O clique para a criação de Serviço de Preto (Editora Goiânia Clandestina), mais novo livro do poeta Mazinho Souza, nasceu a partir de uma provocação. O resultado é uma reunião de 56 poemas que falam, sobretudo, sobre sua ancestralidade. Já em Brinquedo Quebrado (negalilu editora), da escritora Dairan Lima, a paixão como processo inflamatório incendeia as páginas da obra. Impulsionados por editoras independentes, o retorno de feiras presenciais e temáticas multiformes, autoras e autores goianos lançam novos livros. Confira alguns.Brinquedo quebrado Corpo, tempo, espaço, a memória do amor e a paixão como processo inflamatório são questões emergenciais para a escritora goiana Dairan Lima em seu mais novo livro de poemas intitulado Brinquedo Quebrado (negalilu editora). Em relatos autobiográficos, a publicação apresenta 47 poemas sobre uma observação quase peculiar sobre o mundo com pitadas fantasiosas baseadas no cotidiano de uma mulher aberta para a vida e para as paixões. “Eu me considero poeta desde que me entendo por gente”, conta Dairan Lima, natural de Dueré (TO) e residente em Goiânia há mais de 40 anos. “A cidade que meu coração escolheu”, diz ela. Segundo livro publicado da autora, Brinquedo Quebrado cria metáforas sobre o tempo e seus aprofundamentos, além de destacar particularidades da escritora, a exemplo de sua falecida mãe, Domicília, citada na epígrafe e em outros momentos. O livro tem capa ilustrada pela artista visual Emilia Simon e conta com a colaboração da poeta Alda Alexandre, que assina o prefácio da obra. A editora e jornalista Larissa Mundim é responsável pela coordenação editorial, edição e produção gráfica. "Este livro chega em boa hora, as pessoas já estavam pedindo novos versos. Porque Dairan Lima é do tipo de autora que não tem somente leitores e leitoras, ela tem fãs", reflete Larissa.Livro: Brinquedo QuebradoAutor: Dairan Lima Editora: negalilu editoraPáginas: 112Preço: R$ 30www.negalilu.com.br Serviço de PretoA negritude e a ancestralidade de Mazinho Souza estão salientadas em Serviço de Preto (Editora Goiânia Clandestina), seu segundo livro de poemas. Enquanto Cobra Criada (2016) ardia ao longe, deixando entrever, no horizonte, as fumaças da poesia, em sua mais nova obra o escritor cria um incêndio de grandes proporções nos 56 poemas que fazem referencias a entidades de religioes de matriz africana, pensadores antirracistas e artistas negros. "Onde estaria eu, senão aqui, longe da África, vivendo na diáspora, dos meus remendos", entoa Mazinho em um dos versos de Serviço de Preto. Um dos autores mais expoentes da nova geração da literatura goiana, o escritor é graduado em Filosofia pela Universidade Federal de Goiás e pesquisa as estruturas linguísticas decoloniais. Além de idealizar festivais literários e editar publicações, como Antologia Clandestina (2017-2021), Mazinho é arte-educador, promove oficinas de escrita, leitura e pensamento filosófico com jovens e crianças na periferia de Goiânia. "A ideia do livro surgiu, primeiramente, através de uma provocação com um colega de serviço, quando o mesmo identificou um "defeito" em um trabalho que estava sendo feito no piso do prédio e disse: esse é o famoso serviço de preto", explica Mazinho. O episódio teve tamanha reverberação no escritor que, a partir do fato, o goiano se inclinou a identificar não apenas termos, como o título propõe, mas nomes, mitos e símbolos de resistência intelectual, cultural e religiosa da tradição afro-brasileira, no intuito de apresentar os verdadeiros serviços de pretos, ou seja, suas excelências, e assim dar a importância que tais fenômenos merecem.Livro: Serviço de PretoAutor: Mazinho SouzaEditora: Goiânia ClandestinaPáginas: 112Preço: R$ 42A Mulher que Nasceu sem Metafísica "Não queria ter filhos, estava decidida a não ter filhos, mas teve (porque sem metafísica as coisas mudam). Viu que estava certa, melhor não, nunca esse amor que vem pronto, que nem a fonte de duchamp", expressa a poetisa Tarsilla Couto em um dos versos de A Mulher que Nasceu sem Metafísica (Grafisch Atelier Hidrolands). Em sua mais nova publicação, a autora cria uma imagem de uma mulher que compara a metafísica a um corpo que não possui um dos pulmões: sobrevive-se, segue-se vivendo em permanente transformação. O livro surgiu da leitura do poema Tabacaria, de Álvaro de Campos, em que o sujeito lírico avista Esteves, um personagem sem metafísica. A obra estrutura-se em quatro partes que brincam com os princípios da Metafísica, por meio de um conjunto de poemas escritos em terceira pessoa que imagina a vida, a experiência de linguagem, as raivas, as frustrações, os amores de uma mulher que nasceu sem a certeza de que exista esse conhecimento primeiro. Os poemas de A Mulher que Nasceu sem Metafísica foram escritos ao longo de quatro anos e, para se tornarem livro, foram parar nas mãos do artista visual Marcelo Solá e do designer gráfico Maurício Mota que conceberam o projeto visual. Com capa serigrafada em papel de fichário antigo (lembra o cartonado dos antigos arquivos de documentos), a obra sai pela Grafisch Atelier Hidrolands como primeiro livro de poemas da editora especializada em impressão de arte.Livro: A Mulher que Nasceu sem Metafísica Autor: Tarsilla Couto Editora: Grafisch Atelier HidrolandsPáginas: 70Preço: R$ 70www.ojardimlivraria.com.brO Rastro da Lesma no Fio da Navalha Com 17 narrativas fantásticas, de terror e oníricas, o escritor Adérito Schneider apresenta O Rastro da Lesma no Fio da Navalha (Patuá Editora), sua estreia em livro solo. Ao longo da obra, o leitor encontra uma coletânea de contos que se deslocam pelas fronteiras dos gêneros, contaminando a literatura e se contaminando de cinema, artes visuais, memória, confissão, confusão, perturbação e avacalhação. Nas páginas, a tradição do fantástico moderno encontra o realismo social, o surrealismo, o roteiro cinematográfico, a tradição do conto urbano brasileiro, o pop, o pós-moderno, o jornalismo, a pesquisa acadêmica e, especialmente, uma menina morta que não dá descanso.Livro: O Rastro da Lesma no Fio da Navalha Autor: Adérito Schneider Editora: PatuáPreço: R$ 45www.editorapatua.com.br Leia também: - Começa fase presencial do Festival do Boneco, em Goiânia- Terça no Teatro tem show gospel com Leonardo Gonçalves-Imagem (1.2476796)