Fomentar, incentivar e fortalecer a cultura no interior. O desafio – compromisso de campanha do governador Ronaldo Caiado (DEM) – é enorme e as condições não são favoráveis em nível federal devido ao fim do Ministério da Cultura (MinC). Mesmo assim cidades do interior têm buscado soluções para a área. Levantamento realizado pelo POPULAR mostrou que de 15 cidades polos de Goiás 6 têm secretarias exclusivas para o setor. Porém, apenas duas têm leis de incentivo funcionando para o fomento de produtos culturais, caso de Anápolis e Jataí, enquanto as outras ainda não saíram do papel.Quase todas as cidades pesquisadas criaram seu Fundo de Cultura e o Conselho nos últimos anos, instrumentos necessários para que os municípios sejam reconhecidos e integrados ao Sistema Nacional de Cultura. A regularização garantiria repasses estaduais e federais. O problema é que quase todos os casos não foram para frente por falta de recursos, como em Catalão. “A gestão anterior decretou a lei, mas não deu dotação orçamentária e não legalizou. Não temos estatuto e para fazer é preciso estabelecer o plano municipal. Nós regredimos”, lamenta a diretora da Fundação Cultural Maria das Dores Campos, vinculada à Prefeitura de Catalão, Patrícia Eugênia Rosa Castro.A gestora lembra mais uma baixa para os artistas catalanos. Em 2016, foi criada a Lei Atenas, como é conhecida a cidade por ser a terra de personalidades, como Goiandira do Couto e Amado Batista. Segundo ela, o mecanismo funcionaria no atual modelo da Rouanet concedendo até 80% de dedução de impostos. “Não foi regulamentada”. Apesar da situação, Patrícia Castro conta que a cena é agitada com projetos fomentados pela Fundação. “A gente patrocina lançamentos de livros, festivais e exposições”, destaca.Na histórica Corumbá de Goiás, a situação não é muito diferente. Apesar de ter um conselho há dez anos, não existe uma pasta de cultura com status de secretaria – a área é vinculada à Educação, modelo de quase todos os 246 municípios goianos. As leis de incentivos também nunca foram implementadas e os projetos recebem uma pequena ajuda de custo para serem realizados. “Estamos tentando modernizar a área para ter recursos próprios. É uma luta. Quando você fala que vai tentar fazer algo sempre perguntam de onde vai tirar para investir nisso”, lembra o titular da pasta corumbaense, Juarez Marcelino Machado.Em Aparecida de Goiânia, segunda cidade mais populosa do Estado, não existe uma pasta com autonomia de decisão sobre as políticas culturais. A Cultura também está sob responsabilidade da Educação. O município também não tem mecanismo de fomento ativo. O Fundo Municipal de Cultura foi criado em 2011, mas nunca funcionou. “Estamos finalizando o projeto de melhoria da lei e vamos encaminhar para aprovação do Executivo e a nossa expectativa é que avance”, explica o assessor de projetos culturais da prefeitura, Leonam Borges. Em Senador Canedo, Caldas Novas, Trindade, Porangatu, Luziânia e Itumbiara o cenário é o mesmo: parado e na expectativa.ExemplosO curta-metragem Under The Sun (2019), de Jonathas Veloso, rodou os principais festivais do País e foi premiado nacionalmente e exibido no exterior em lugares como a Califórnia, nos Estados Unidos. A produção é fruto de investimento do Fundo Municipal de Cultura (FMC), gerido pela Secretaria Municipal de Cultura e o Conselho Municipal de Cultura de Anápolis. O mecanismo, criado em 2008, disponibilizou na última edição R$ 512 mil – recurso arrecadado do tesouro municipal - e contemplou 22 projetos, de 60 inscritos. “Os pagamentos estão em dia e em agosto vamos lançar o novo edital”, comenta a secretária municipal de Cultura anapolina, Eva Cordeiro.A cena cultural em Jataí também está em outro patamar. “Estamos consolidando o Sistema Municipal de Cultura. Votamos recentemente o Plano Municipal e sancionamos há pouco mais de um mês. Temos o Fundo de Cultura, o Conselho e a Lei de Incentivo desde 2000 com valor de captação de R$ 150 mil e sem dívidas nos repasses”, conta a secretária de Cultura jataiense, Marina Silveira Martins. “Aqui a maior dificuldade que temos é com os artistas prestarem contas dos projetos, eles ainda têm muita dificuldade”, complementa. O mecanismo de fomento, no entanto, já ficou parado em outras gestões.Na turística Pirenópolis, cidade que já serviu de gravação de novelas da Globo, os artistas têm o auxílio do Fundo de Arte e Cultura de Pirenópolis (FACP), que oferece 21 prêmios nas categorias de música, audiovisual, folclore, museu, artesanato e literatura. O valor total é de R$ 150 mil e o recurso vem do Estado. Para selecionar os vencedores é contratado um júri com profissionais de fora. “É uma maneira de incentivar a classe como quando fizemos uma vez um festival de novos talentos com verba de emenda parlamentar. A gente se vira”, destaca o secretário pirenopolino Carlos Alberto Rego.-Imagem (1.1780663)