Quem já não ouviu esses versos em algum momento de sua vida escolar? “Minha terra tem palmeiras/ onde canta o sabiá./ As aves que aqui gorjeiam/ não gorjeiam como lá.” Sim, o poema A Canção do Exílio, de Gonçalves Dias, há décadas vem sendo citado e analisado na vida escolar de milhões de alunos por gerações. Algo que não é negativo, obviamente. As leituras escolares são fundamentais para a formação do hábito tão importante de consumir as obras de autores brasileiros e de fora. Mas esse processo tem seus riscos inerentes. Um deles, muito debatido, é o de que a leitura pode ser encarada como uma obrigação, não criando estímulo, mas até uma potencial aversão. Outro é organizar autores do passado em nichos muito estruturados, como se não houvesse variedade entre eles. Os chamados românticos do século 19 sofrem com essa visão mais apressada sobre seus legados. Mas dois livros que acabam de ser lançados pela professora goiana Cilaine Alves, livre-docente de Literatura Brasileira na Universidade de São Paulo, mostra que não só Gonçalves Dias, mas muitos outros autores brasileiros daquele período não escreveram em uníssono. Eles exploraram temáticas, artifícios e estilos que extrapolam a imagem de que seriam necessariamente tributários a determinadas definições, como “românticos” (ver entrevista). Em Fragmentos de Humor, Cilaine trata das obras de Álvares de Azevedo, Bernardo Guimarães e Manuel Antônio de Almeida. Em Estranhezas do Século Romântico, os autores analisados são Gonçalves Dias, Sousândrade e Gonçalves de Magalhães.