Uma multidão de pessoas vestindo roupas de época se aglomera em ruas cenográficas, empunhando cartazes, bandeiras e varinhas. Em vários deles, é possível ver o rosto delicado mas marcante de uma mulher, com o nome Vicência Santos escrito abaixo. As cores verde e amarela tremulam conforme aquela turba caminha e logo fica claro para o espectador -chegou a hora de o Wizarding World, o mundo mágico de Harry Potter, visitar o Brasil.No novo Animais Fantásticos: Os Segredos de Dumbledore, o país ganha um aceno de uma das maiores franquias do cinema, sendo representado pela atriz Maria Fernanda Cândido, no papel de uma candidata ao posto de líder do mundo bruxo.Mas é bom os fãs não se animarem tanto assim. Apesar de uma grande participação do Brasil no terceiro filme da saga Animais Fantásticos ter sido prometida, o País acabou relegado à tímida aparição de Maria Fernando e mais poucos segundos de tela - numa cena ambientada no Parque Lage, no Rio de Janeiro, que, se piscar, você perde.Originalmente, Os Segredos de Dumbledore deveria tomar o Brasil dos anos 1930 como cenário, mas a pandemia impediu que sua equipe viajasse para cá e, após uma série de mudanças na trama - o roteiro de J. K. Rowling e Steve Kloves é baseado num outro roteiro da mesma Rowling, veja só -, o País acabou preterido por Reino Unido, Estados Unidos, Alemanha e Butão.Será, portanto, um filme com gosto agridoce para o Brasil, lar de um público avassalador de potterheads – como são chamados os fãs obcecados por Harry Potter. Maria Fernanda Cândido sentiu, aliás, uma responsabilidade enorme ao representá-los dentro da franquia, tendo poucos minutos para brilhar.Em entrevista por vídeo, ela conta que chegou ao projeto de surpresa, após um teste para um filme de fantasia que, antes de assinar o contrato e vários termos de confidencialidade, não sabia se tratar da popular franquia. Quando descobriu, vibrou, já que Harry Potter faz parte da memória afetiva dela com os filhos.“Foi muito desafiador, porque esse foi meu primeiro filme na Inglaterra e um set de filmagem é sempre uma reprodução daquele caldo cultural. Eu gostei muito de ter esse contato com o jeito deles de fazer cinema, que é bastante específico”, diz a atriz sobre a coprodução entre Reino Unido e Estados Unidos.“E é claro que, por ser uma produção enorme, houve também um aprendizado enorme. A gente gravou muito com fundo verde e eu nunca tinha feito um filme com efeitos especiais nesse nível, então tive de aprender a contracenar com elementos que nem estavam em cena.”Ela teve de aparecer, por exemplo, com um qilin, criatura fantástica que tem papel fundamental nas eleições bruxas que Maria Fernanda protagoniza em Os Segredos de Dumbledore. Também precisou fazer magia com sua varinha, objeto tratado de forma ritualística no set, ela conta.Curiosamente, nesta mesma quinta (14), quando Os Segredos de Dumbledore chega aos cinemas brasileiros, um outro filme estrangeiro estrelado por ela estreia (menos em Goiânia). O Traidor, do italiano Marco Bellocchio, foi como uma porta de entrada para ela no mercado internacional, e a atriz diz ter sido um marco em sua carreira.Sem contrato fixo com a Globo há uma década e meia, ela ainda deve praticar o italiano e o francês em outros longas e apresentar, nos palcos de Paris, o monólogo Ballade au-dessus de l’Abime, ao lado da pianista Sonia Rubinsky. Quem sabe, diz a atriz, Vicência Santos também não volta a ocupar seus dias no futuro próximo, já que há outros filmes de Animais Fantásticos programados. “A gente não sabe de nada, mas podemos torcer, isso a gente pode.”-Imagem (Image_1.2438142)