A fase 4 do Universo Cinematográfico da Marvel (UCM) segue a todo vapor depois dos acontecimentos de Vingadores: Ultimato (2019) ou em outras linhas alternativas do tempo, como nas séries Loki e WandaVision ou no solo da Viúva Negra. O estúdio apresenta mais um herói – o primeiro asiático nas telonas - e esse é muito bom de briga. Em Shang-Chi e a Lenda dos Dez Anéis, que estreia hoje nos cinemas do País, Shang-Chi, interpretado pelo ator Simu Liu, é um especialista em artes marciais, precisamente um mestre do kung fu, no melhor estilo Bruce Lee com a graça acrobática de Jackie Chan.Com direção de Destin Daniel Cretton, o longa conta com 98% do elenco formado por atores asiáticos e com extensos diálogos em mandarim nas cenas para explicar a origem dos Dez Anéis e do personagem. Proposta que lembra Pantera Negra (2018), que trouxe Chadwick Boseman (1976-2020) como protagonista e foi importante na representatividade negra dentro do cinema de super-heróis e rendeu prêmios no Oscar e a indicação na categoria de melhor filme. Além disso, a Marvel está cada vez mais de olho no mercado chinês, que é o mais lucrativo no que se refere a produções de Hollywood.Shang-Chi é o personagem menos conhecido da Marvel pelo grande público, apesar de já ter lutado ao lado do Homem-Aranha, X-Men e dos Vingadores nos quadrinhos. Criado por Steve Englehart e Jim Starlin e publicado pela primeira vez em 1973, o herói foi inspirado nas produções de kung fu que eram populares nos anos 1970, com Bruce Lee nos clássicos Operação Dragão e Jogo da Morte. Assim como o Pantera, ele não tem superpoderes, suas habilidades em artes marciais fazem dele um dos lutadores mais respeitados entre todos porque foi treinado desde criança para ser uma máquina.A origem do novo personagem do cinema começa muito antes dos heróis da Marvel nas histórias de Fu Manchu, gênio do mal que foi o ponto central de uma série de livros (o primeiro em 1913) e filmes de muito sucesso na primeira metade do século 20. O estúdio comprou o direito de publicação e a primeira coisa que fez foi criar o filho do vilão, o Shang-Chi. A ideia do pai era que ele se tornasse o assassino perfeito, o que acabou não dando certo e surgia o seu grande rival. Fu Manchu provocou controvérsia com o tempo por ser um personagem com estereótipos racistas e a editora retirou sua licença em 1983.Como o Shang-Chi era uma criação da Marvel, o estúdio não o apagou do quadro de heróis e trouxe o personagem de volta como parte do esquadrão de Vingadores Secretos em 2010, longe de estereótipos racistas e como o maior lutador de kung fu do planeta. Nas HQs, o seu pai é Zheng Zu, um antigo mago imortal. Já nos cinemas, mais uma adaptação, com Wenwu, que é conhecido como Mandarim - interpretado por Tony Leung – como sua figura paterna e por trás da organização dos Dez Anéis, que foi apresentada brevemente como uma rede terrorista internacional em Homem de Ferro (2008).TramaTreinado desde criança sob os olhares do pai para ser um grande guerreiro e o braço direito no comando da organização dos Dez Anéis, Shang-Chi ganha um tempo para viver a vida como quisesse antes de assumir essa responsabilidade. Durante o período de “férias”, ele se muda para São Francisco (EUA), onde mora numa casa humilde e trabalha como manobrista em um hotel, ao lado da sua melhor amiga, Katy, papel de Awkwafina, uma das atrizes mais engraçadas da nova geração e responsável pelo lado cômico do filme. Nas horas vagas, os dois se divertem com outros amigos no karaokê.A normalidade chega ao fim quando o prazo termina e ele é obrigado a retornar, mas Shang não obedece essa ordem do pai, o que vai criar uma grande batalha. Mandarim manda um dos seus melhores lutadores atrás do filho, Razor Fist (Florian Munteanu), um dos principais vilões do herói nas HQs. O primeiro encontro entre eles acontece dentro do ônibus, quando ele é atacado, como foi revelado no trailer de lançamento do longa. O rival tem como arma uma poderosa lâmina retrátil no lugar de uma das mãos. É nesse momento da luta que Katy entende que o amigo tem algo de muito especial.Quem também vai atrás de Shang é Death Dealer, o misterioso mascarado e um dos seus principais oponentes, já que foi ele quem o treinou na infância e conhece todos os seus movimentos. O herói acaba tendo de retornar e de volta ele reencontra a irmã, agora chefe de uma rede clandestina de lutas marciais, e os dois não conseguem fugir do pai, que ganhou poderes e imortalidade ao dominar os dez anéis mágicos, que, diferentemente das HQs, são braceletes. Nessa história de questões familiares não resolvidas, o que não vai faltar na trama são lutas e criaturas bem perigosas.Magia nas telonasShang-Chi e a Lenda dos Dez Anéis quebra um período de 20 anos sem uma grande produção de kung fu nos cinemas de Hollywood, a última foi O Tigre e o Dragão, do premiado diretor Ang Lee e vencedor de quatro Oscar. Aliás, a aventura da Marvel bebe demais dessa fonte, com lutas bastante coreografadas e duelos sensacionais, que de tão intensos desafiam a imaginação do público. Outro destaque é a presença de figuras tradicionais da arte chinesa, como dragões alados e leões gigantes. Nesse tempero todo tem também duas cenas pós-créditos, ou seja, é bom esperar sentado.O filme de Shang-Chi começou a rodar em fevereiro de 2020 em Sydney, Austrália, e, assim como várias produções, foi forçada a suspender suas gravações devido à pandemia da Covid-19. A previsão de lançamento era para 12 de fevereiro e acabou sendo jogada mais para frente. O sucesso de bilheteria vai servir de termômetro para outro grande lançamento da Marvel para 2021, Os Eternos, com previsão de estreia em novembro e com direção da chinesa Chloé Zhao, vencedora do Oscar por seu trabalho em Nomadland. A escolha da cineasta é também mais uma estratégia de entrada no mercado chinês.