Ah, pois, no conforme miro e vejo, o por dentro de mim, segundo o consentir dos desarrazoados meus pensares, é o brabo cavalo em as ventas arfando, se querendo ir, permanecido apenas no ajuste das leis do bem viver comum, por causa de uma total garantia se falando em quem m’as dê. O que seria do mundo sem a poesia, ainda mais quando ela nos atinge lá na boca do estômago, lá na base da coluna, lá dentro do coração? O que seria do mundo sem esses versos que vêm de Minas, esses do ferro e do sertão, esses do cotidiano e do insondável, esses dos fogões a lenha e das lembranças cálidas, esses das montanhas e dos riachos? O que seria do mundo sem o lirismo que dialoga com os grandes mestres, os nossos maiores patrimônios? O que seria do mundo sem Adélia? Não dá para saber o quão mais pobre esse mundaréu de Deus seria se há 90 anos, na bucólica Divinópolis, não tivesse nascido mais um bocadinho da poesia mineira. Deram a ela o nome de Adélia, que significa nobreza, linhagem das mais altas que se possa vislumbrar. Nasceu no clã dos Prado, de raízes fincadas naquele rico chão há muitas gerações, batizando até cidades e entrando nas narrativas históricas como protagonistas. Adélia Prado chegou a essa existência no ano da Intentona Comunista, nos atropelos da primeira era Vargas, nos primeiros avisos de que algo grave estava para acontecer no mundo. Quando criança, deve ter ouvido comentários da guerra, dos homens que lutam entre si, dos conflitos diários dessa jornada em que todos estamos. E dali extraiu a beleza.