-Imagem (1.2516399)Um dos temas mais recorrentes na história do cinema é a mística acerca das possibilidades de que a qualquer momento a Terra sofra uma invasão alienígena. O novo filme do diretor Jordan Peele, Não! Não Olhe!, que estreia nesta quinta-feira (25) nos cinemas do Brasil, traz de volta essa proposta com discos voadores numa trama de suspense e humor. Os atores Daniel Kaluuya e Keke Palmer são as estrelas da terceira produção da carreira do cineasta. Steven Yeun (Minari) e Brandon Perea (American Insurrection) também estão no elenco.Sejam pequenos, grandes ou vindos das formas mais inusitadas, os alienígenas já foram retratados de várias perspectivas nas telonas. Eles apareceram bonzinhos, como em E.T. O Extraterrestre (1982), de Steven Spielberg; em uma verdadeira ameaça para o planeta em Independence Day (1996), de Roland Emmerich, com Will Smith e Bill Pullman; assim como sanguinários em Sinais (2001), de M. Night Shyamalan com Mel Gibson e Joaquin Phoenix. Em Não! Não Olhe!, eles são aterrorizantes, mas também podem ser lucrativos.No interior da Califórnia, acontecimentos sobrenaturais chamam a atenção dos irmãos OJ Haywood (Daniel Kaluuya) e Emerald Haywood (Keke Palmer). Eles administram um rancho especializado em treinar cavalos para participações em filmes. Os negócios eram originalmente comandados pelo pai dos dois, que teve uma morte trágica e, em circunstâncias estranhas, causada pela queda de destroços de uma aeronave. Os protagonistas acreditam que o que matou o patriarca está nas nuvens e que eles estão sendo vigiados.OJ e Emerald começam a perceber fenômenos inexplicáveis, mas que não conseguem enxergar perfeitamente por conta da velocidade dos movimentos. Assim, eles decidem instalar câmeras em vários pontos do rancho e contam com a ajuda do técnico de informática Angel Torres (Brandon Perea) e do aclamado cineasta Antlers Holst (Michael Wincott), que está à beira da aposentadoria. Eles não usam nenhuma arma de fogo, afinal, porque matar um alienígena se é possível filmar o visitante do espaço e ainda ficar rico com isso.Leia também:- Sertanejo em dose dupla nesta sexta-feira no palco da Cerrado Cervejaria- Modelo goiana de 6 anos vence Mini Miss Universo na Colômbia- Teatro Goiânia recebe Filarmônica de Goiás nesta sexta-feira, 26 de agostoAo lado do rancho dos irmãos está o Jupiter’s Claim, um parque temático familiar e zoológico baseado na história e estética da Corrida do Ouro da Califórnia. O lugar pertence a Ricky Jupe Park (Steven Yeun, que ficou famoso pelo personagem Glenn da série The Walking Dead), que o administra com orgulho evangélico. Na trama, ele é um ex-astro mirim marcado por um trágico escândalo que ocupou as manchetes dos tabloides, do qual ele passou toda a vida tentando se libertar. Ele será um dos aliados de OJ e Emerald contra o inimigo.ParceriaCriado na comédia, o diretor Jordan Peele se tornou um dos nomes mais potentes do horror mundial quando comandou uma dobradinha de peso com Corra! (2017) e Nós (2019). Pelo primeiro filme da carreira, recebeu quatro indicações ao Oscar e ganhou de melhor roteiro original. Além disso, apresentou para o grande público Daniel Kaluuya, que antes de aceitar o convite tinha pensado em abandonar a carreira. Por sua interpretação do personagem Chris Washington, o ator recebeu a primeira indicação ao maior prêmio do cinema.Corra! foi muito além das expectativas. Peele se tornou o primeiro diretor negro a faturar mais de US$ 200 milhões com um filme de estreia, sendo que o orçamento do longa foi de apenas US$ 5 milhões – Nós custou quatro vezes mais. Não! Não Olhe!, que estreou no final de julho nos EUA, é o filme mais caro do cineasta com um custo de US$ 68 milhões, valor ainda bastante inferior aos dos blockbusters. Em menos de três semanas em cartaz, o longa, que combina tensão, humor e críticas sociais e raciais, deve se tornar sua maior bilheteria.Depois de Corra!, Kaluuya se tornou muito requisitado em Hollywood. Na sequência, ele foi convidado para fazer Pantera Negra (2018), do diretor Ryan Coogler. Na trama, ele interpretou W’Kabi, grande amigo de T’Challa (Chadwick Boseman - 1976-2020) e par romântico de Okoye (Danai Gurira). Recentemente, ele revelou que não está no elenco da continuação do filme da Marvel porque na época estava gravando Não! Não Olhe! Em 2021, por Judas e o Messias Negro, de Shaka King, ele conquistou o Oscar de melhor ator coadjuvante.Questão racialA discussão racial é uma marca muito presente na cinebiografia de Jordan Peele. Em Corra!, por exemplo, quando o protagonista vai conhecer a família de sua namorada Rose, Chris nota que existem poucos negros entre eles, todos com comportamento estranho, sendo que dois são empregados da casa. Já Nós tem um foco muito maior na segregação social, debatendo questões como os privilégios que uma parte da sociedade tem e outra não e a atmosfera de horror não é jogada de qualquer maneira, ela vai sendo construída aos poucos.No terceiro filme da carreira, apesar de não ser o primeiro plano, o tema segue com foco dando protagonismo aos feitos dos negros. Não! Não Olhe! traz um detalhe importante de ancestralidade dos irmãos Haywood, que são descendentes do homem anônimo que aparece na primeira imagem feita com captura de movimentos, pelo fotógrafo inglês Eadweard Muybridge, no século 19. Em Cavalo em Movimento (1878), Muybridge percebeu que várias imagens colocadas em sequência geravam uma ação. Esse é considerado por muitos o ponto inicial do que hoje é chamado de cinema.Pela descoberta, Muybridge ficou famoso, mas o nome do ator que aparece na imagem montado em um cavalo quase ninguém sabe, por isso o filme começa dando essa aula. “Sabia que a primeira montagem de fotografias para criar um filme foi um clipe de dois segundos de um homem negro em um cavalo? Aquele homem é o meu tataravô”, diz a protagonista Emerald Haywood. Na vida real, nunca existiu um Alistair E. Haywood. A identidade e a família do cowboy negro precursor do cinema são criação de Peele, em uma especulação sobre os rumos da história da sétima arte, o que Tarantino nunca abusa de fazer nos seus títulos.