Reflexões sobre os fins, medos e amores pautam os 30 poemas de Sentimentos Carimbados, primeiro livro de poesia de Tarsilla Couto de Brito, professora de Literatura na Faculdade de Letras da Universidade Federal de Goiás. A obra será lançada nesta terça-feira (20), às 20 horas, por meio de uma live com a escritora e convidados na página do Instagram da editora Goiânia Clandestina (@goianiaclandestina).&nbsp;Escritos entre junho e agosto de 2020 enquanto Tarsilla percorria um momento muito pessoal de separação, e, por conseguinte, de transformação, os poemas versam sobre desfechos, cessações e pontos finais. Em tom de humor e ironia, a obra explora o bom humor dos finais de relacionamentos. Também destaca sentimentos como o vazio e a solidão.&nbsp;"É sobre rir de si mesma. Uso o amor enquanto metáfora para falar sobre o fim, a transformação. É uma reflexão sobre os finais, as separações. Tem esse riso irônico, amargo, de canto de boca", destaca Tarsilla.&nbsp; A obra, confeccionada de maneira artesanal, apresenta o conceito de livro-objeto. Todo o material, por exemplo, foi costurado a mão e tem a arte gráfica assinada pelo artista Guga Valente. Sentimentos Carimbados pode ser adquirido no Instagram da própria autora (@tarsillacouto).

Escritora Tarsilla Couto de Brito lança livro sobre o amor enquanto metáfora para o fim

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A força do enredo, a composição da narrativa e a dimensão humana dos personagens dentro do romance Os Frutos da Lobeira foram alguns dos motivos que fizeram o escritor Elias Antunes (foto) conquistar a Bolsa de Publicações Hugo de Carvalho Ramos 2024. Mais antiga premiação literária em continuidade do País, neste ano o concurso completa 80 anos de existência.

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Antunes conquistou o prêmio na categoria Prosa. “O livro fala de uma família simples e suas lutas para sobreviver no dia a dia, suas peripécias diante das mil dificuldades lidando com a pobreza e a violência”, aponta o escritor, que tem pseudônimo de Josef Labort. Receberam menção honrosa o romance Chapada dos Confins, assinado por Manoelito Souza, e a coletânea de contos Não Se Trata de Animais, de Ma Pê.

Além de premiar as narrativas em prosa, a bolsa também abre o concurso para a categoria Poesia. Quem conquistou o prêmio foi Cristiano Siqueira, assinado com o pseudônimo Shakti. Na obra O Livro dos Amores a Mais, o poeta se embrenha no ritmo e na singeleza dos versos sobre a temática amorosa.

<div class="p-readmore-box"><a href="https://opopular.com.br/magazine/premio-jabuti-divulga-finalistas-de-2024-1.3195649" target="_blank">Prêmio Jabuti divulga finalistas de 2024</a> 
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Receberam menção honrosa em poesia os títulos América que Américo Não Viu, assinado por Calíope; Para o Nada, assinado por Clarice, e A Inexistência das Coisas, de Lavínia Lácio. “São obras de indiscutível beleza, que engrandecem a literatura e que encantarão futuros leitores”, destaca o presidente da União Brasileira de Escritores - Seção Goiás (UBE-GO), Ademir Luiz.

Neste ano, a banca da Bolsa de Publicações Hugo de Carvalho Ramos 2024 foi composta por três jurados que dialogam com as artes e a literatura goiana: os escritores Pablo Mathias, representando a UBE, Mauri de Castro, da Secretaria de Cultura de Goiânia (Secult Goiânia), e Itanei Campos, da Academia Goiana de Letras.

O concurso é promovido pela Secult Goiânia, com organização da UBE–GO, premiando anualmente sempre dois títulos. Os laureados terão suas obras publicadas pela Prefeitura de Goiânia, mediante licitação. Os vencedores também recebem um prêmio em dinheiro equivalente a 20 salários mínimos.

<h2>Ilustríssimos</h2>

Uma das primeiras publicações de Gilberto Mendonça Teles, Planície venceu o prêmio em 1958 e representa um grande salto na trajetória poética do escritor. Os poemas falam sobre morte, memória e perda, como no célebre Vida. Já em 1975 a escritora Yêda Schmaltz ganhou a bolsa pelo livro O Peixenauta, com poesias sobre viagens terrestres, desencontros e descaminhos, planetas distantes como Saturno, tempo e dúvidas.

A obra Profugus foi a responsável por fazer com que Miguel Jorge recebesse o prêmio de poesia em 1989. É a segunda publicação de poemas de Miguel e foi dividida em três partes, numa linguagem poética cubo-surrealista que narra o homem em seus diferentes percursos. O poeta marginal Pio Vargas também venceu a bolsa com a obra Os Novelos do Acaso, editado em 1992, um ano após sua morte e dois depois de ter ganhado a bolsa, com grandes poemas sobre Goiânia.&nbsp;

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Prêmio Hugo de Carvalho Ramos 2024 anuncia vencedores

Literatura

O escritor goiano Geraldo Rocha lança, nesta quarta-feira (30/10), seu mais novo livro, Encruzylhadas. O lançamento será na Livraria Leitura do Goiânia Shopping, às 19 horas. Com uma narrativa envolvente e realista, a obra aborda a saga de uma família que parte do sertão baiano rumo ao Centro-Oeste durante a construção de Brasília, e mostra temas como migração e desigualdade.

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Conhecido por sua capacidade de criar personagens cativantes e histórias que dialogam com a realidade social do Brasil, o romancista entrega em Encruzylhadas uma obra reflexiva, explorando a luta pela dignidade e igualdade em um cenário de adversidades. A trama centraliza-se na figura de Josias, que após enfrentar muitas lutas para romper as barreiras da discriminação, é surpreendido por uma tragédia que o leva à prisão. Mais do que uma narrativa, o livro é, na visão do autor, um convite aos leitores a refletirem sobre suas próprias escolhas que podem levar a encruzilhadas, numa jornada de superação e de busca por justiça. 
 
"O livro é ambientado em Ceilândia, cidade satélite do Distrito Federal, e explora a disparidade entre uma enorme pobreza e a abundância de recursos que a maioria da população não tem acesso. O próprio nome Encruzynhadas, escrito com Y, é uma provocação sobre os diversos caminhos que os personagens encontram durante a narrativa, e as vezes são obrigados a escolher aqueles que não queriam", explica Geraldo Rocha.

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Com Encruzylhadas, Geraldo é ganhador da Bolsa de Publicações Hugo de Carvalho Ramos, na categoria prosa. O prêmio, concedido pela Prefeitura de Goiânia em parceria com a União Brasileira de Escritores (UBE-GO), é um dos mais importantes da literatura goiana. Natural de Crixás, ele também é autor de outras obras como Jack Douglas: Mistério no Lago das Rosas, Paixão Virtual, Irmãos das Estrelas e Contos de 22.

<h4>SERVIÇO</h4>

Lançamento do livro Encruzylhadas, de Geraldo Rocha 
Data:&nbsp;quarta-feira (30/10) 
Local:&nbsp;Livraria Leitura do Goiânia Shopping 
Horário:&nbsp;19 horas

Escritor goiano Geraldo Rocha lança seu novo livro, 'Encruzylhadas'

No amplo apartamento no Setor Oeste, em Goiânia, o lugar que escolheu para viver há pouco mais de um ano, a professora Terezinha Fonseca Crumb, 85 anos, tem como companhia clássicos da literatura mundial, em especial obras de William Shakespeare, poeta e dramaturgo inglês, seu maior objeto de estudo. Após mais de 50 anos em território norte-americano, a goianiense que ousou seguir carreira acadêmica como professora de língua inglesa no país que a adotou volta para casa sem colocar o descanso em seus planos. No ano passado, fez a primeira incursão pelo romance e agora está mergulhada em histórias de personagens das ruas de Goiânia para uma nova obra.

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Goiânia deixou de ser o lar definitivo de Terezinha Fonseca quando ela mal saía da infância. Em 1955, seus pais se mudaram para o Rio de Janeiro e lá ela sedimentou os estudos. A graduação foi no Departamento de Inglês da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), instituição onde foi docente. Já no mestrado, com uma bolsa concedida pelo programa Fulbright, ampliou seus conhecimentos de linguística nos Estados Unidos. No retorno, após o golpe militar, percebeu o impacto do clima político no ambiente universitário. Antes de concluir a pós-graduação, voou para Londres com o objetivo de se aprofundar nos estudos shakespearianos.

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Com trabalho engatado no exterior, voltou ao Rio com a intenção de resgatar o diploma de mestre, mas foi surpreendida com a decisão da reitoria da UFRJ de que, atendendo exigência de um decreto-lei, os mestrandos teriam de cursar ainda Educação Moral e Cívica para obter o grau de mestre. Terezinha Fonseca entendeu que tinha chegado o momento de deixar o País. Foi continuar os estudos na Universidade da Califórnia, em Berkeley, instituição em que chegou a dar aulas por dois semestres. O casamento com o financista Richard Ellis Crumb a levou para Nova York, onde estruturou uma carreira acadêmica exigindo dela um esforço gigante.

Terezinha Fonseca fez o doutorado no Departamento de Inglês da Universidade de Nova York, e chegou a dar aulas na instituição, em Purchase. “Mas aí me dei conta de que não seria contratada como efetiva.” Isso porque no meio acadêmico norte-americano impera a máxima “publish or perish” (“publicar ou perecer”), que indica que o sucesso na carreira só vem com a publicação de trabalhos. “Eu só tinha duas publicações brasileiras, a introdução do romance Mrs. Dalloway, de Virginia Woolf, da qual tenho muito orgulho porque fiz com o poeta Mario Quintana, como tradutor; e a introdução de Persuasão, romance de Jane Austen.”

Numa longa conversa com o POPULAR, Terezinha Fonseca revela que a Universidade da Cidade de Nova York (Cuny), mais especificamente o câmpus do bairro do Queens, abriu as portas para ela depois que apresentou uma teoria de que as minorias estavam tomando o poder. “Eram os anos 80 e até então o inglês era ensinado com base nos grandes clássicos, embora existissem muitos outros escritores de língua inglesa. A chefe do departamento gostou da ideia e, com ela e outra colega, escrevemos Literatura Através das Culturas, que traz uma abordagem multicultural.” A obra rendeu cinco edições e foi um marco na trajetória da goianiense.

“Para conseguir fazer uma carreira, tive de produzir dez vezes mais do que qualquer colega. Eu era a única estrangeira no departamento e tenho muito orgulho disso.” E vieram muitas obras com ênfase na academia. Terezinha Fonseca se aposentou na Cuny como professora emérita. Mas não parou. Aproximou-se de escritores brasileiros no exterior, fez palestras em várias partes do mundo e mergulhou na leitura de clássicos brasileiros. O que foi providencial para a escrita literária na língua nativa. Ainda vivendo nos Estados Unidos, lançou À Moda da Casa – Contos Goianos e, este ano, já com os pés fincados na terra natal, publicou Entreatos: Romance de uma Larga História.

<h2>Dores e experiências gratificantes no regresso</h2>

Filha de vilaboenses que se mudaram para a recém-criada Goiânia em 1938, Terezinha Fonseca nunca perdeu o contato com a cidade. A cada dois anos, visitava os familiares. A decisão de retorno definitivo ocorreu após a morte do marido, em 2020, em meio à pandemia da Covid-19, quando já moravam em Fort Lauderdale, na Flórida. “Foi uma experiência traumática. Ele tinha Parkinson e do pior tipo, mas não teve Covid. Por causa das restrições, eu tinha de estar no meio daquilo tudo, explicando. Ele morreu e em algumas horas seu corpo foi levado. Éramos um casal muito unido. Senti que precisava de apoio emocional e decidi voltar, porque ainda tinha um irmão aqui.” Onze meses após seu retorno, o irmão não resistiu a um câncer. “Foi outro baque.”

Aos poucos, começa a viver a cidade. “O impacto cultural é muito grande. Tenho de me conter diante de muita coisa”, revela. Por duas vezes participou de encontros na Academia Feminina de Letras e Artes de Goiás (Aflag), visitou o Instituto Histórico e Geográfico de Goiás (IHGG) e conheceu o escritor Miguel Jorge. Experiências que considerou gratificantes, assim como foi vivenciar um dia de missa e novena na Matriz de Campinas. “Fiquei maravilhada com a fé daquele pessoal, nunca vi em lugar nenhum por onde passei tamanha comunhão com Deus.”

Para Terezinha Fonseca, que conta com apenas um irmão em Portugal, a literatura a salvou. “Eu já tinha feito um primeiro rascunho de Entreatos&nbsp;e após a morte do meu irmão me dediquei a ele”. O livro, garante, não é memorialista, embora traga referências do ambiente universitário que viveu no Rio de Janeiro e de lugares emblemáticos e da arquitetura histórica da cidade, que se fixaram em sua memória. O pano de fundo é a perseguição política imposta pelo regime militar, mas a “larga história” ganha ramificações distintas. “O crime da Rua Anchieta é basicamente a descrição de um inquérito policial sobre um duplo assassinato”, afirma.

O artista plástico vilaboense Di Magalhães, atualmente radicado no Paraná, assina as ilustrações que reproduzem os prédios coloniais cariocas. Ao longo do livro, Terezinha Fonseca faz uma série de citações literárias, com explicações detalhadas nas notas finais. Sem nenhum pedantismo. Seu objetivo é que essas referências se unam à narrativa ficcional, mesclando as vivências dos personagens às criações eternizadas pela literatura, pelo cinema e pelo teatro. Só quem carrega consigo uma ampla bagagem consegue fazer isso com excelência. Entreatos está à venda na Amazon.

Dos EUA para Goiânia, o retorno ao porto seguro

Cidades

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Seis trilogias, 18 volumes, centenas de textos e reflexões sobre a trajetória de um Estado que está prestes a completar uma data simbólica: os três séculos da fundação do primeiro povoamento dos bandeirantes em seu território. O período desde a fundação, por Bartolomeu Bueno da Silva, do Arraial de Sant’Anna, atual cidade de Goiás, porém, não condensa toda a história a ser contada sobre essa região. Aquele foi um marco, sem dúvida, muito relevante, mas não pode ser encarado como o início de tudo. É com essa perspectiva de debate mais ampliada, de resgate e ressignificação de uma jornada tão complexa e rica que começou bem antes da incursão dos colonizadores por este sertão do coração do Brasil, que o Instituto Histórico e Geográfico de Goiás (IHGG) lançou a coleção Goiás +300.

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O maior ganho dessa iniciativa inédita no Estado, que vem desde 2022 e tem previsão de encerramento em 2026, é a publicação de seis trilogias que reúnem artigos de diferentes profissionais e estudiosos, que se debruçam sobre os mais diferentes aspectos de nossa construção histórica, social e cultural. “Os temas foram definidos, inicialmente, pelos coordenadores, mas durante a execução do projeto surgiram outros, sugeridos pelos organizadores dos livros”, explica Nilson Jaime, presidente do Instituto Cultural e Educacional Bernardo Élis para os Povos do Cerrado (ICEBE) e um dos idealizadores e coordenadores da proposta. “São 18 livros, contidos em seis boxes”, acrescenta, em um esforço que buscou dar a maior amplitude possível às abordagens selecionadas.

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Concebemos o projeto Goiás +300 para ser realizado com 450 autores” Nilson Jaime (Divulgação)

Os três livros do box 1, com os títulos História, Geografia e Memória e Patrimônio, foram lançados em 2022. No ano seguinte, veio a segunda trilogia, reunindo os livros Cronistas e Viajantes, Literatura e Povos Originários. Ainda neste ano, deve ser lançado o box 3, com os volumes Povos Afrodiaspóricos, Música e Mulheres. No ano que vem está prevista a trilogia Brasília: O Protagonismo de Goiás na Mudança, Direitos Humanos e Jornalismo e Imprensa, e o box 5, que vai trazer os livros Economia, Primeiros Arraiais e Direito e Justiça. Em 2026, deve ser publicado o box com Educação, Questão da Terra e Goiás na Linha do Tempo. “O propósito do Goiás +300 é lançar um novo olhar sobre a historiografia goiana, que nós chamamos de ressignificação”, pondera o historiador Jales Guedes, presidente do IHGG.

Jales, que também é promotor de justiça e tem livros e estudos, por exemplo, sobre Pedro Ludovico Teixeira e a construção de Goiânia, é um dos idealizadores da proposta, algo que decidiu levar adiante para que o IHGG pudesse oferecer uma fonte confiável e a mais completa possível para pesquisas e abordagens de elementos importantes de nossa formação, trazendo novos olhares sobre momentos fundamentais. “Não significa ab-rogar os fundamentos lançados por historiadores do passado, mas lançar novas interpretações, sustentadas em fontes. A reavaliação, por exemplo, da relevância do Tratado de Madri, assinado em 1750 entre Espanha e Portugal, para a criação das Capitanias de Goiás e Mato Grosso, já encontra-se presente na coleção Goiás +300”, exemplifica.

“A ideia é levar nossa geração – que tem o privilégio de acessar documentos e publicações que, para outras gerações eram inacessíveis – a uma reflexão abrangente e eclética, a fim de tentar ressignificar a história, a memória e o entendimento da cultura de Goiás”, afirma Nilson Jaime, que lembra que a iniciativa teve como instituições iniciais, além do IHGG e do Icebe, também a Sociedade Goiana de História da Agricultura (SGHA), da qual ele e Jales são membros. Ao todo, são mais de 20 parceiros nessa iniciativa. “Concebemos o projeto Goiás +300 para ser realizado com 450 autores (a maioria doutores e mestres) de mais de 40 instituições científicas e culturais de todo o Brasil, dentre elas a UFG, PUC Goiás, UEG, IFG, IF Goiano, além da USP, UFRJ, UFF, UFRRJ e UnB”, elenca.

Jales e Nilson são os coordenadores gerais, mas cada um dos 18 volumes que integram as seis trilogias conta com organizadores específicos, que se dedicam a reunir os textos de determinada área, convidando para realizá-los pesquisadores que tenham trabalhos sólidos em seus respectivos campos de conhecimento, como historiadores, geógrafos, juristas, críticos literários, sociólogos, antropólogos, jornalistas, economistas e cientistas políticos, por exemplo. “O +300 é uma referência à formação de Goiás que, ao contrário do que se pensa, não se deu com a chegada dos bandeirantes, há 300 anos, em 1722 (dez gerações), mas há pelo menos 13 mil anos, ou 650 gerações dos povos indígenas”, explica Nilson, enfatizando uma outra visão sobre narrativas que se perpetuaram.

“A coleção Goiás +300 tem um enfoque decolonial, situando os povos originários, os povos afrodiaspóricos e as mulheres, por exemplo (todos eles temas de livros), em seus papéis de protagonistas de suas próprias histórias”, diz Nilson. “Como mostra dessa ressignificação, costumo citar o grande equívoco no ‘mito de criação’ de nosso Estado: o Anhanguera e os portentosos bandeirantes não eram europeus – concepção corrente no meio da população –, mas mamelucos, netos, bisnetos e trinetos dos indígenas habitantes no Planalto de Piratininga, região onde hoje está a cidade de São Paulo”, sublinha. “Na capa de cada box e de cada livro, procuramos enfatizar a expressão indígena – os verdadeiros pioneiros na ocupação de Goiás, há pelo menos 13 mil anos”, acrescenta Jales Guedes

“Utilizamos as pinturas rupestres de Serranópolis a partir de uma fotografia de Rui Faquini, para homenagear os povos originários. Em diversos livros utilizamos pinturas de artistas goianos. No livro Direitos Humanos, haverá um trabalho de artistas radicados em Goiás, em todos os capítulos. O livro Cronistas e Viajantes possui 20 mapas dobráveis, indicando o itinerário de diversos viajantes brasileiros e estrangeiros que percorreram Goiás no século 19, principalmente. Há narrativas interessantíssimas, relacionadas à formação de Goiás e aos seus povos. Quanto às surpresas, deixo para a leitura do livro”, menciona Jales Guedes. “A coleção tem importância capital na preservação da memória de Goiás, à medida em que aborda temas que fogem do escopo da historiografia tradicional”, destaca Nilson.

<h2>Diálogo com a sociedade</h2>

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Poderíamos ter perenizado programas culturais, realizado concertos, exposições e espetáculos pelo Brasil e pelo mundo, todos evidenciando a reflexão e a ressignificação” Jales Guedes (Fabio Lima / O Popular)

Um dos objetivos da coleção Goiás +300 é fazer com que essas reflexões não se limitem ao campo acadêmico ou apenas à leitura de outros estudiosos, ainda que esse aspecto também seja importante. “Além da vasta rede de autores da coleção Goiás +300, a coordenação toma o cuidado de enviar cerca de 10% dos livros para instituições culturais e científicas, bibliotecas e outras. O caso mais recente foi a adoção dos livros do Goiás +300 para a seleção dos candidatos aos programas de mestrado e doutorado em Territórios e Expressões Culturais do Cerrado, da Universidade Estadual de Goiás, em Anápolis. Futuramente, esse material será disponibilizado em formato PDF na internet”, anuncia Nilson Jaime, um dos coordenadores do projeto.

As publicações integram um esforço do Instituto Histórico e Geográfico de Goiás de cumprir de forma cada vez mais efetiva um papel que está em sua origem. “Há uma grande procura por materiais de pesquisa. A existência de fontes é essencial para o ofício do historiador. Hoje, além de guardar documentos, fotografias, livros e jornais, o IHGG cuida da preservação, da catalogação e da disponibilização de todo esse material. A Hemeroteca Digital do IHGG possui 8.630 edições de jornais e periódicos, já disponibilizadas na internet gratuitamente”, celebra Jales Guedes, presidente do IHGG. “Trabalhos de conclusão de curso, monografias, dissertações e teses foram redigidos a partir da utilização do acervo do IHGG. Nossa meta é aproximar os pesquisadores de diversas áreas do saber.”

Todo esse conjunto – o acervo de periódicos e documentos já disponíveis para consulta e os livros da coleção Goiás +300 – compõe uma fonte de pesquisa e divulgação de dados checados e confiáveis que podem fazer a diferença até mesmo na forma como nos enxergamos hoje como sociedade e na análise dos fenômenos e acontecimentos que nos trouxeram até aqui. “Um exemplo disso é o livro Direitos Humanos, a ser lançado em 2025. As gerações anteriores de historiadores não tiveram oportunidade de discutir esse tema, simplesmente porque não havia noção de sua importância em uma sociedade escravocrata, racista, desigual e misógina. Uma das organizadoras do livro Povos Originários é uma professora indígena; e dos Povos Afrodiaspóricos, uma quilombola”, valoriza Nilson Jaime.

“O livro Brasília: o Protagonismo de Goiás na Mudança, por exemplo, vai evidenciar personalidades que contribuíram sobremaneira para a construção da capital federal no Planalto Central, mas que foram esquecidos na vasta historiografia existente”, prossegue Nilson. “Pessoas como Henrique Silva, Jerônimo Coimbra Bueno, Altamiro de Moura Pacheco, Manoel Demósthenes Barbo de Siqueira, José Peixoto da Silveira, Emival Ramos Caiado e Aguinaldo Caiado de Castro, dentre outros, foram injustamente olvidados pela historiografia tradicional. O Goiás +300 vai fazer esse resgate sem dourar a pílula, amparado na documentação existente, mas deixada de lado há pelo menos 100 anos.” Novos ângulos de contar uma história que ultrapassa as versões mais simplificadas.

“No livro Mulheres há um capítulo sobre a perseguição às lésbicas durante a ditadura civil-militar (1964-1985) e um capítulo sobre as mulheres trans. Isso dá a dimensão da ressignificação a que se propõe o projeto”, aponta Nilson. “O livro Memória e Patrimônio tratou dos patrimônios material, imaterial, natural e arqueológico do Brasil Central, atestando seu valor para a preservação da memória de Goiás”, complementa. “Poderíamos ter aproveitado a efeméride dos 300 anos do início da colonização mameluca em Goiás, acontecida em 2022, para avançar, estabelecer marcos de reparação para os povos originários e afrodiaspóricos, além da própria antiga capital, esbulhada com a transferência para Goiânia”, lamenta Jales Guedes, apontando para o resgate dessa dívida.

“Poderíamos ter perenizado programas culturais, realizado concertos, exposições e espetáculos pelo Brasil e pelo mundo, todos evidenciando a reflexão e a ressignificação. O IHGG, o Icebe e a Sociedade Goiana de História da Agricultura, com seus parceiros, fizeram a sua parte. Pode parecer pouco. Mas no futuro as gerações vindouras saberão o que pensava a ‘geração dos 300’”, alega. “Desse modo, o IHGG transformou-se em uma entidade múltipla, que valoriza a gastronomia, a arte, o lazer, o turismo, sem se descurar de sua principal missão no campo cultural. Prova disso é a coleção Goiás +300, além da obra Goiânia, 90 Anos, lançada este ano e fruto de um simpósio realizado em 2023 no IHGG”, enumera Jales Guedes.

<h3>Projetos sem apoio público</h3>

A iniciativa de publicar a coleção Goiás +300 não contou com nenhum tipo de auxílio do poder público. O dinheiro tem sido obtido com patrocínios e parcerias. “O custo de cada box, com três livros e cerca de 1.400 páginas, fica em torno de R$ 100 a unidade. É um valor substancial, todo financiado pela iniciativa privada e por profissionais liberais”, informa Nilson Jaime. “Todas essas ações e projetos têm acontecido sem a alocação de verbas públicas, o que consolida uma nova gestão cultural mais próxima da sociedade e de parceiros privados interessados em investir na cultura”, confirma Jales Guedes. “Em Goiás há ainda muito que se fazer para a preservação de seu patrimônio histórico, natural e arqueológico”, completa, mencionando outras ações que o IHGG tem levado adiante.

“O projeto A História Chama a Escola busca conectar mais assertivamente as novas gerações com a rica História de Goiás e do Brasil. Em 2023 e 2024, o IHGG já recebeu mais de 2.500 estudantes das redes pública e privada de ensino, que fazem uma visita guiada pelos dois prédios do Instituto”, descreve Jales. “O projeto Café com Arte na Casa Rosada transformou o nosso espaço gastronômico (Café Brasileiro Léo Lynce) em um local que divulga o trabalho dos artistas que vivem em Goiás, alcançando até agora o número de 50 nomes. Realizamos em 2023 uma exposição sobre a vida do bispo d. Tomás Balduíno. Em 2024, estamos com uma mostra acerca da trajetória do engenheiro Jalles Machado e em 2025 teremos uma de seu filho, o ex-governador Otávio Lage.”

Uma das principais contribuições para a pesquisa historiográfica, porém, é a hemeroteca, que tem diversos jornais e revistas, de diferentes épocas e lugares, digitalizados. “Hoje disponibilizamos gratuitamente ao pesquisador edições de jornais e periódicos de 31 municípios brasileiros, sendo o maior acervo sobre Goiás disponível na internet, segundo a professora da UFG Rosana Borges, especialista no tema da imprensa goiana”, orgulha-se Jales. Entre as publicações disponíveis para consulta, há edições de jornais de Goiânia, Anápolis, Jataí, Rio Verde, Pirenópolis, Itaberaí, Morrinhos, cidade de Goiás, Pires do Rio, entre outras cidades goianas, além de títulos de São Paulo e Uberlândia.&nbsp;

Há também manuscritos e até cartas enviadas pela princesa Isabel ao seu pai, d. Pedro II. 
“Penso que seria importante os governos atentarem para a grande importância de se preservar a memória e a cultura de Goiás por intermédio dessa coleção. A republicação dos 16 volumes da coleção Goiás +300, com uma tiragem de 5 mil livros, por exemplo, daria uma grande contribuição à cultura e à memória goianas”, acredita Nilson Jaime. Uma memória que também está presente na própria instituição que lidera essa iniciativa. O IHGG foi idealizado e fundado ainda na antiga capital por Americano do Brasil, sendo fundado em 1932, em uma reunião em que estavam, entre outros, Colemar Natal e Silva, que teve participação relevante na mudança da capital e na vida universitária de Goiás, e Luiz do Couto. Sua sede em Goiânia foi inaugurada em 1939, na Praça Cívica.

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