra de forma bem-humorada os dramas da quarentena, foi o quinto projeto na emissora que o goiano participou em pouco mais de um ano.Ele também já marcou presença em Zorra, Escolinha do Professor Raimundo, Se Joga e Fora de Hora. “Como Lidar? vai ficar marcado na minha carreira como a realização de um sonho. Desde que o Chico Anysio consagrou esse lugar, que já foi ocupado por tanta gente bacana, ter uma crônica no Fantástico é o sonho de todo comediante”, explicou em entrevista ao POPULAR.Fazer rir em meio ao caos tem sido o grande desafio do ator, que pode ainda ser visto na série do Globoplay Cada Um no Seu Quadrado, ao lado de Fernando Caruso, e no hilário Diário do Coronga, divulgado em suas redes sociais. Na produção, Paulo, vestido de mulher, fala sobre a diferença de isolamento entre pessoas ricas e pobres.Em plena quarentena e isolamento social em meio à pandemia do novo coronavírus, Paulo Vieira não para de produzir humor. De origem humilde, o ator começou a fazer teatro muito cedo, com 5 anos. Aos 12, fez a primeira peça profissional ainda em Palmas. Aconselhado e apadrinhado por Fábio Porchat – eles se conheceram em uma das apresentações do humorista no Tocantins –, Paulo começou a fazer stand up comedy.A partir daí, a carreira foi só crescendo até quando venceu o 5º Prêmio Multishow de Humor, em 2013, que lhe deu visibilidade nacional. Em 2015, o humorista ganhou ainda mais notoriedade ao participar e vencer o quadro Quem Chega Lá, do Domingão do Faustão.Você um dia imaginou que chegaria a ter um quadro de humor em um programa com tanto alcance nacional como o Fantástico?Estaria mentindo se dissesse que não. Mas sempre foi um sonho e eu sempre trabalhei muito para alcançá-lo. Sempre fui muito sonhador e acho que estou onde estou por conta dos meus sonhos. De certa forma, acredito que eles me motivaram, me fizeram correr atrás, para que eles se tornassem realidade. Mas, por mais que a gente sonhe, acho que nunca estamos preparados para quando ele se realiza, nunca sabemos como vai ser. Então, não deixa de ser uma surpresa, mesmo que tenha sido uma surpresa plantada há muito tempo.Como tem sido sua rotina em tempos de quarentena?Estou em casa direto. Fiquei quase dois meses sem sair nem pra fazer compras. Só na semana passada, quando adotei um cachorro (na verdade, minha casa está sendo o lar temporário dele), tenho descido apenas com ele para fazer suas necessidades. Eu só desço, no condomínio mesmo, de máscara, bem rápido. Para manter a rotina, tento acordar o mais cedo possível. E, graças a Deus e ao trabalho, estou conseguindo ter uma rotina. Todo dia tenho coisas para fazer, para gravar.Qual o maior desafio em fazer humor em tempos de pandemia?A grande dificuldade de fazer comédia nesse período é acertar no tom. É encontrar o tom mais elegante para fazer as pessoas rirem em tempos tão difíceis. O caos é muito bom pra comédia, traz muito assunto. O País de cabeça pra baixo é um prato cheio para os comediantes.O Diário do Coronga já é um clássico nos áudios de grupos de WhatsApp. Como funciona a produção da série?Os áudios são feitos sem grandes pretensões, para distrair e alegrar o público mesmo. Eu escrevo, mando para os atores e gravamos. É um sucesso, viralizou e já temos quase 35 milhões de acessos no TikTok. Amamos o sucesso dele e estamos muito felizes com o resultado. Acho que é uma prova do quanto as pessoas querem se ver e se ouvir e do quanto esses personagens se comunicam com o povo. Eu e o elenco ficamos muito felizes. Aliás, temos no elenco o Rafael Guimarães, ator e cantor de Goiânia, que eu conheci quando fui a Goiás para gravar uma campanha. Eu prometi a ele que, se algum dia pudesse fazer alguma coisa pra ajudar alguém, eu o ajudaria porque ele é muito talentoso. Ele está comigo nesse projeto desde o início e é imprescindível.Você nasceu em Trindade, Goiás, mas se mudou para o Tocantins ainda criança. Como é sua relação com os goianos e que lembranças guarda daqui?Sim, nasci em Trindade. Digo que sou tocantinense, de Palmas, porque o Tocantins me criou, meu coração é tocantinense. Eu sou tão tocantinense que nasci em Goiás, assim como o Tocantins. Mas a minha família, meus costumes, são todos goianos. Minha família é toda de Trindade e pelo menos uma vez a cada três meses eu vou a Trindade para vê-los. A minha relação com Trindade continua viva, eu amo a cidade, as pessoas, que não deixam de ser uma fonte de inspiração. Na série Isso É Muito a Minha Vida, o choro da Chelly, que faz muito sucesso, foi inspirado na minha família goiana. Goiás está muito forte no meu coração, tenho o maior orgulho.Você acredita que tem alguma característica peculiar no humor que é feito no Centro-Oeste?Eu não saberia dizer porque conheço pouco para analisar. Mas, fazendo uma análise por alto, acho que todos nós do Brasil profundo, de Goiás, do Tocantins, Maranhão, Piauí, temos a comédia intrinsecamente ligada ao povo. Essa é nossa grande valia. Em alguns lugares, a comédia acabou sendo elitista, feita para poucos, mas de onde a gente vem, não. Na nossa região, a comédia é feita para o povo. É um povo bem humorado, que gosta de rir. E a comédia está ligada a essa gente. Não é uma comédia soberba. Tem um único objetivo que é se comunicar com o povo e alegrá-lo. Tento me inspirar muito nesse pensamento.Qual foi a importância do Fábio Porchat na sua vida e carreira?O Fábio Porchat é uma das pessoas mais importantes da minha carreira. Ele me deu uma base que me permitiu chegar onde estou hoje e fazer escolhas. Tudo o que eu sei sobre TV eu aprendi com ele. Devo muito a ele, à generosidade dele. Fábio, aliás, é a pessoa mais generosa que eu conheci na vida. Serei sempre grato a ele.Seu humor está sempre envolto em reflexões das mazelas sociais do País e você defende que a arte é um ato político. De alguma forma, você não teve receio de que a polarização na política que vivemos atrapalhasse seu trabalho como ator?Eu não posso me permitir ter esse medo porque ele me acovardaria. Se, por medo, eu começo a querer agradar a todos, vou contra a minha verdade. Assim como o anjo é feito de fé, o artista é feito daquilo em que ele acredita. E se ele começa a abrir mão daquilo em que ele acredita para agradar quem quer que seja, ele se perde. Quem fica em cima do muro nesse tempo de polarização está escolhendo um lado. Acredito muito no que o papa Francisco fala sobre não criarmos muros, mas pontes. Precisamos sempre deixar muito claro quem somos e no que acreditamos.Como vê o boom atual dos movimentos antirracistas e como sua presença na TV de maior audiência no País é um sinal de mudança?Acho que precisamos de muitos sinais que apontem uma mudança. Acho que essas questões são um sinal de atenção e que as pessoas estão começando a ficar atentas a isso, o que é um primeiro passo muito importante. Mas precisamos avançar com rapidez nas pautas de representatividade e de racismo. Não tenho a intenção de ser o preto oficial da Globo. A gente precisa de mais, a empresa está se movimentando nesse sentido e é lindo trabalhar numa empresa que tem feito isso. Mas, pensando individualmente, não é postando uma tela preta que a gente vai mudar tudo. Precisamos ter sobriedade e ser cada vez mais enfáticos nessa luta por mudança.Como tem sido o trabalho com o Fernando Caruso no novo quadro Cada Um no Seu Quadrado que vai ao ar no Globoplay?É um programa divertidíssimo que eu apresento ao lado do Fernando Caruso. É um desafio trabalhar na pandemia, remotamente. O equipamento chega na minha casa, eu monto tudo, falo com a equipe, tudo de maneira remota. Tem sido uma experiência muito nova e muito positiva. O programa está lindo, divertido, as pessoas estão gostando de assistir e a gente está amando fazer. Tem sido uma terapia pra nós. Ocupar o tempo trabalhando tem sido uma excelente maneira de passar o tempo na quarentena. É um privilégio estar trabalhando de casa num País com tanta gente desempregada e outras tantas sem poder trabalhar em casa.Como vocês escolhem os convidados do programa?O programa parte de uma premissa muito básica: tentar criar uma festa, uma mesa de bar, um papo entre amigos, mas com cada um no seu quadrado. Tem um clima de muita descontração. Na seleção de convidados, chamamos principalmente amigos, gente com quem gostamos de conversar, que a gente acha engraçada, divertida, para compor a melhor mesa de bar do mundo. Chegamos em uma seleção de quatro amigos por episódio, e os convidamos para bater papo, jogar conversa fora, falar da vida, se divertir. Para cada um comer e beber na sua casa. Está sendo muito divertido gravar isso. Estou trabalhando muito durante a semana, mas o momento dessa gravação é realmente um encontro com amigos. Está sendo realmente divertido.Quais lições você acredita que a pandemia do novo coronavírus deixará para o País?Eu realmente não sei que lições o coronavírus vai deixar para o País, mas eu espero que o povo brasileiro perceba que não dá mais para eleger uma pessoa que não se importa com a gente. Precisamos buscar um governo que nos represente, que se importe conosco e que enxergue o Brasil de forma múltipla, como ele é.