"Por incrível que pareça, nós sobrevivemos de teatro em Goiás!", admira-se o ator, diretor, produtor e faz-tudo Thiago Moura, um dos criadores do Grupo de Teatro Bastet. A trupe está em plena comemoração, não só por vir conseguindo superar as dificuldades financeiras inerentes a quase toda atividade cultural, mas também porque a trajetória do grupo está completando oito anos.Para marcar a data, foi organizada uma série de apresentações dos três espetáculos longos já montados pelo Bastet em sua história, que serão encenados a partir de hoje no Centro Municipal de Cultura Goiânia Ouro. O primeiro deles, com apresentação única esta noite, às 22 horas, é Eu, Tu e Ele e os ingressos já estão esgotados, prova do prestígio da companhia.De acordo com Thiago, este foi o espetáculo que iniciou um outro momento para o Bastet, criado em 2003 como um grupo de pesquisa e ensino dentro da Escola de Música e Artes Cênicas da Universidade Federal de Goiás. "No início, a ideia era que o grupo só tivesse mulheres no palco. Por isso ele se chama Bastet, nome de uma deusa gata egípcia, entidade ligada à fertilidade dos campos e das ideias", diz. "Nas cerimônias em sua glória, eles louvavam a arte e a música. É algo que tem muito a ver conosco." A primeira experiência da turma foi a cena curta O Conto Contado, trabalho que acabou aceito para integrar a programação do festival Goiânia em Cena de 2004, o que foi um grande incentivo para aqueles estudantes.ParceriasNos anos de 2006 e 2007, o Bastet viveu um outro salto qualitativo, graças às parcerias que firmou com o pessoal da Escola de Teatro Zabriskie. "Foi um período de muita efervescência", conta Thiago. Novas formas de trabalho surgiram e se consolidaram desde então. O viés experimental do grupo, porém, nunca foi deixado de lado. Até hoje todos os envolvidos nos espetáculos, do diretor ao contrarregra, participam, de alguma forma, da idealização das montagens. Todos têm a liberdade de opinar sobre textos e elementos cênicos e de dramaturgia. Internamente, os membros da trupe brincam que "editam" as peças. Tudo é feitocom o objetivo de priorizar o trabalho do ator.Essa opção justifica, por exemplo, o fato de o diretor ser trocado a cada espetáculo. Isso ocorre para que sua presença não fique forte demais, superando os atores no processo criativo. A ousadia e a pesquisa exaustiva também são marcas do Bastet. A peça Bola de Berlim, que será encenada na primeira quinzena de junho no Goiânia Ouro, foi concebida durante quatro anos. Um itinerário que incluiu, por exemplo, a adaptação do conto A Queda da Casa de Usher, de Edgar Allan Poe, e a busca de referências no cinema surrealista. "Nele, há um diálogo intenso entre o teatro e o cinema. Ao todo, fizemos nove versões do texto até chegar àquela que seria a final."ExperimentaçãoAlgo parecido ocorreu com a montagem Eu, Tu e Ele, em que mergulharam na dramaturgia de Silveira Sampaio e a uniram ao expressionismo alemão para criar uma comédia de costumes. Segundo Thiago Moura, cada espetáculo estimula habilidades específicas dos membros do Bastet, que, atualmente, é composto por 12 pessoas.Hoje em dia, ele e outra pioneira, Sandra Santiago, desempenham o papel de gestores. "Chamamos a responsabilidade para nós. Isso evita que os outros integrantes tenham de se preocupar com coisas que não estão relacionadas com o trabalho artístico do grupo." Em geral, a jornada de trabalho em uma sobreloja alugada do Centro de Goiânia, onde fica a sede da companhia, chega a 16 horas diárias.Todo esse esforço tem tido suas recompensas. O Bastet é um dos exemplos de sucesso na conquista de independência financeira para trabalhar. Eles têm projetos aprovados nas leis de incentivo municipal, estadual e federal e foram agraciados recentemente com o Prêmio Myriam Muniz, concedido pela Funarte, para a montagem do espetáculo Vamos a La Praia, que já está em avançado estágio de produção.Mais recentemente, o grupo também tentou a chamada captação direta com o meio empresarial goiano, fora das leis de incentivo. "Não conseguimos patrocínios, mas obtivemos apoios", destaca Thiago. "Esse é um caminho longo que exige aprendizado."As apresentações do Bastet ocuparão o palco do Goiânia Ouro em sete datas até o início de junho. A temporada, batizada de Riso, Sangue e Alguns Atores Fumegantes, terá, além da apresentação de hoje à noite da peça Eu Tu e Ele, a encenação de A História é uma Istória ? texto de Millôr Fernandes ? nos próximos dias 10, 17, 24 e 31. Nos dias 8 e 9 de junho será a vez de Bola de Berlim. Eu, Tu e Ele é dirigido por Ana Cristina Evangelista e tem no elenco Leandro Machado, Sandra Santiago e Thiago Moura. Sandra e Thiago dividem o palco em A História é uma Istória, com direção de Lua Barreto. A mesma dupla de atores conduz a narrativa de Bola de Berlim, com o auxílio de Alinne Mendes e Jonathan Sena e direção de Alexandre Augusto.ESPETÁCULOSEu, Tu e EleHoje, às 22h ? Teatro Goiânia Ouro (ingressos esgotados)Os personagens de Leandro Machado, Sandra Santiago e Thiago Moura são os vértices de um divertido triângulo amoroso, que serve de pretexto para a discussão de recalques do comportamento social. FICHA TÉCNICAElenco: Leandro Machado, Sandra Santiago, Thiago MouraDireção: Ana Cristina EvangelistaIluminação e som: Michelle BezerraCenário: Wagner GonçalvesCoreógrafos: J. Roberto e Geraldo RamosArte do material gráfico: Thiago XavierFotógrafa: Luciana MoreiraFigurinos: Ana Cristina EvangelistaUma história é uma Istória10, 17, 24 e 31 de maio, às 21h ? Teatro Goiânia OuroBaseada no texto de Millôr Fernandes, a obra aborda a evolução do homem de forma crítica e reflexiva, derrubando mitos, questionando ídolos e ridicularizando os "grandes" feitos da humanidade, e narrando-os pela ótica dos excluídos, explorados e derrotados.FICHA TÉCNICAElenco: Sandra Santiago e Thiago MouraDireção: Lua BarretoCenário: Daniela FiuzaFigurinos: Elmira VicentePreparação musical: Maria Angélica PantarottoMúsicas e composições: Jorge BeatFotos: Luciana Moreira, Gilson Borges e Layza VasconcelosLuz: Alexandre GrecoSom: Romildo Villa VerdeOperação de luz e som: Alinne MendesBola de Berlim8 e 9 de junho, às 21h ? Teatro Goiânia OuroInspirada no conto A Queda da Casa de Usher, de Edgar Allan Poe, o espetáculo narra a história de Catarina e Jorge, irmãos gêmeos que vivem afastados da civilização e sequer sabem da existência de um mundo fora dos muros da propriedade que habitam. FICHA TÉCNICADireção: Alexandre AugustoAtuação e criação: Sandra Santiago e Thiago Moura (com participação de Alinne Mendes e Jonathan Sena)Narrador: Duca RodriguesPreparação corporal: Kleber DamasoPreparação vocal: Maria Angélica PantarottoAnimação do prólogo: Tubo ConsultoriaPesquisa sonora: Romildo Villa VerdeTrilha sonora: Sandra SantiagoOperação de som: Izabelle MamedeIluminação: Alexandre GrecoCenografia: Wagner GonçalvesFigurinos: Sociedade de Planejamento em ModaMaterial gráfico: Pepperoni Estúdio de DesignConfecção de cabeças: Deidian da Costa Lucas e Edimar PereiraFotografia: Layza VasconcelosFilmagem: Eduardo CastroRegistro: Gilson P. BorgesLocal: Centro Municipal de Cultura Goiânia Ouro (Rua 3 c/ Rua 9, Centro) / Ingressos: R$ 20 (inteira) e R$ 10 (meia-entrada)