No livro Trabalhador Ocupa Teu Posto: Histórias do Povo das Ruas de Goiânia (Editora Kelps), que será lançado nesta quinta-feira (4), em sessão de autógrafos para convidados no Castro’s Park Hotel, Terezinha Fonseca Crumb e Edgard Araújo recriam a atmosfera de uma cidade recém-nascida. Ao longo de quase 140 páginas, ganham vida trabalhadores, passantes e figuras invisíveis que, entre becos e praças, ajudaram a moldar o coração da capital. São contos que entrelaçam a delicadeza da lembrança e a força do registro de quem esteve presente para testemunhar.No diálogo entre memória e ficção, a obra escrita a quatro mãos pelos primos nasce do encontro entre as crônicas de Terezinha Fonseca Crumb e os relatos de Edgard Araújo. Ela costura personagens que marcaram sua infância em Goiânia e que mais tarde se ampliaram em seu universo literário; ele registra situações que presenciou no cotidiano da cidade. Dessa mescla surge uma Goiânia múltipla: real e imaginada, antiga e sempre presente.Entre figuras inventadas e personagens reais – como Luizinho Louco, que perambulava pela Praça Cívica e arredores do Centro – o livro recompõe um tempo de descobertas, quando a nova capital ainda se desenhava no coração do Cerrado. São relatos que evocam a inocência das crianças diante do inesperado, o humor que nasce de acontecimentos triviais transformados em grandes eventos e o lirismo que resiste mesmo ao retratar vidas anônimas. Assim, cada conto se afirma como testemunho do povo que deu forma às ruas.“Minha prima sempre teve esse interesse em registrar personagens do dia a dia, gente simples, e me fez um convite para que eu também contribuísse na publicação. No meu caso, preferi relatar situações que vivi em Goiânia, como a paixão pelo cinema nos anos 60 ou encontros com figuras que realmente existiram. Essa mistura de fatos reais e criações ficcionais é o que dá ao livro o sabor de memória e, ao mesmo tempo, de imaginação”, conta Edgard Araújo, que assina a segunda parte do livro, intitulada Registros do Cotidiano.A contribuição de Edgard Araújo reúne quatro contos ambientados em cenários marcantes da capital: o Lyceu de Goiânia, vizinho da Rua 19 onde morou; o Cemitério Jardim das Palmeiras; os cinemas que eram referência de lazer no Centro (Cine Goiânia, Cine Casablanca, Cine Goiás e Cine Santa Maria); e, por fim, a natureza, retratada na história de um canário amarelo macho e suas artimanhas em uma caixa de correspondência. Já Terezinha assina a primeira parte, intitulada Episódios Goianienses, composta por dez narrativas.O livro faz uma viagem pela história de Goiânia. A capa, em mosaico, traz o Monumento às Três Raças, de Neusa Morais, em uma visão panorâmica da cidade. O prefácio é assinado pela ex-presidente da Academia Goianiense de Letras, Maria Elizabeth Fleury Teixeira, e o posfácio pelo jornalista e escritor Wilton Fonseca. O título faz referência ao lema do filósofo e político pernambucano Cristiano Coutinho Cordeiro, que viveu em Goiânia entre as décadas de 1940 e 1950. As ilustrações internas são do artista plástico Di Magalhães.Edgar Araújo nasceu em Anicuns e mudou-se para Goiânia aos três anos de idade. Ele faz parte de uma família marcada pela literatura e pelo engajamento político. Seu pai, Almir Turisco de Araújo (1916-2018), além de político atuante, publicou em 1983 o livro Um Filho de Macaúbas, de memórias e relatos. Sua mãe, Ereny Fonseca de Araújo (1913-1999), lançou em 1997 Memórias de uma Vida, autobiografia em relatos. Sua prima e parceira literária, Terezinha Fonseca Crumb, goianiense radicada nos Estados Unidos, publicou À Moda da Casa: Contos Goianos (2015) e, mais recentemente, Entreatos: Romance de uma Larga História (2024).