Quando a escritora Amália Hermano morreu, 20 anos atrás, em 28 de abril de 1991, apenas poucos amigos próximos sabiam que um grande estudo que ela vinha empreendendo havia três décadas e que estava quase pronto ficava como herança. O livro História de Goiás repousava entre seus documentos pessoais, diligentemente datilografado em quase 600 páginas, muitas delas com cópias em papel de seda. Escrito num longo período entre o final dos anos 1960 e início dos anos 1970, o trabalho finalmente vem a público com a edição organizada pelas historiadoras e professoras Eleuzenira Maria de Menezes e Janete Romano Fontanezi, que, num esforço de garimpagem e paciência, conseguiram recompor a obra mais ambiciosa de Amália Hermano. "É um livro riquíssimo em documentos. Ela fez uma pesquisa muito ampla, colhendo dados, por exemplo, na Biblioteca Nacional e até em Portugal", conta Eleuzenira Menezes. "O que me chamou muito a atenção foi o rigor científico com que ela trabalhou esse livro", acrescenta Janete Fontanezi. As duas passaram três anos debruçadas apenas sobre o legado da historiadora. E pensar que tudo começou por um acaso. Em 2004, Eleuzenira e Janete, ambas hoje com mestrado em História pela UFG, ficaram sabendo, por meio do escritor e historiador José Mendonça Teles, então presidente do Instituto Histórico e Geográfico de Goiás (IHGG), que uma grande quantidade de documentos de Amália Hermano, doados à entidade por sua família, precisava ser organizada e catalogada. "Esse material havia chegado ao Instituto dois anos antes, como a segunda parte da doação do acervo de Amália. A primeira parte já estava organizada", conta Eleuzenira Menezes. Na época, ela desenvolvia uma pesquisa sobre a migração para Goiânia nos primeiros anos da capital. Ao saber que a escritora era uma pioneira da cidade, a pesquisadora se interessou. Logo ela e Janete Fontanezi se depararam com o livro esquecido. "Entrevistando pessoas que a conheceram, ficamos sabendo que a intenção de Amália era ter publicado o livro nos anos 1980. Ela já estava quase concluindo o trabalho quando o seu marido, Maximiano da Matta Teixeira, morreu. Amália parou tudo para fazer um documentário sobre ele e o projeto acabou adiado", relata Eleuzenira Menezes. Pouco antes de morrer, Amália teria voltado a comentar sobre a obra com amigos íntimos. Tudo, porém, acabou encaixotado com seus outros documentos. As caixas ficaram encostadas em um canto por anos, sob o risco de se perderem para sempre. Felizmente, ao serem encaminhados ao IHGG, os volumes mereceram a atenção devida. A confirmação de que tudo o que a autora havia produzido naquele trabalho ainda existia veio com a revelação de seu datilógrafo pessoal, Bento Fleury Teixeira, que confirmou ter batido à máquina centenas de páginas. Era hora de montar o quebra-cabeças. "Fomos encontrando página por página e procurávamos as cópias daquelas partes que estavam ausentes. Encontramos tudo", comemora Janete Fontanezi. A única parte que não pôde ser localizada foi, claro, a que ela não teve oportunidade de escrever: a conclusão. "É uma pena que ela não tenha terminado o livro", lamenta Janete Fontanezi. Isso, porém, não prejudica a importância da obra, que é muito ampla (veja abaixo) . Só as notas complementares passam de 200. Há ainda mapas pouco conhecidos de um Goiás que não existe mais. "Esse livro, em minha opinião, tem grande interesse também para o pessoal do Tocantins, já que ele fala bastante do então norte goiano, antes da divisão do Estado, o que é pouco comum", aponta Janete Fontanezi. Para Eleuzenira Menezes, a obra já nasce como uma referência. "Há poucos livros sobre a História de Goiás tão abrangentes." "É um livro riquíssimo em documentos. Ela fez uma pesquisa muito ampla, colhendo dados, por exemplo, na Biblioteca Nacional e até em Portugal. Há poucos livros sobre a História de Goiás tão abrangentes" ELEUZENIRA MENEZES "O livro ficou bastante denso. Amália menciona os nomes científicos de muitas plantas, de muitas espécies animais" JANETE FONTANEZI -Imagem (Image_1898106-1-1)