A sala de um apartamento em um condomínio no Goiânia 2 vira um Estádio Serra Dourada nos fins de semana. Não faltam clássicos. Goiás e Vila Nova. Flamengo e Corinthians e até um amistoso entre Barcelona e Real Madrid. Apesar da facilidade em adquirir computadores, videogames e smartphones de última geração hoje, ainda há resistentes em Goiânia que não deixam a tecnologia roubar o espaço do futebol de mesa ou de botão. A modalidade criou uma rivalidade sadia entre pai e filho. Em confrontos equilibrados, o estudante de engenharia civil Ricardo Riemma, 26 anos, desafia o auditor de tributos Waldomiro Kairalla Riemma, 55.A paixão pelo futebol de mesa surgiu há mais de 45 anos na família. Caçula de sete irmãos, Waldomiro começou a jogar em 1970 após a conquista do tricampeonato mundial da seleção brasileira no México. Naquela época não era muito fácil o acesso aos brinquedos eletrônicos. Durante muito tempo os botões ficaram empoeirados em sua casa até o dia em que ele procurou um jeito de interagir com os três filhos. Ele comprou madeira, fez o campo e tirou do armário seus times antigos. O incentivo formou um campeão, o filho. Ricardo é pentacampeão goiano e já ficou entre os quatro melhores no nacional em 2008. “Hoje ele superou o pai”, brinca Waldomiro, orgulhoso.Apesar de ter conseguido não deixar o futebol de botão morrer dentro de casa, o auditor sabe que a concorrência com a indústria dos jogos eletrônicos tem afastado crianças da modalidade, o que tornou uma raridade encontrar seguidores do esporte. Os próprios pais não conseguem convencer os filhos a trocarem o celular por uma partida de futebol de mesa. “Botão é uma paixão herdada. No meu caso, dos irmãos. É uma coisa que trago da infância, quando também soltava pipa e brincava na rua. Infelizmente, os meninos de hoje preferem o videogame, brincam sozinhos e perdem a chance de se comunicar e interagir com outros”, avalia.A mesma missão enfrentada por Waldomiro é o compromisso de Ricardo no futuro. O jovem pretende transmitir a paixão pelo futebol de mesa quando seus herdeiros chegarem para não deixar a modalidade cair no esquecimento dentro da família. Ele é casado, mas ainda não tem filhos. Hoje, coleciona em casa mais de 10 times e tem uma mesa montada na sala. Pelo menos duas vezes por semana ele convoca seu pai para uma partida. Muitas vezes o jogo é de ida e volta, já que eles são vizinhos de condomínio. “A garotada realmente não está tão interessada e se não tiver um incentivo, como aconteceu comigo, ele não sobreviverá”, analisa.O professor Carlos Eduardo da Costa, 56, o Carlão, começou a jogar na década de 70 depois que conheceu a modalidade em campeonatos organizados entre os vizinhos. A paixão foi também passada aos seus dois filhos, o administrador de empresas Rodrigo, 33, e o jornalista Paulo, 27. O mais novo seguiu o caminho do videogame pouco tempo depois. O mais velho continua no esporte, tem no currículo títulos goianos e treina toda semana. “Estou tentando trazer o Paulo de volta”, brinca Carlos. A realidade do futebol de mesa em Goiás é um reflexo do desinteresse dos mais jovens. O Estado ainda não fez nenhum campeão brasileiro, conquistando um vice na categoria sub-18 e um terceiro lugar na sub-15. Existem apenas três clubes: Afumeg, Agine e Goiás – o Atlético, um dos pioneiros foi recentemente desativado - e uma federação goiana criada em 2006, com atualmente 35 filiados - em São Paulo são mais de três mil associados e 24 times registrados. Também são potências do esporte Rio de Janeiro e Paraná. Independentemente das grandes dificuldades em manter viva a modalidade, o que é igual em todas as partidas é o grito de gol.