Vista como uma ferramenta de autoconhecimento, saúde mental e qualidade de vida, a corrida de rua se tornou um fenômeno no Brasil, conquistando cada vez mais adeptos. O Globo Repórter desta sexta-feira (26) revela como o esporte tem impactado positivamente a vida das pessoas, ajudando no combate à depressão e à ansiedade, além de fortalecer vínculos entre amigos, familiares e casais. Em diversas regiões do País, pessoas de diferentes idades e classes sociais se reúnem com um propósito que vai além da performance: criar comunidades inclusivas e promover saúde mental.Um exemplo é o projeto da Ilha do Governador, na Zona Norte do Rio de Janeiro, que reúne centenas de corredores com diferentes níveis de preparo físico. A repórter Monica Teixeira acompanha um treino da equipe liderada por Alessandro Pereira Pinho, conhecido como Mutante. Há 11 anos, ele foi diagnosticado com obesidade mórbida grau 3 e precisou mudar seu estilo de vida. Alessandro afirma que a caminhada, seguida da corrida, foi essencial em seu processo de emagrecimento e hoje se orgulha de ajudar outras pessoas a alcançarem seus objetivos.“O mais bacana desse programa é mostrar que a corrida não é só sobre vencer, fazer o menor tempo ou percorrer grandes distâncias. Muitos grupos estão surgindo simplesmente para reunir pessoas e incentivá-las a se movimentarem. Sem pressão, sem cronômetro, pelo prazer e bem-estar”, conta Monica, que além de acompanhar o treino do grupo, participou de três corridas de rua no Rio durante as gravações.Em São Paulo, Fafá Santos, torcedora da Escola de Samba Mocidade Alegre, é apaixonada pelo carnaval e pelas corridas de rua. Aos 56 anos, ela pratica o esporte há quatro décadas, já participou de oito maratonas e coleciona medalhas. Ao repórter Philipe Guedes, Fafá conta que começou correndo sozinha em provas de 5, 10 e 21 km, mas hoje integra um grupo que treina junto. Mesmo com a rotina agitada como manicure, ela garante seus treinos logo cedo, antes do trabalho. “A corrida faz parte da minha vida. Me dá energia, vitalidade, força. Me deixa mais ativa”, afirma. Ela também revela que, apesar de cuidar dos pés dos outros, precisa dar mais atenção aos seus próprios.O programa também apresenta um estudo do Laboratório de Biomecânica da Universidade de São Paulo, que desenvolveu um método capaz de reduzir em mais de 50% as lesões nos pés dos corredores. A professora Isabel Sacco encontrou soluções simples, utilizando materiais caseiros como algodão, toalha e lápis, a partir de um mapeamento de como a corrida afeta o corpo.Outro ponto importante abordado é a escolha do tênis ideal. Nos laboratórios da Universidade Federal de São Carlos, onde são desenvolvidas tecnologias para calçados esportivos, o repórter Philipe Guedes mostra quais materiais garantem mais conforto e como os tênis se comportam em diferentes tipos de corrida, inclusive na montanha, modalidade que também vem ganhando adeptos.Uma pesquisa do Instituto do Coração acompanhou por um ano o maratonista Hugo Farias, que entrou para o livro dos recordes ao completar 366 maratonas consecutivas. O estudo revelou que o coração de Hugo se adaptou ao esforço extremo, reforçando que o treino é essencial para quem deseja começar a correr e que o mais importante é não desistir. “As pessoas estão buscando a corrida por diversos motivos. Neste programa, vamos apresentar descobertas e informações importantes sobre os benefícios e cuidados. É um tema que muitos acham dominar, mas ainda há muito a se descobrir”, afirma o repórter Philipe.Em Fortaleza, logo nas primeiras horas da manhã, a Avenida Beira-Mar já está tomada por corredores. Foi em um desses treinos que a jornalista Carol Pires conheceu o dentista Feliphe Holanda. Entre conversas antes e depois dos treinos, os dois se aproximaram e marcaram um encontro. Hoje, estão noivos. A repórter Aline Oliveira foi até a orla mostrar como a corrida tem ampliado redes de relacionamento. “As pessoas buscam uma atividade prazerosa e saudável, mas o que vemos é que a corrida virou um estilo de vida. Os corredores compartilham afinidades, objetivos e metas, o que favorece o surgimento de vínculos sociais”, explica Aline.Há também quem encontrou na corrida uma nova fonte de renda. O fotógrafo Carlos Fernandes, que antes registrava imagens da orla para promover o turismo, percebeu uma nova oportunidade ao fotografar corredores. “Depois das fotos, eles começaram a se vestir melhor. Virou um desfile à beira-mar”, brinca Carlos. A influenciadora Carol Zacarias comenta sobre um código criado para paquera entre corredores. “A meia azul virou uma brincadeira popular que os solteiros usam para se identificar e trocar contatos”.O amor pela corrida também é transmitido entre gerações. Inspirado pelo pai, Sebastião Flora, que corre há 50 anos, Cadu Murakami corre quase diariamente, agora acompanhado da filha Inês, ainda bebê. Após perder sua primeira filha, que nasceu sem sinais vitais, Cadu encontrou na corrida uma forma de superar a dor. “O esporte me salvou de uma possível depressão. Entre as coisas que eu mais queria, era correr com minha filha, como fazia com meu pai. Por isso, levo a Inês comigo, como forma de manter esse legado”, compartilha.