Karoline dos Santos nasceu no bairro do Boqueirão, em Curitiba (PR), no dia 1º de janeiro de 1986. Quando criança, aos 14 anos, enquanto sonhava em ser atriz de comédia e cantora de MPB, viu seu pai morrer vítima do alcoolismo. Tratou de colocar sua jornada na música, momento em que descobriu o rap. A artista nem poderia imaginar que anos mais tarde se tornaria a Karol Conká e que sua vida daria um salto mortal após participar do Big Brother Brasil (TV Globo). A última vez que Karol se apresentou em festivais de Goiânia foi em 2017, quando esteve no palco do Festival Bananada e do Grito Rock. A rapper retorna ao Centro Cultural Oscar Niemeyer neste sábado (16), no segundo dia do 20º Vaca Amarela, com o show do seu mais novo disco, Urucum (Sony Music), lançado na última semana nas plataformas digitais. No álbum, a cantora faz uma imersão a diferentes gêneros da música brasileira, brinca com suas personalidades, como a Jaque É pra Tomar, a Mamacita e a Karoline, ri de si mesma e dá start em uma nova etapa da carreira. Recorde de rejeição do BBB 21, Karol sofreu com o cancelamento, perdeu patrocínios, precisou paralisar trabalhos e se deu um tempo para se reerguer do tombo. Passado um ano de uma das edições mais quentes do reality, a cantora diz que não tem acompanhado o programa. Em entrevista ao POPULAR, a rapper adianta que ainda existem pessoas que não querem associar suas marcas com o seu nome. Afirma também que a terapia e o processo de criação de Urucum ajudaram a dar a volta por cima. “Arte salva, a arte cura, a arte limpa, limpa tudo”, brinca.Karol, você se apresentou em Goiânia em 2017, durante o Bananada e o Grito Rock, quando nem imaginava que entraria na casa do Big Brother Brasil. Qual sua relação com os festivais de Goiânia? Da produção musical eu conheço muito pouco, mas eu gosto muito do clima goiano, das pessoas que moram na região. Eu conheço muita gente. O pessoal de Goiás tem um clima que é diferente, de festividade, comemoração. E quando alguém fala do Vaca Amarela eu já solto um sorriso, porque eu na hora já lembro do clima, dos shows que me apresentei, sobre minha história paralela aos festivais. Passado o momento do reality show e com o lançamento do disco e retorno aos palcos, o cancelamento que você sofreu ainda reverbera na sua carreira?Eu não sinto essa pressão igual à do ano passado. As pessoas comentam que eu já estou descancelada, mas é óbvio que o que aconteceu foi algo bem sério e intenso como tudo na minha vida, bem forte. Ainda ficam pontos de fragmentos do cancelamento mais na parte do trabalho. Existem pessoas que não querem associar os nomes de suas marcas com o meu nome, e eu entendo, mas acredito que tudo é um processo, tudo leva um tempo e eu tenho focado mais no que eu tenho do que no que perdi. Tem sido muito enriquecedor para mim enquanto pessoa ter vivido essa experiência e receber o carinho do público e saber que a arte salva, a arte cura, a arte limpa, limpa tudo. Você tem visto o BBB 22? Para quem está torcendo?Não, eu não acompanho. No comecinho eu consegui, mas acabei mergulhando no trabalho intenso do lançamento e divulgação do álbum, de outros trabalhos. Acabo acompanhando algumas coisas de vez em quando nas redes sociais, mas estou bem por fora. No Vaca você vai apresentar o show da turnê do seu novo disco, o Urucum?Eu estou preparando um show bem diverso. Eu vou apresentar o álbum novo e mantive algumas músicas antigas que fazem parte da história da minha carreira e que também exploram a sintonia com meus fãs. Quem vai me acompanhar é a DJ Sophia, e eu estou muito animada porque é um novo momento, um novo ano, uma nova perspectiva, novas escolhas, e esse novo show vem recheado disso tudo. O disco passeia por vários gêneros e faz uma viagem por sons de diversos lugares do Brasil. Como foi fazer esse trabalho pós fase BBB e paralisações de trabalhos artísticos por conta da pandemia?O processo desse álbum foi intenso e a curiosidade é que ele foi feito logo após a minha saída do reality, em abril de 2021. Eu estava bem fragilizada. Várias pessoas me perguntam como eu consegui criar um disco novo em um momento tão difícil. E a verdade é que a música sempre foi minha válvula de escape. Sempre tive momentos de decepção como todo mundo na vida e transformava isso em música. É aquilo que sempre me alivia. Então, tive momentos de vulnerabilidade que eu me entreguei na música. E no processo de fazer o álbum enquanto fazia terapia e eu levava as percepções das minhas sessões de terapia para as sessões de estúdio de música. Eu ia deixando as feridas mais claras, e me curando conforme lidava com elas, com a verdade. Conforme eu compunha, eu sentia um alívio de botar pra fora. Nesse processo de fazer terapia, fazer música, eu comecei a perceber com naturalidade que o ser humano tem várias personas e em diferentes situações. Aprendi na terapia que a gente nunca é a mesma pessoa durante o dia inteiro e em outros lugares. É natural do ser humano ter várias personas. No meu caso, eu entrei na brincadeira do público de me nomear, de falar da Jaque é pra Tombar, a Karol Conká, a Mamacita, a Karoline. Eu fui nessa e deixei essas personas que me compõem cantar. No álbum tem várias versões de mim. Você já chegou a apresentar o disco novo? Como está a agenda da turnê?Eu fiz um show em Vitória (ES), apresentei o disco no Bloco do Silva. Tinha um público diverso e enorme. Foi muito legal ver as pessoas cantando as músicas novas, um público muito emocionado junto comigo. E foi lindo poder cantar essas canções que serviram como uma espécie de terapia e poder cantar para pessoas que acompanharam tudo o que aconteceu comigo e que buscam aprender de alguma forma. Sobre essa questão de pandemia, retomada dos shows presenciais e políticas culturais em ano de eleições, enquanto artista como você tem visto as atuais governanças?Este ano vai ser bem desafiador, bem agitado. Eu como artista procuro usar minha arte para esclarecer e abrir a mente das pessoas para o que é justo, o que é admissível. Fico muito feliz de perceber que ao meu redor tem pessoas que pensam como eu e que também buscam o mesmo que eu, que é melhoria, evolução, independente de cor, crença. Eu acho que todos nós merecemos uma chance de evoluir e chance de estar em um lugar melhor. Não é segredo para ninguém qual é minha posição política. A minha música, a minha existência já falam por si, o meu posicionamento. Eu creio que este ano teremos uma intensidade bem maior de clareza que nós merecemos. A gente sabe que tem bastante gente arrependida das suas escolhas na eleição passada; então, neste ano eu torço para que tenha equilíbrio e clareza nas escolhas.