Joana, personagem de Mariana Nunes em Quanto Mais Vida, Melhor!, novela da faixa das 19 horas da Globo, é uma mulher independente, bem-sucedida profissionalmente, mas que enfrenta um drama pouco abordado na dramaturgia: a solidão da mulher negra. Apaixonada pelo próprio chefe, Guilherme (Mateus Solano), ela acompanha de perto a crise no casamento dele com Rose (Barbara Colen), que, por obra do destino, se aproxima justamente dela. O projeto da médica de levantar uma ala gratuita de atendimento infantil dentro da Clínica Monteiro Bragança tem na ex-modelo uma forte aliada e o sentimento altruísta une a duas. E, nos capítulos que vão ao ar nesta semana, elas estarão juntas em um desfile beneficente para arrecadar fundos para o projeto de Joana e a médica terá seu coração testado, com a proximidade desse casal. Além da possibilidade de colocar luz às questões sensíveis como as afetividades de mulheres negras, na entrevista abaixo, Mariana também exalta a representatividade que seu papel carrega: “Esse é um personagem que eu sempre quis ver na televisão”.Fale um pouco sobre a Joana, seus dilemas e dores.A Joana é uma mulher incrível! Ama sua profissão e é uma excelente cirurgiã cardíaca. Também trabalha como voluntária em um hospital público atendendo crianças. Ela é uma mulher muito ética. Tem valores muito corretos. Joana vive uma realidade muito comum a mulheres negras bem-sucedidas profissionalmente: quanto mais ascensão a gente tem, menor é o nosso convívio com nossos pares. Isso tem melhorado, mas muito lentamente. Eu, particularmente, ando muito cansada dessa realidade.Qual a importância de termos uma atriz negra vivendo uma médica, bem-sucedida? Acredita que vai inspirar outras meninas negras a seguirem nessa profissão?Esse é um personagem que eu sempre quis ver na TV, aliás, gostaria de já ter visto esse personagem na minha infância e adolescência porque médicas negras existem há muito tempo. Claro que depois das cotas nas universidades esse número aumentou, mas acredito que a televisão tem a responsabilidade de dar mais visibilidade a essa realidade que é cada vez mais comum.Em quem se inspirou, como foi a preparação para criar essa personagem?Eu me inspirei em diferentes mulheres negras profissionais da saúde, incluindo minha madrinha, Jovina Flavia, que é dentista. Infelizmente, por conta da pandemia, não pude visitar nenhum centro cirúrgico, mas entrevistei alguns profissionais da área e pude assistir virtualmente a algumas cirurgias.Como sua personagem lida com trabalho voluntário?Joana lida de forma muito natural com o trabalho voluntário que exerce em um hospital público. Ela acha que é seu dever como médica doar parte de seu tempo e de seu conhecimento para pessoas com um menor poder aquisitivo. Assim como tudo em sua vida, Joana é discreta, não faz disso uma bandeira, mas propõe para Guilherme a criação de uma ala para crianças carentes na Clínica Monteiro Bragança.Quem são as atrizes que inspiraram você?Taís Araújo é minha musa. Admiro muito a forma como ela administra sua carreira, porque ser atriz é muito mais que derramar lágrimas em cena. Ser atriz é administrar sonhos, realidade, estudos, racismo, machismo, afetos, frustrações e alegrias também. Muitas vezes, a gente vive uma vida inteira em um mesmo dia. É muito cansativo física e emocionalmente. É muito importante manter o autocuidado, fazer análise e ter pausas, mas a parte financeira é sempre uma questão. Mas seguimos fortes.Os quatro protagonistas retornam à Terra com a missão de refazer suas vidas em um ano. O que você quer realizar no próximo ano?No início do ano, começo um novo trabalho e por isso não terei férias por agora, mas assim que acabar meu próximo projeto, meu desejo é fazer uma viagem longa.Agora que acabaram as gravações da novela quais são seus planos?Agora estou filmando o longa Grande Sertão Veredas, de Guel Arraes e Flávia Lacerda.