WEBSTORIES: Obras primas celebram os 100 anos do estilo art déco

Um navio de concreto atracado no meio da cidade. É assim que muitos arquitetos e artistas definem o imaginário do Teatro Goiânia, uma das maiores obras-primas do conjunto art déco goianiense. Com linhas e geometrias que refletem o espírito modernizador da construção da então nova capital de Goiás, a inauguração do espaço foi marcada pelo Batismo Cultural de Goiânia - em 5 de julho de 1942 - e se mantém como o mais imponente espaço de arte do Estado.

Em 2025, o estilo art déco completa 100 anos desde sua consagração na Exposição Internacional de Artes Decorativas e Industriais Modernas, em Paris. Surgido na França, o movimento é marcado por elegância modernista, e se espalhou pelo mundo como símbolo de progresso. Goiânia, projetada nos anos 1930, incorporou o art déco em suas construções públicas e privadas, tornando-se uma das cidades brasileiras com maior número de obras nesse estilo.

O POPULAR inicia neste sábado (5) uma série de reportagens sobre os principais monumentos em art déco da capital. Ao longo desse período, serão revisitados marcos como a Estação Ferroviária e o Relógio da Avenida Goiás, entre outros ícones que ajudam a contar essa história. Cada reportagem trará detalhes sobre as construções, o contexto da Goiânia de então, curiosidades sobre os projetos, os arquitetos, os usos originais e as transformações que esses espaços sofreram com o tempo.

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	<li>Veja na TV Anhanguera:&nbsp;<a href="https://g1.globo.com/go/goias/videos-ja-1-edicao/video/goiania-foi-uma-das-primeiras-cidades-a-adotar-estilo-art-deco-no-mundo-13559658.ghtml" target="_blank">Goiânia foi uma das primeiras cidades a adotar estilo Art Déco no mundo</a></li>
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A primeira parada é no Teatro Goiânia, projetado por Jorge Félix, o mesmo arquiteto que assina outras edificações no Centro, como o Coreto da Praça Cívica e a Paróquia Imaculado Coração de Maria. “As linhas e geometrias do Teatro Goiânia são, na minha visão, um belíssimo exemplo de como o art déco foi tropicalizado: mantendo a clareza geométrica e a ambição de modernidade, mas adaptando-se a um contexto local, tanto urbano quanto cultural”, reflete o atual diretor do teatro, Marco Antonini.

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ARQUITETO POETA - “Sertanejo, tosco e mal acabado. Figura sem prumo, deselegante. Eu descubro em mim a cada instante.” Os versos do poema Auto-Retrato são de autoria do arquiteto Jorge Félix. Além de poeta nas horas vagas, era engenheiro-arquiteto da Secretaria de Estado da Economia Pública (Diomício Gomes / O Popular)

Quando foi inaugurado, o espaço era revisto como cine-teatro para exibições de filmes e espetáculos cênicos. Na semana da inauguração, foi exibido Divino Tormento, drama musical de W. S. Van Dyke. Mais tarde, a Companhia Eva Todor inaugurou o palco com o espetáculo Colégio Interno, de Ladislaw Todor.

“Na década de 1930, os navios eram o ápice da tecnologia de transporte e símbolo de progresso. Projetos déco buscavam transpor esse espírito para edifícios fixos”, reforça Antonini. “O prédio se tornou um ‘navio atracado’ no centro da cidade, levando a população ‘a bordo’ para uma experiência cultural. As linhas horizontais, reminiscentes de conveses e janelas de cabine, reforçam isso”, completa.

O professor e pesquisador em História, Daybson Junior, é autor da pesquisa O Mar nas Planúrias Centrais do Cerrado Goiano: Patrimônio Cultural Marítimo - A Influência da Mentalidade Marítima no Teatro Goiânia&nbsp;(2023). O estudo do pesquisador reforça a presença das linhas e adornos náuticos nos elementos do espaço artístico.&nbsp;

“O teatro foi construído no formato de uma embarcação, a qual, embora sem movimentação nos mares e oceanos, foi pensada para se movimentar em direção ao horizonte sem fim oferecido pelo ideal de progresso”, comenta Daybson em sua pesquisa. “Ao longo do período e para além da arquitetura, paisagismo, louças, joias, rádios e relógios, tudo o que se possa imaginar, o art déco exerceu influência. Assim, a arquitetura e o designer naval, que também recebera sua influência, tiveram seu auge nos interiores dos transatlânticos”, diz.&nbsp;

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ESTRELA - “As lembranças que guardo do Teatro Goiânia são enormes. Do carinho do público. Com Piaf, no final do espetáculo, o público se levantou e veio para a beira do palco”, disse Bibi Ferreira, que se apresentou diversas vezes no teatro (Diomício Gomes / O Popular)

<h2>Futuro restauro</h2>

Com o caminhar das décadas, o teatro passou por reformulações. A maior delas foi, com certeza, a incorporação da Vila Cultural Cora Coralina, anexo criado em 2013 durante a gestão de Marconi Perillo. Gerido pela Secretaria de Estado da Cultura (Secult Goiás), o edifício recebe turnês nacionais e internacionais, festivais cênicos, mostras de cinema e shows musicais.

Para o diretor do Goiânia Art Déco Festival, Gutto Lemes, todo bem tombado com mais de 50 anos merece a cada cinco anos uma avaliação mais profunda do estado de conservação. “Todos os anos o Teatro Goiânia precisa do mínimo de manutenção para garantir essa preservação. O espaço carece de cuidados para continuar a ser um dos ícones da arquitetura art déco goianiense”, reflete o turismólogo.

<div class="p-readmore-box"><a href="https://opopular.com.br/magazine/em-homenagem-aos-300-anos-da-cidade-de-goias-siron-franco-inaugura-instalac-o-com-pedras-preciosas-1.3261153" target="_self">Em homenagem aos 300 anos da cidade de Goiás, Siron Franco inaugura instalação com pedras preciosas</a> 
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O último grande restauro que o prédio passou foi há mais de 15 anos. Desde então, a equipe da Superintendência de Patrimônio Histórico e Artístico Nacional da Secult Goiás tem realizado reparos e melhorias periódicas na manutenção do edifício, mas uma reforma completa já está em curso com recursos provenientes do Programa de Aceleramento e Crescimento (PAC).

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“Estamos fazendo a instrução da licitação dos projetos que vão servir de base para o restauro. No caso do Teatro Goiânia, entendemos que é primordial estar com o projeto executivo completo para poder licitar devido à toda sua complexidade”, explica a superintendente Bruna Arruda. “Acredito que em torno de oito meses já haverá o desenvolvimento destes projetos. Sabemos que é um prédio que realmente precisa e merece esse cuidado. É um local importante para o Estado e, também, para o cidadão”, salienta.

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MITOS - Diversas lendas da época da construção rodeiam o teatro, como o túnel que liga o espaço ao Palácio das Esmeraldas (Divulgação/Acervo MIS)

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Marco do Batismo Cultural, Teatro Goiânia abre a série do POPULAR sobre o centenário do art déco

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Navio de concreto

Há um paralelo inegável entre a Quasar Cia. de Dança e o Cerrado. Assim como o bioma ressurge após a seca e as queimadas mais duras, a companhia goiana, mesmo diante das intempéries do cenário cultural e da escassez de fomento, resiste ao tempo e se reinventa a cada novo espetáculo. De volta ao palco do Teatro Goiânia, neste sábado (19) e domingo (20), a Quasar apresenta Menos da Metade, obra que convoca o público a sentir a urgência de preservar o bioma que nos cerca.

Criado em 2023 para celebrar os 35 anos da companhia, Menos da Metade marca uma inflexão no percurso artístico do coreógrafo Henrique Rodovalho, que abandona, pela primeira vez, os temas existenciais para mergulhar em uma questão concreta. “É um assunto muito específico, do lugar de onde a Quasar vive, trabalha e cria. A gente vivencia esse tema diretamente”, afirma. “Levar a devastação do Cerrado para o palco com a mesma dimensão que tem para nós foi muito desafiador. Não queria cair no lugar comum, nem suavizar o que está acontecendo. Foi difícil transformar essa urgência em linguagem de movimento, mas o retorno tem sido muito compensador.”

Em vez de denunciar com palavras, Rodovalho denuncia com gestos. O palco se transforma em paisagem e clamor. A dramaturgia é sensorial e simbólica, sustentada por um elenco de bailarinos goianos e por uma equipe criativa afiada: trilha original de Luiz Clímaco e Henrique Reis, cenário de Marcus Camargo, figurinos de Cássio Brasil e as vozes impactantes de Cláudia Vieira e Grace Carvalho. Com 70 minutos de duração e classificação livre, o espetáculo busca tocar o público mais pelo sentimento do que pela explicação.

A luz, também assinada por Rodovalho, acompanha as estações do bioma e suas feridas. “O público sente o cheiro da seca, o som das queimadas, a presença quase impositiva do gado”, descreve o coreógrafo. “E se comove, principalmente, com o desfecho melancólico e resiliente que é o nosso ipê amarelo.” O espetáculo se estrutura em quatro momentos: as queimadas, a seca, o impacto da agropecuária e o desmatamento. Cada um deles é tratado com a seriedade e a densidade que o tema exige. “É uma tentativa de fazer o público sentir o Cerrado no corpo, suas texturas, cheiros, resistência e fragilidade.”

O final, protagonizado pelo ipê, é um respiro diante da devastação: “Ele floresce no momento mais difícil, no auge da seca, como se dissesse: ainda estamos aqui”. Menos da Metade é também uma declaração de pertencimento. “Se existe alguma companhia nacional que tinha de tratar desse tema, essa companhia tinha de ser a Quasar”, diz Rodovalho. “Há uma força muito grande em tratar de algo que nos pertence. O Cerrado é nossa origem, nosso lugar. Essa obra é, para a Quasar, também um recomeço simbólico.” Em um tempo em que a destruição parece inevitável, a Quasar reage com aquilo que sabe fazer melhor: transformar beleza e resistência em movimento.

Serviço

Menos da Metade, com a Quasar Cia de Dança

Data: Sábado (19), às 20 horas, e domingo (20), às 19 horas.

Local: Teatro Goiânia – Avenida Tocantins, Centro, Goiânia (GO)

Duração: 70 minutos

Classificação indicativa: Livre

Ingressos: A partir de R$ 50 á venda pelo Sympla e na bilheteria do teatro nos dias do espetáculo

Informações: @quasarciadedanca

Sobrevivência em risco

Patrimônio dos goianos, a Quasar Cia de Dança atualmente sobrevive por meio de editais públicos e convites para apresentações, pois o modelo de organização social, que chegou a ser uma promessa governamental, não avançou. Não há mais uma sede, uma escola e um elenco fixo. “Esse é o modelo que está sendo mais viável, então, os editais públicos e os contratos de apresentações são onde estamos dando continuidade ao trabalho da Quasar e a um trabalho no coletivo”, explica a diretora Vera Bicalho. A companhia prioriza a criação de novos espetáculos e sua circulação, sem manter a dinâmica de escola ou projetos individuais, focando no trabalho coletivo.

Vera destaca que a Quasar vive um momento de grande resiliência diante das instabilidades do setor cultural brasileiro. “O País é dinâmico e se movimenta muito com as questões culturais e políticas públicas. Nada tem muita sequência ou estabilidade”, comenta. Por não ter recurso de manutenção contínua, a quantidade de trabalho diminuiu nos últimos anos. “Optamos por trabalhar por projetos: aprovamos um projeto, executamos e partimos para outra oportunidade.”&nbsp;

Para Vera, o que mantém a Quasar viva é a paixão dos que acreditam no trabalho. “Ver o espetáculo pronto no palco, o público presente e reagindo de forma positiva, emocionado, feliz, comentando e aplaudindo, é o que nos mantém vivos”, afirma. “A vontade de estar em cena, de deixar nosso recado, seja ele poético, político ou crítico, mas sempre importante para aquele momento, que o público compreenda a mensagem através da arte, é uma paixão que a gente sente.” Sobre o diálogo com o poder público e a iniciativa privada, a diretora ressalta que, apesar do reconhecimento da companhia, o relacionamento institucional é limitado e frágil.&nbsp;

“Temos o reconhecimento do poder público, mas não temos um relacionamento efetivo. Não conseguimos que eles vejam a importância dos 37 anos da Quasar, uma companhia respeitada nacional e internacionalmente, que criou uma linguagem própria e contribui para o desenvolvimento cultural do estado e do País”, avalia. Ela lembra ainda o impacto da Quasar no campo acadêmico, citando a pesquisa de mestrandos e doutores sobre sua linguagem e a inserção do trabalho da companhia em livros didáticos de arte e cultura. “Vejo respeito, mas não um diálogo que nos dê possibilidade de seguir de forma contínua, com subsídio que permita essa continuidade”, lamenta.

Quasar São Paulo

Após as apresentações em Goiânia, a Quasar vai estrear o espetáculo Céu de Pêssego, que marca a expansão da companhia para São Paulo. Com um elenco formado principalmente por ex-bailarinos da Quasar e artistas com quem Henrique Rodovalho já trabalhou, o novo espetáculo celebra o reencontro e o diálogo entre esses profissionais, muitos já com 40 anos ou mais. “É uma montagem linda, que partiu do nome, e que mostra a dança de cada um neste momento da vida”, explica o coreógrafo. O espetáculo estreia dia 27 de agosto na Semana Paulista de Dança, programação realizada pelo MASP.

Quasar Cia. de Dança apresenta espetáculo que denuncia a devastação do Cerrado

DANÇA

Ela mistura espiritualidade, astrologia, numerologia e autoajuda com uma linguagem, no mínimo, descontraída. Fenômeno nas redes sociais, Márcia Sensitiva desembarca neste sábado (12) para apresentar a palestra Acorda pra Vida, no Teatro Goiânia, às 20 horas. A proposta é unir espiritualidade e bom humor em uma noite de reflexões e “energização coletiva”. “Nunca estive em Goiás, estou super feliz de estar aí, de conhecer as pessoas de perto, de ver e abraçar vocês. Espero trazer boas lembranças”, disse em entrevista ao POPULAR.

E ela vem empolgada. A proposta é trabalhar temas como prosperidade, saúde, amor, inveja e autoestima, usando seus famosos vídeos virais como ponto de partida para discussões espirituais com humor e firmeza. Márcia Fernandes — nome de batismo — nasceu em São Paulo em 1952 e, desde criança, convive com o mundo espiritual. “Eu cresci no meio de pessoas que entendiam a vida após a morte”, conta. Ela ficou famosa por suas previsões e análises espirituais em programas de TV e rádio, além de suas redes sociais.

“Desde pequena, lidei com o invisível e isso é muito importante na minha vida até hoje.” A escolha pela carreira como sensitiva, numeróloga, astróloga e mestre de reiki veio naturalmente, unindo fé e vocação. O estilo é aquele jeitão autêntico, que às vezes parece o de uma amiga que diz verdades na cara. Não por acaso, Márcia se tornou símbolo de uma espiritualidade sem enrolação.

Os bordões mais conhecidos são carregados de personalidade, usados em suas previsões e comentários. Expressões como “Para de ser doida!”, “O seu fracasso é você mesmo” e “Vai estudar, meu amigo!” conquistaram o público pela espontaneidade. “Sempre respondi aquilo que vem do coração. As pessoas querem isso — querem ser verdadeiras”, acredita. O sucesso, especialmente entre o público jovem e LGBTQIA+, veio como consequência desse estilo.

Hoje, seus vídeos somam milhões de visualizações, com frases que viram meme e conselhos espirituais que viram mantra. No palco do Teatro Goiânia, a promessa é de uma verdadeira aula espiritual — com pitadas de stand-up. “Se você já viu as minhas famosas broncas em algum vídeo por aí, deve saber que às vezes a gente precisa de uma verdadeira sacudida pra recuperar os ânimos”, brinca.

No evento, ela também comenta os vídeos mais marcantes da sua trajetória, relacionando cada tema às dores e dúvidas que todo mundo enfrenta. Além da conversa, o público também participa de uma energização coletiva com a corrente médica do dr. Bezerra de Menezes. Para potencializar a experiência, ela recomenda um “jejum espiritual” nos dois dias anteriores, com abstinência de sexo, álcool, cigarro e carne vermelha. “É uma forma de purificar o campo vibracional e receber melhor a energia”, orienta.

Com décadas de experiência e presença constante em programas de rádio e TV — como Mais Você (Globo), A Tarde É Sua e Vou Te Contar (Rede TV) —, Márcia conta que pretende continuar expandindo sua missão: ajudar as pessoas a despertarem espiritualmente e tomarem as rédeas da própria vida. “Minha missão sempre foi ajudar. O que me motiva é ver que, graças a Deus, eu consigo atingir meu foco.”

Quando questionada sobre uma previsão para Goiás durante a entrevista, Márcia Sensitiva não titubeou: “Goiás é maravilhoso, localizado bem no coração do Brasil. É uma terra fértil, habitada por pessoas inteligentes e de grande potencial, que tiveram a sorte de nascer nesse lugar abençoado. Tenho absoluta certeza de que o desenvolvimento humano, intelectual, mental e espiritual aí é elevado. Portanto, meus parabéns a todos vocês!”

SERVIÇO 
Palestra: Acorda Pra Vida com Márcia Sensitiva 
Data: Sábado (12), às 20 horas.&nbsp; 
Local: Teatro Goiânia. Rua 23, 253 – St. Central, Goiânia/GO 
Ingressos: R$ 85 a R$ 370 
Venda online: www.ingressodigital.com (taxa de serviço aplicada) 
Pontos físicos: Komiketo Sanduicheria – Av. T-4, 6000 – Serrinha (12h às 22h) 
Bilheteria: Apenas no dia do evento (12/7)

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Tradição do além&nbsp;

A popularidade do oculto é um fenômeno que atravessa gerações, combinando tradição, entretenimento e a busca por sentido em tempos de incerteza. Figuras como o porto-riquenho Walter Mercado, com seu estilo extravagante e mensagens de paz, amor e astrologia transmitidas pela TV, conquistaram milhões de seguidores e se tornaram verdadeiros ícones culturais. No Brasil, João Bidu consolidou sua imagem como o "astrólogo do povo", popularizando horóscopos diários em revistas, rádios e programas de televisão, além de dominar o meio digital com previsões acessíveis e linguagem direta.

Não foi por acaso que nomes como Mãe Dinah também fizeram tanto sucesso: com previsões diretas e tom enigmático, ela chegou a antecipar tragédias marcantes, como a morte dos Mamonas Assassinas. Márcia Sensitiva bebe dessa mesma fonte, mas seu diferencial está na apropriação da linguagem dinâmica das redes sociais.&nbsp;

Esse ambiente, marcado por algoritmos, personalização e viralização, favorece um discurso híbrido que mistura fé, humor e autoajuda. O “místico pop” não rejeita a tradição, apenas a adapta para o feed digital: em vez da tenda ou do altar, o palco agora é o story do Instagram, o vídeo curto do TikTok ou o podcast com conselhos espirituais. Márcia representa exatamente essa virada — uma sensitiva de fala simples e carisma direto, que une a ancestralidade do oráculo com a rapidez do like.

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Médium queridinha da internet e da TV, Márcia Sensitiva ministra palestra em Goiânia

Entre oráculos e memes

Lá do alto, o tempo parece não se movimentar desde 1942, quando a Torre do Relógio foi erguida em pleno início da Av. Goiás. No corre-corre dos dias, ele pode até passar despercebido por muitos, mas para o diretor do Goiânia Art Déco Festival, Gutto Lemes, a maior obra-prima do art déco da cidade é, sem sombra de dúvidas, o relógio de quatro faces. “Seu revestimento em pó de pedra de malacacheta na cor cinza e a coroa ornamentada com estilismo geométrico o faz imponente e requintado”, defende.

No ano em que se comemora o <a href="https://opopular.com.br/magazine/marco-do-batismo-cultural-teatro-goiania-abre-a-serie-do-popular-sobre-o-centenario-do-art-deco-1.3284818" target="_self">centenário do art déco no mundo</a>, o POPULAR dá continuidade a série de reportagens sobre como o movimento arquitetônico influenciou o nascimento da capital. Goiânia, projetada nos anos 1930, incorporou o estilo em suas construções públicas e privadas, tornando-se uma das cidades brasileiras com maior número de obras nessa linguagem.

<ul style="padding-right: 0px; padding-left: 0px; margin: 0px 0px 5.5px 25px; color: rgb(0, 0, 0); font-family: &quot;Lucida Grande&quot;, &quot;Lucida Sans&quot;, geneva, arial, sans-serif; font-size: 11px;">
	<li>Veja na TV Anhanguera:&nbsp;<a href="https://g1.globo.com/go/goias/videos-ja-1-edicao/video/goiania-foi-uma-das-primeiras-cidades-a-adotar-estilo-art-deco-no-mundo-13559658.ghtml" style="color: rgb(0, 136, 204); text-decoration-line: none;" target="_blank">Goiânia foi uma das primeiras cidades a adotar estilo Art Déco no mundo</a></li>
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A Torre do Relógio, além de falar sobre tempo, também reverbera questões relacionadas ao espaço público e ao surgimento da Av. Goiás, que passou por tantas mudanças e transformações. “Projeto do arquiteto Américo Vespúcio Pontes, esse exemplar único e monumento de utilidade pública, traz um relógio de quatro faces e um sino que badala informando as horas. Uma obra-prima do art déco goianiense”, explica Gutto.

<img attr-cid="policy:1.3287269" attr-version="policy:1.3287269:1752264446" class="p-smartimage" src="/image/policy:1.3287269/image.jpg?f=default&amp;w=400&amp;q=1" /> 
A Torre do Coreto guarda características marcantes do art déco goianiense, como os elementos geométricos que coroam as quatro faces (Diomício Gomes / O Popular)

Nos anos 1940, relógios públicos e sinos de igrejas eram os principais mecanismos para a população da cidade se informar sobre as horas no decorrer do dia. Não por menos, a Torre do Relógio foi erguida em um ponto estratégico da Av. Goiás: ao lado da Praça Cívica e dos principais edifícios públicos e órgãos administrativos da então nova capital de Goiás.

A torre foi inaugurada no dia 5 de julho de 1942, como parte do Batismo Cultural de Goiânia, evento que marcou a oficialização da capital e a inauguração de diversos edifícios e espaços públicos. Em 2003, o relógio e outros 21 monumentos e edifícios de Goiânia foram tombados pelo Instituto de Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan) como Patrimônio Cultural Brasileiro, protegendo o conjunto arquitetônico da cidade.

<div class="p-readmore-box"><a href="https://opopular.com.br/magazine/marco-do-batismo-cultural-teatro-goiania-abre-a-serie-do-popular-sobre-o-centenario-do-art-deco-1.3284818" style="font-size: 12px;" target="_self">Marco do Batismo Cultural, Teatro Goiânia abre a série do POPULAR sobre o centenário do art déco</a> 
<a href="https://opopular.com.br/opiniao/editorial/plano-turistico-de-goiania-1.3277374" style="font-size: 12px;" target="_self">Plano turístico de Goiânia</a> 
<a href="https://opopular.com.br/opiniao/coluna-giro/justica-determina-que-prefeitura-de-goiania-devolva-grande-hotel-ao-inss-1.3256584" style="font-size: 12px;" target="_self">Justiça determina que Prefeitura de Goiânia devolva Grande Hotel ao INSS</a></div>

“No alto, o relógio exibe diversos desenhos geométricos, tanto na horizontal como na vertical. Sobre o mostrador, um elemento vazado com curvas sinuosas faz uma síntese do art déco, que se completa com frisos e ornatos geométricos no coroamento da torre”, descreve o pesquisador Wolney Unes no livro Goiânia Art Déco - Dossiê de Tombamento (2010). O profissional, um dos maiores estudiosos do movimento arquitetônico na formação da capital, ainda destaca a intervenção que o bem patrimonial passou em 1998, com pintura de esmalte nas ferragens e recuperação da iluminação interna.

Em 2021, o Iphan restaurou o monumento em uma obra que custou mais de R$ 600 mil. Na época, toda a parte de maquinaria foi trocada. Passados quatro anos, o relógio já parou de funcionar. Em nota ao POPULAR, a Secretaria Municipal de Cultura (Secult Goiânia) informa “que a Diretoria de Políticas, Ações e Patrimônio Cultural tem uma equipe técnica que faz vistoria periódica aos monumentos culturais da cidade tombados pela Prefeitura de Goiânia, que infelizmente sofrem com a ação do tempo e com o vandalismo”.

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Os elementos déco do Coreto da Praça Cívica fazem do bem tombado uma obra-prima da cidade (Diomício Gomes / O Popular)

<h2>Palco de histórias</h2>

Imagina a cena: Goiânia, 1942. No dia do Batismo Cultural, moradores vindos de todos os pontos da cidade, de Campinas ao antigo Bairro Popular, se reúnem na Praça Cívica para apreciarem a apresentação da banda sinfônica, que faz a estreia do Coreto. Um dos principais ícones art déco, o monumento é uma joia arquitetônica no meio do Centro da capital.

“Pela riqueza de detalhes e cuidado no acabamento, é um dos exemplares mais elaborados do art déco goianiense. Na escadaria há um contraste entre elementos retos e circulares, que se repetem nos palcos internos”, comenta o pesquisador Wolney Unes. “O rendilhado no alto da murada externa proporciona um jogo de luz e sombra. O conjunto dessas características faz deste monumento uma pequena obra-prima”, completa.

Projetado pelo arquiteto Jorge Félix, o mesmo do <a href="https://opopular.com.br/magazine/marco-do-batismo-cultural-o-teatro-goiania-abre-a-serie-do-popular-sobre-o-centenario-do-art-deco-1.3284818">Teatro Goiânia</a>, ao longo das décadas o Coreto passou por modificações, como nos anos 1970, quando foi descaracterizado, se transformando em ponto de informações turísticas. Em 1978, o então prefeito Hélio Mauro Umbelino Lobo fez com que a obra voltasse ao modelo arquitetônico original, sendo necessário que a prefeitura fosse buscar o pedreiro que havia participado da primeira construção, anos antes.

Palco de diversas manifestações, como festas, cortejos, pronunciamentos políticos e manifestações sociais, o Coreto passou por uma reforma em 2020, em um minucioso trabalho de recuperação integral da laje, bancos em granitina e revestimentos de pedra portuguesa na área externa.

<img attr-cid="policy:1.3287267" attr-version="policy:1.3287267:1752264445" class="p-smartimage" src="/image/policy:1.3287267/image.jpg?f=default&amp;w=400&amp;q=1" /> 
Nos anos 1970, o coreto foi totalmente modificado para se criar um centro de atendimento ao turista (Diomício Gomes)

Torre do Relógio e Coreto da Praça Cívica são exemplos irretocáveis do art déco de Goiânia

Centenário 

“Seguindo o sol do ideal e as normas da arte, Procuro descobrir por toda parte Um raio indefinível de beleza.”, Gilberto Mendonça Teles.

Gilberto Mendonça Teles e eu nascemos em Bela Vista de Goiás, terra dos buritizais sussurrantes. E é com a poesia do meu conterrâneo que inicio esta reflexão, pois, assim como ele, tive o privilégio de contemplar Goiânia com o olhar curioso de quem chega e, ao mesmo tempo, já se sente pertencer. Por isso, digo com propriedade: a beleza indefinível que ele busca em suas palavras está, sem dúvida, refletida no Art Déco de Goiânia, na incessante busca por algo intangível, que vai além das linhas arquitetônicas e se integra ao próprio espírito da cidade.

Goiânia nasceu de um sonho modernista, no coração do Cerrado. Ergueu-se com traços firmes, linhas planejadas e uma estética que ousava olhar para o futuro. Um futuro grandioso, desenhado com a coragem de abraçar o novo. O Art Déco chegou como a linguagem perfeita para traduzir esse desejo de futuro. Mais do que um estilo, foi e continua sendo uma ideia de cidade.

Desafio o leitor a fechar os olhos e pensar no Teatro Goiânia, com a simetria geométrica e os detalhes verticais que conduzem o olhar para o alto, como um chamado para contemplar a imensidão de Goiânia e sua própria grandeza. É o espetáculo de uma capital que se ergueu com identidade.

Ao caminhar pelas ruas do centro, percebo que o Art Déco não se constrói por simples edificações: essas são narrativas. São fragmentos de uma história urbana que continua sendo escrita. Dos 22 bens tombados pelo Iphan (Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional), cada um guarda uma faceta da cidade e nos lembra que preservar não é apenas conservar. É contar e recontar quem somos.

Quem chega a Goiânia hoje encontra mais do que arquitetura. Encontra uma cidade que reconhece sua essência e transforma memória em experiência. Talvez o visitante não saiba os nomes dos monumentos ou de seus arquitetos, mas sente.

Sente que há ali algo que resiste ao tempo. E é essa sensação, essa beleza indefinível, que o faz voltar. Como presidente da GoiâniaTur, vejo esse movimento com orgulho. A cada rota guiada, a cada ação de valorização do patrimônio, percebemos que a memória também é pertencimento.

Este ano marca o centenário do Art Déco, movimento apresentado ao mundo em 28 de abril de 1925, na 1ª Exposição Internacional de Artes Decorativas e Industriais Modernas, em Paris. Cem anos depois, Goiânia, guardiã de um dos mais expressivos acervos do estilo, se junta à celebração. Ao longo de 2025, a cidade realizará concursos culturais, roteiros turísticos e debates sobre o legado do Art Déco, buscando reforçar, nesse traço estético, a essência que moldou a identidade da capital.

Celebrar o Art Déco é celebrar o sonho. É lembrar daqueles que fundaram Goiânia. É compreender que talvez a verdadeira modernidade esteja em reconhecer o que permanece belo, mesmo depois de tantas décadas. E seguir, como disse o poeta, em busca desse “raio indefinível de beleza” que só cidades com alma sabem guardar.

Nárcia Kelly, presidente da GoiâniaTur