As comemorações de aniversários, a primeira comunhão e as festas juninas são algumas das lembranças afetivas de infância evocadas na produção do artista plástico Emilliano Freitas, de 38 anos, que desde 2016 mora na cidade de Goiás. A temática dá vida à mostra O Muito que Sobrou, recém-inaugurada na Sala Sebastião Barbosa, na Vila Cultural Cora Coralina. A individual marca a abertura da temporada 2022 do espaço e fica em cartaz até 31 de março, com visitação de segunda a sexta-feira, das 9 às 17 horas. A entrada é franca.Na individual, Emilliano Freitas apresenta um vídeo e 13 pinturas na técnica com esmalte de unha, matéria-prima que é uma referência ao material que era comum em casa - sua mãe era manicure. As obras foram produzidas em 2021, mas a investigação da temática começa em 2019, no doutorado em Arte e Cultura Visual, da Faculdade de Artes Visuais (FAV), da Universidade Federal de Goiás. No período, ele revisitou arquivos de família dos anos 1980 e 1990, em visitas aos pais, que moram em Tupaciguara (MG), sua cidade natal.“Eu buscava um diálogo entre a criança que fui, a partir de fotos e fitas em VHS das minhas memórias, com o adulto que me tornei, para tratar assuntos como repressões, sonhos e vivências. A minha infância foi muito rica em afetividade e nas relações. Guardo imagens da minha avó fazendo bolo e das brincadeiras na rua”, lembra. É a primeira exposição individual de Emilliano Freitas em Goiânia. Na carreira, ele coleciona participações em eventos importantes, como o 43° Salão de Artes Plásticas Waldemar Belisário e a 5ª Bienal do Sertão.O que também contribuiu bastante para essa nova série de trabalhos do artista foi a participação em uma residência artística em São Sebastião, litoral norte de São Paulo. No retiro, ele fez uma pausa na produção com acrílico e óleo sobre tela e passou a criar com esmalte. O que acabou sendo um grande desafio na criação, já que o produto não permite uma mistura de cores com boa finalização, não adere a qualquer superfície e o seu tempo de secagem depende muito de fatores como temperatura e umidade.“É um artista em franco desenvolvimento na carreira. A obra dele é bem realizada, pois é difícil trabalhar com esmalte de unha e ele criou uma técnica muito particular. O Emilliano apanhou para chegar ao aprimoramento do novo material e hoje consegue desenvolver com precisão”, analisa o diretor da Vila Cultural, Gilmar Camilo. “Já a temática dele traz uma sensibilidade à flor da pele com força e numa gama de sentimentos. Ele traz o passado das suas relações para sua obra, o que acaba reforçando sua própria existência”, completa.TemporadaA Vila Cultural Cora Coralina ficou fechada por um ano e cinco meses sem exposições presenciais por conta da pandemia. A retomada foi em agosto de 2021 e a expectativa da curadoria para a nova temporada é realizar um calendário completo. Estão agendados importantes eventos, como a segunda edição do LambesGoia - Festival Internacional de Lambe-Lambe, previsto para junho. A mostra, organizada pelo artista Diogo Rustoff, deve reunir artistas locais e nacionais e ocupar vários espaços no Centro de Goiânia.Outro destaque da programação será a mostra individual de Kboco, que ficou conhecido no mundo da arte contemporânea por suas influências urbanas, da cultura do hip-hop e do skate, com tinta acrílica. Depois de 13 anos morando em São Paulo, o artista goiano retornou para Goiás em 2018 e montou um ateliê em Cavalcante, em meio à Chapada dos Veadeiros. A mudança de ares foi uma oportunidade na carreira para ele experimentar novas técnicas nas suas criações. A expectativa é que seja inaugurada em junho.Mais um destaque da temporada agendada ainda para o primeiro semestre será a exposição de Santhiago Selon, natural de Catalão, que atualmente mora em São Paulo. Na carreira, são mais de 200 obras espalhadas pelo Brasil, como em Santa Catarina e Belo Horizonte, e pelo mundo, como EUA, Suíça e Inglaterra. Ele também tem muitos trabalhos em Goiânia. A previsão é que o calendário seja encerrado com uma coletiva com obras de alunos e professores pesquisadores da UFG, acompanhada de debates.CARREIRAA obra de Emilliano Freitas é fundamentada em investigações poéticas que abrangem as relações entre memórias, temporalidades e espacialidades. Essas questões são abordadas a partir de temas como construção de corpos dissidentes na infância, autobiografia, contranarrativas e territorialidade, em trabalhos com desenho, pintura, audiovisual e intervenções urbanas. Antes de se aprofundar em obras da sua afetividade, o artista fazia uma arte aplicada, direcionada para sua área de atuação, a cenografia.A primeira exposição da carreira foi em 2015, época em que ele morava em Uberlândia e trabalhava como cenógrafo. As suas obras, em acrílico e nanquim, tinham uma relação com a espacialidade e chamavam a atenção pelos traços geométricos, fruto do seu trabalho na área de arquitetura. Conceito que seguiu com ele até 2018. “Naquele período, eu tinha uma investigação, mas não uma consciência crítica do processo, como tenho hoje no meu trabalho”, conta. Emilliano é graduado em Arquitetura e Urbanismo pela Universidade Federal de Uberlândia (2007). Ao longo da carreira, ele participou de várias mostras coletivas e internacionais, como Acropolis Remix Pavilion at The Wrong Biennale nº5 (Europa).SERVIÇOExposição: O Muito Que Sobrou, de Emiliano FreitasLocal: Sala Sebastião Barbosa, Vila Cultural Cora Coralina / Rua 23, esquina com a Rua 3, Qd. 67, CentroPeríodo de visitação: 21 de fevereiro até 31 de março, de segunda a sexta-feira, das 9 às 17 horasAgendamento: vilacultural.coracoralina@goias.gov.br ou pelo telefone 3201-9863. Uso obrigatório de máscara.Entrada gratuita-Imagem (Image_1.2405670)-Imagem (Image_1.2405669)-Imagem (Image_1.2405668)