Os cinemas brasileiros fecharam o caixa do ano em clima de esperança. Embora cerca de 8% das salas tenham fechado as portas, a quantidade de ingressos vendidos cresceu 32% em relação ao ano anterior segundo o Filme B, site que apura as cifras do setor. É verdade que a quantidade de espectadores registrada em 2021 é 121% inferior à de 2019, ano que os analistas de mercado têm como referência para avaliar os prejuízos causados pela pandemia de Covid-19.É verdade, ainda, que a alta se deve ao sucesso de Homem Aranha: Sem Volta para Casa. Quarta maior bilheteria da história do País e concentrando 22,5% do público total dos cinemas brasileiros em 2021, sem ele esse crescimento não teria passado dos 2,5%. No entanto, entre um período marcado por um abre e fecha tão intenso dos estabelecimentos comerciais, o otimismo do setor vem das análises mensais. Em novembro, quando o Aranha ainda não tinha chegado às telas, os cinemas já tinham recuperado cerca de 75% do público registrado no mesmo mês de 2019.As cifras mensais ainda são motivo de comemoração quando comparadas com as do primeiro ano pandêmico. Em relação a novembro de 2020, quando boa parte das salas já tinham sido reabertas, a alta é de 354%. Há ainda meses em que qualquer comparação soaria irrisória, caso de abril, em que 1.509 ingressos foram vendidos.Ainda é cedo para prever a intensidade com a qual a variante ômicron vai atingir o setor, mas, diferentemente dos shows, cancelados em massa, os cinemas seguem otimistas. Ainda impulsionada por Homem-Aranha, mas já com o reforço de Sing 2 e Turma da Mônica - Lições, a quantidade de espectadores registrada na primeira semana de janeiro já ultrapassa a do mês todo de 2021.Por enquanto, só um grande lançamento foi adiado –Morbius, filme do vampiro anti-herói da Marvel interpretado por Jared Leto, que estava previsto para 21 de janeiro e saltou para 31 de março.Até o fim de janeiro, chegam às telas Eduardo e Mônica, inspirado na canção do Legião Urbana, e Spencer, cotado para a temporada de premiações, em que Kristen Stewart interpreta Lady Di. Em abril, é a vez de um derivado de Harry Potter, Animais Fantásticos - Os Segredos de Dumbledore. Já em maio, é a de um arrasa-quarteirão da Marvel, Doutor Estranho no Multiverso da Loucura. Em junho, por fim, Jurassic World - Domínio estreia acompanhado de duas animações de peso –Lightyear, sobre o famoso patrulheiro espacial de Toy Story, e Minions 2 - A Origem de Gru.Evidente nos próprios títulos, o que há em comum entre as grandes promessas do ano é a nostalgia. Lucrativo, é o sentimento que salvou os cinemas durante a pandemia. Entre os dez lançamentos mais bem-sucedidos do ano passado, que respondem por 65% da bilheteria, só três não são continuações ou derivados de histórias já conhecidas e queridas pelo público. São, porém, apostas do maior estúdio de Hollywood, a Disney.É um cenário árido para as produções nacionais, que, além de enfrentar os percalços da pandemia, perdeu figuras importantes, como Paulo Gustavo, que arrastava multidões às salas com Minha Mãe É uma Peça. O setor ainda amarga a falta de apoio da Agência Nacional do Cinema, que, paralisada pelo governo Bolsonaro, não distribui aos produtores os recursos pagos por empresas para fazer girar a roda do cinema.O cenário, no entanto, ainda é marcado por incertezas –mesmo em Hollywood. A Disney, por exemplo, passou na pandemia a lançar todos os seus filmes no streaming no mesmo dia em que nos cinemas. A Warner adotou a mesma estratégia, mas este ano vai abandonar a ideia, uma prova que, neste laboratório de experimentações, o curso das águas –e das cifras– pode mudar a qualquer momento.