O filme O Agente Secreto segue ganhando força na temporada de premiações de Hollywood e se coloca como um dos favoritos após conquistar nesta segunda-feira (8) três indicações ao Globo de Ouro, um dos principais termômetros para o Oscar 2026. Dirigido por Kleber Mendonça Filho, o longa vai disputar nas categorias de Melhor Filme de Drama, Melhor Ator e Melhor Filme em Língua Não Inglesa. A cerimônia de premiação será realizada no dia 11 de janeiro no hotel Beverly Hilton, em Los Angeles, nos EUA.

Esta é a primeira vez que uma produção nacional disputará na principal categoria. O longa concorre com Frankenstein, Hamnet, Foi Apenas um Acidente, Valor Sentimental e Pecadores. Já de filme em língua não inglesa disputa com Sirat, Valor Sentimental, Foi Apenas um Acidente, Sem Outra Chance e A Voz de Hind Rajab. Wagner Moura disputa com Joel Edgerton (Sonhos de Trem), Jeremy Allen White (Springsteen), Michael B. Jordan (Pecadores), Dwayne Johnson (Smashing Machine) e Oscar Isaac (Frankenstein).

“É um grande momento para todos nós que fizemos o filme, e é numa manhã histórica como essa que eu lembro de todo o trabalho que fizemos: de escrever o roteiro, a pré-produção e todas aquelas dez semanas incríveis de filmagem, sete meses de montagem e dois meses de pós-produção. Todo esse trabalho, de repente, entra em foco quando são anunciadas três indicações inéditas no cinema brasileiro,” declara Kleber Mendonça Filho. “Obrigado pelas mensagens todas, o celular parece uma árvore de natal”, postou o cineasta nas redes sociais.

No início deste ano, Fernanda Torres levou o Globo de Ouro de Melhor Atriz por Ainda Estou Aqui, de Walter Salles, que disputava também em Melhor Filme em Língua Estrangeira - acabou derrotado por Emilia Pérez, do diretor Jacques Audiard. Em 1999, Central do Brasil, do mesmo diretor, também concorreu nas mesmas categorias, vencendo em filme. Fernanda Montenegro também foi indicada, mas o prêmio ficou para Cate Blanchett, por Elizabeth.

Essa não é a primeira indicação de Wagner Moura ao Globo de Ouro. Em 2016, ele concorreu na categoria Melhor Ator em série de drama por seu trabalho em Narcos. Apesar da interpretação elogiada pela crítica, ele acabou perdendo o prêmio para o americano Jon Hamm, que conquistou a estatueta pelo papel de Don Draper na última temporada de Mad Men. Também concorreram na categoria Rami Malek, por Mr. Robot, Bob Odernkirk, por Better Call Saul, e Liev Schreiber, por Ray Donovan.

O Globo de Ouro é uma das grandes premiações internacionais, e pode abrir caminho par ao maior prêmio do cinema. Oficialmente, o Oscar é decidido por quem trabalha na produção de filmes e o Globo de Ouro por quem cobre a Sétima Arte, mas jornalistas frequentemente apontam tendências, filmes que já são bem comentados entre os pares ou têm sido intensivamente divulgados por estúdios. O resultado repercute durante uma época em que a Academia ainda está em votação e as suas escolhas acabam pesando ou convenientemente coincidindo, muitas vezes, com os resultados do Oscar.

O Agente Secreto vem fazendo uma trajetória de premiações. Neste fim de semana, foi eleito o Melhor Filme Internacional pela Los Angeles Film Critics Association, que também apontou o longa como vice-campeão nas categorias de Melhor Filme e Melhor Ator (Wagner Moura). O filme fez história no Critics Choice Awards (CCA) com a indicação de Wagner Moura a Melhor Ator — o primeiro latino-americano indicado a esta categoria. No CCA, a produção compete ainda pelo prêmio de Melhor Filme em Língua-Não Inglesa, e, no Spirit Awards, por Melhor Filme Internacional.

O filme venceu dois prêmios no Festival de Cannes, Melhor Ator para Wagner Moura e Melhor Diretor para Kleber Mendonça Filho. O Agente Secreto segue firme em campanha internacional. Visto por mais de 40 mil espectadores na Alemanha e em Portugal, o título estreia na França no próximo dia 17 e, na Itália, em 29 de janeiro. No Reino Unido e na Irlanda, o lançamento acontece no dia 20 de fevereiro. Nos Estados Unidos, a abertura é gradual, e já passou por Nova York, Los Angeles, e segue agora para São Francisco, Boston, Chicago, Filadélfia, Atlanta, Seattle, Austin, entre outros.

No Brasil, O Agente Secreto continua nos cinemas, com mais de 965 mil ingressos vendidos. A produção se encaminha agora para se tornar o segundo longa brasileiro lançado em 2025 a alcançar 1 milhão de espectadores. O filme já é o maior da carreira de Kleber Mendonça Filho e da história da Vitrine Filmes. A produção se passa em 1977 e acompanha a história de um professor universitário que foge de São Paulo após se desentender com um empresário. Ele volta ao Recife e adota um nome falso, passando a viver escondido para a sua segurança. Além de Wagner, também estão no elenco nomes como Maria Fernanda Cândido, Gabriel Leone e Alice Carvalho.&nbsp;

'O Agente Secreto', de Kleber Mendonça Filho, é indicado em três categorias do Globo de Ouro

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Esquenta para o Oscar

O filme O Agente Secreto, de Kleber Mendonça Filho, em cartaz nos cinemas e cotado para o Oscar 2026, reviveu uma lenda urbana dos anos 1970. Era a história de uma “perna cabeluda” que andava pela região de Recife aterrorizando a população. Foi um fenômeno de cultura popular que virou crônica policial, literatura de cordel e marchinha de carnaval.

Em dezembro de 1975, o Diário de Pernambuco noticiou: “Perna fantasma surge em moradia de Tiúma”. Segundo a reportagem, estava causando reboliço a notícia de que uma residência estaria recebendo “imagens espíritas”. Um garoto, Wanderley, disse que havia visto “uma perna passeando nas paredes”. Não demorou para que o pai, também, passasse a ver a tal perna.

A edição de 11 de dezembro de 1975 do Diário de Pernambuco trazia, no caderno de política, a chamada “Perna fantasma já é problema policial”. Assombrados pelo membro peludo, moradores de São Lourenço da Mata (PE), na região metropolitana de Recife, pensavam em pedir socorro para as autoridades, contava o jornal.

Segundo a reportagem, o “fenômeno” havia surgido no fim de agosto daquele ano, quando o morador da casa de número 13 da Rua do Amendoim viu uma sombra na sala. A perna teria sido vista por diversos moradores também.

“A perna engana todo mundo e ninguém consegue pegá-la”, disse o dono da casa, José Borges, à reportagem do jornal pernambucano.

Seu José dizia que acreditava se tratar de “serviço” feito para o filho e procurou um médium. O padre da cidade se negou a se envolver com o caso, o que teria revoltado todos os fiéis da redondeza.

A lenda foi ganhando a cidade pelo boca-a-boca e chegou a virar até tema de literatura de cordel. No ano seguinte, no mesmo jornal, virou crônica policial numa edição dominical do jornal pernambucano.

“Foi um corre-corre na rua, gente chamando a polícia, mulher chorando abraçada com o marido, irmãos e parentes, as mais piedosas e religiosas rezando aos pés dos santuários”, nos conta a crônica. “A perna cabeluda somente se deu por vencida quando foi escutado o gemido do carro da polícia.”

A crônica então ganha ares mais bélicos. “Os policiais traziam metralhadoras, canhões, revólveres, gás lacrimogêneo, o diabo.” E ninguém conseguiu pegar a perna, que depois foi vista “pintando o diabo no Bonfim”.

Chegou fevereiro e a perna cabeluda virou tema de música de carnaval do Recife, contou o Diário de Pernambuco daquela altura. O frevo-canção Perna Cabeluda, composto por Joel Santos e Dimas Sedícias, trazia os versos: “Se você não viu/ Venha ver./ Não se iluda.../ Não tenha medo, não,/ da perna cabeluda./ Não come,/ não bebe,/ não dorme./ Também não faz nada.../ Ela só anda./ Só pela madrugada”.

O jornal chegou a fazer uma pesquisa de opinião para diagnosticar a crendice do povo quanto ao “boato da perna cabeluda”. Segundo o jornal, a “pesquisa feita entre operários, comerciários, funcionários públicos, revelou que o povo não demora muito para acreditar em qualquer fato que se manifeste como “acontecimento’.

O Agente Secreto não é o único filme atual que resgata a lenda urbana. Recentemente, o centro do Recife ganhou uma escultura de uma perna cabeluda gigante, como parte de uma ação de marketing do filme Recife Assombrado 2 - A Maldição de Branca Dias, de Adriano Portela.&nbsp;

Bilheteria

O Agente Secreto foi visto por cerca de 274 mil espectadores em seus primeiros dias em cartaz no País, com uma renda de R$ 6,6 milhões. Os dados da Comscore se referem ao público dos últimos quatro dias entre quinta-feira (6), quando o longa chegou ao circuito nacional, e domingo (9). A obra, premiada no Festival de Cannes pela direção de Kleber Mendonça Filho e pela atuação de Wagner Moura, está em cartaz mais de 707 cinemas, num total de 1.403 salas pelo país. A produção também teve o maior público da semana no Brasil, superando Predador: Terras Selvagens (com 241 mil espectadores) e O Telefone Preto 2 (84 mil).

Com isso, o filme já soma mais de 337 mil espectadores, de uma bilheteria de R$ 8,1 milhões, já que, segundo dados da Ancine, a Agência Nacional do Cinema, O Agente Secreto tinha, até 2 de novembro, um público de 56 mil pessoas e uma renda de R$ 1,36 milhão, a partir das várias sessões em pré-estreia do filme no final de outubro, em cerca de 300 salas pelo país.

Assim, o filme se firma como uma das produções nacionais com maior público do ano nos cinemas, atrás ainda de Homem com H (631 mil); Vitória (720 mil); Chico Bento e a Goiabeira Maraviosa (986 mil); Ainda Estou Aqui (2,7 milhões) e O Auto da Compadecida 2 (2,9 milhões).

Comparativamente, Ainda Estou Aqui, o filme de Walter Salles que trouxe o primeiro Oscar do Brasil neste ano, ocupava 767 cinemas quando estreou em 4 de novembro do ano passado, e atraiu cerca de 580 mil espectadores e fez mais de R$ 12 milhões em sua primeira semana em cartaz no País, ainda segundo a Ancine. Ao todo, o longa com Fernanda Torres conseguiu mais de 5,7 milhões de espectadores apenas no cinema, antes de entrar no catálogo do Globoplay, no início de 2025.

Entenda a história da 'perna cabeluda', lenda urbana citada no filme 'O Agente Secreto'

Lenda urbana

Desde sua estreia arrebatadora no Festival de Cannes, O Agente Secreto, novo longa-metragem de Kleber Mendonça Filho, tem sido o assunto da vez no circuito internacional. O filme, protagonizado por Wagner Moura, transformou o Recife (PE) dos anos 1970 num palco de espionagem, paranoia e poder. O filme ganha pré-estreia em cinemas de Goiânia neste sábado (25). Ambientado em plena ditadura militar, a produção acompanha Marcelo, um técnico em eletrônicos que tenta se esconder durante o Carnaval e acaba mergulhando num labirinto de vigilância e segredos.

O sucesso foi imediato. Em Cannes, o longa saiu como o mais premiado da edição de 2025, conquistando os troféus de Melhor Diretor, Melhor Ator e o Prêmio da Crítica. O feito colocou Mendonça Filho, já reverenciado por Bacurau (2019) e Aquarius (2016), de volta ao centro das atenções, consolidando seu nome entre os diretores mais respeitados da atualidade.

Com fotografia densa, ritmo hipnótico e diálogos cortantes, o longa cria uma atmosfera que parece pulsar entre o real e o delírio. Críticos internacionais chamaram o filme de “um thriller político hipnotizante e visualmente magistral”, destacando o trabalho de Wagner Moura, que entrega uma de suas atuações mais contidas e intensas.

Agora, o filme começa uma nova fase: a corrida pelo Oscar 2026. Escolhido pela Academia Brasileira de Cinema para representar o País na categoria de Melhor Filme Internacional, O Agente Secreto surge como uma das apostas mais fortes do Brasil nos últimos anos. A campanha internacional será conduzida pela distribuidora americana Neon, a mesma por trás de sucessos como Parasita (2019) e Titane (2021), um reforço de peso para aumentar o alcance da produção.

A confiança é compartilhada pelos próprios realizadores. Em entrevistas recentes, Wagner Moura afirmou acreditar na força universal do filme: “É uma história sobre medo e vigilância, mas também sobre humanidade. Acho que o mundo vai se reconhecer nesse Brasil que o Kleber filmou.” A repercussão positiva em festivais e o crescente interesse do público internacional reforçam essa sensação de que o longa atravessou fronteiras.

Se o Oscar é um jogo de visibilidade e timing, O Agente Secreto parece estar no momento certo. Mais do que um filme sobre o passado, ele fala sobre o presente - sobre os ecos da vigilância, o poder da imagem e o custo da liberdade. E, se depender do talento de Kleber Mendonça Filho e Wagner Moura, o Brasil pode, mais uma vez, chegar à cerimônia de Hollywood não como coadjuvante, mas como protagonista.

Corrida

Com o sucesso internacional, O Agente Secreto também reacendeu uma conversa importante sobre o lugar do cinema brasileiro no mundo. Há quem diga que o filme inaugura uma nova fase da produção nacional - mais ambiciosa, mais política e ao mesmo tempo mais acessível ao público global.

Entre premiações, aplausos e análises, O Agente Secreto vai se consolidando como um marco do cinema brasileiro recente - um filme que mistura forma e conteúdo com elegância típica do cineasta. Sua força está no equilíbrio entre o entretenimento e a crítica, na capacidade de prender o público e, ao mesmo tempo, provocar reflexão.

Se o Oscar for apenas mais um capítulo dessa trajetória, tudo bem: o verdadeiro prêmio já está em ver o Brasil, mais uma vez, contar uma história que o mundo quer escutar, assim como foi feito em Ainda Estou Aqui (2024).

Estante de prêmios&nbsp;

O Agente Secreto vem colecionando prêmios e confirmando seu status de fenômeno cinematográfico. Desde sua estreia, o longa conquistou o público e a crítica, levando importantes troféus em festivais internacionais, como o Leão de Ouro em Veneza e o Globo de Ouro de Melhor Filme Dramático. A atuação do protagonista e a direção (elogiada pela precisão estética e pela construção de suspense) renderam ainda prêmios individuais, consolidando o filme como um dos favoritos na corrida pelo Oscar.

Além do reconhecimento internacional, o filme também tem se destacado nas premiações técnicas, arrebatando estatuetas por fotografia, trilha sonora e design de produção. O trabalho minucioso de recriar cenários e atmosferas densas, aliado à trilha envolvente que conduz o espectador em cada virada da trama, tem sido amplamente celebrado. O filme virou referência de excelência estética e narrativa, aparecendo entre os mais indicados em praticamente todas as listas da temporada.

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O diretor e o ator

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Divulgação (Laura Castor/Divulgação)

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Kleber Mendonça Filho e Wagner Moura formam hoje uma das duplas mais potentes do cinema brasileiro contemporâneo. Um vem da crítica e da câmera, o outro do palco e da atuação, mas ambos compartilham uma inquietação no audiovisual do País. Suas trajetórias, embora distintas, se encontram na vontade de narrar o Brasil com complexidade, feito que tem ecoado também fora das fronteiras da América Latina.

O cineasta Kleber Mendonça Filho começou sua carreira no Recife, como crítico de cinema e programador, antes de se lançar na direção. Seus primeiros curtas já revelavam um olhar autoral e uma sensibilidade para o cotidiano urbano e suas tensões. É dele, por exemplo, Vinil Verde (2004), que rodou por diversos festivais nacionais e internacionais, a exemplo da Goiânia Mostra Curtas.

Com O Som ao Redor (2012), Kleber conquistou o mundo: o filme foi aclamado em festivais internacionais e apontado pelo New York Times como um dos melhores do ano. Depois vieram Aquarius (2016), com Sônia Braga em um papel icônico, e Bacurau (2019), uma parceria com Juliano Dornelles que se transformou em símbolo de resistência política e sucesso global. O cineasta já esteve em Goiás durante o Festival Internacional de Cinema e Vídeo Ambiental (Fica).

Já Wagner Moura construiu sua reputação como um dos atores mais versáteis de sua geração. Do teatro baiano às novelas da Globo, o profissional se consolidou como dono de uma interpretação ora dramática, ora cômica, como Olavo de Paraíso Tropical (2007), novela de Gilberto Braga para a TV Globo. Seu papel como Capitão Nascimento em Tropa de Elite (2007) marcou uma geração. Moura expandiu suas fronteiras e brilhou em produções internacionais como Narcos (2015), da Netflix, e mostrou talento também por trás das câmeras, dirigindo Marighella (2021).

O encontro artístico entre Kleber e Wagner era quase inevitável. Quando anunciaram que trabalhariam juntos em O Agente Secreto, o projeto já nasceu cercado de expectativa. Fora das telas, ambos são vozes ativas nas discussões sobre cultura, liberdade e representatividade no audiovisual. Kleber é um defensor da preservação do cinema nacional e das políticas públicas para a área, enquanto Wagner tem usado sua visibilidade para levantar debates sobre a democracia.

“Eu tenho tido muita sorte de ter meus filmes em lugares muito prestigiosos pelo mundo. O Agente Secreto é um dos filmes com maior força desde o Festival de Cannes”, comentou Kleber Mendonça em coletivas de imprensa. “Teve uma reação incrível da imprensa internacional e saiu premiado como Melhor Diretor e Melhor Ator, com o Wagner Moura, e o prêmio da crítica internacional. O filme só vem crescendo em prestígio e força”, destaca.

Força do elenco

O elenco de O Agente Secreto é um dos grandes trunfos do filme, reunindo nomes de peso do cinema brasileiro em atuações marcantes. À frente, Wagner Moura interpretando um homem dividido entre o dever e a consciência. Ao seu lado, Alice Braga brilha em um papel de força e mistério, enquanto Seu Jorge e Gabriel Leone completam o time com interpretações carregadas de nuances. Há ainda nomes como Maria Fernanda Cândido, Udo Kier, Gabriel Leone e Thomás Aquino. A combinação de talentos equilibra experiência, carisma e entrega.

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Cinco atos de Kleber Mendonça Filho

1. Vinil Verde (2004)

Curta-metragem experimental, Vinil Verde mistura fábula e estranhamento. A história, contada com atmosfera onírica e tons surrealistas, já anunciava o olhar singular de Kleber para o cotidiano e o inconsciente. Pode ser visto no Youtube.

2. Recife Frio (2009)

Nesse falso documentário, o diretor imagina a capital pernambucana sob um clima gelado e melancólico. O humor sutil e a crítica social se entrelaçam, revelando uma Recife transformada e, ao mesmo tempo, profundamente reconhecível. Disponível no Prime Video.

3. O Som ao Redor (2012)

Primeiro longa-metragem de Kleber, foi um marco do cinema nacional. O filme retrata as tensões de classe e poder em um bairro de classe média do Recife, combinando suspense e realismo social em um retrato incômodo e preciso do Brasil urbano. Está no catálogo do Telecine.

4. Aquarius (2016)

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Divulgação (Divulgação)

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Com Sônia Braga em uma das atuações mais poderosas de sua carreira, Aquarius acompanha uma mulher que resiste à venda de seu apartamento frente à especulação imobiliária. O filme é um grito elegante sobre memória, resistência e dignidade e pode ser assistido na Netflix.

5. Bacurau (2019)

Co-dirigido com Juliano Dornelles, Bacurau mistura faroeste, ficção científica e crítica política em uma narrativa vibrante e imprevisível. Vencedor do Prêmio do Júri em Cannes, o longa consolidou Kleber como uma das vozes mais ousadas do cinema mundial. Está disponível no Globoplay.

'O Agente Secreto' ganha pré-estreia neste sábado (25) nos cinemas de Goiânia

Cinema

“Quando percebi que maquiagem e cabelo podiam contar histórias, me apaixonei”, conta a caracterizadora de cinema goiana Ana Simiema, de 35 anos. Dos primeiros trabalhos como maquiadora em curtas-metragens de amigos estudantes de cinema aos bastidores de produções como Ainda Estou Aqui e O Agente Secreto, hoje ela celebra não só a própria trajetória profissional, como o reconhecimento que o cinema nacional vem recebendo. “A gente sonha em fazer filmes que emocionem e conectem as pessoas, e ver esses trabalhos alcançando o mundo é uma honra”, diz.

Ana é radicada no Rio de Janeiro e nos últimos meses participou de dois projetos em Goiás depois de seis anos. Em julho, integrou a equipe do longa-metragem Solina, dirigido por Larissa Fernandes, gravado em Cavalcante, na Chapada dos Veadeiros. “Foi maravilhoso estar de volta para esse filme. A Larissa é minha amiga há uns 15 anos e eu fui maquiadora do primeiro curta dela, que também foi meu primeiro curta, com meia dúzia de pó compacto, gel de cabelo, lápis de olho e papel toalha, tudo bem improvisado (risos)”, conta.

Fazer esse retorno profissional é um misto de alegria, orgulho e gratidão. “É cheio de significado. Me fez lembrar da nossa história, os primeiros trabalhos, caminhos que abrimos juntos, e isso enche meu coração de orgulho e amor”. Depois de Solina, Ana esteve em Goiânia em setembro para sua primeira série documental. “Foi incrível fazer documentário, é um ritmo bem diferente da ficção. Estar a serviço dos entrevistados exige outro cuidado e sensibilidade", conta.

Início 
No cinema, Ana faz um trabalho que é artístico e técnico ao mesmo tempo, em colaboração com diretor, figurinista, elenco e direção de arte para definir a identidade visual de cada personagem. Seu caminho na maquiagem cinematográfica foi sendo construído aos poucos, com uma extensa passagem por outras áreas do universo da beleza. Atendeu em salão, trabalhou com maquiagem social, maquiagem de moda e fez muitos cortes de cabelo, penteados, casamentos e publicidades.

“No começo, tive certo preconceito com a área por causa da rotina intensa do salão, mas me apaixonei. Foi um período bem criativo em Goiânia, com muitos festivais e oficinas gratuitas", conta. Um episódio marcante foi a oficina de maquiagem para cinema com Sonia Penna, realizada na Miau - Mostra Independente do Audiovisual Universitário, festival que não existe mais. “Ela me incentivou a investir na profissão, disse que eu levava jeito. Aquilo fez toda a diferença”, lembra.

Aulas de efeitos especiais na Mostra Trash, oficinas de continuidade, figurino e direção de arte no Goiânia Mostra Curtas — Ana aproveitava cada oportunidade para aprender e experimentar. “Consumia conteúdos, investia em produtos, estudei inglês para aprofundar meus conhecimentos", diz. Depois de dez anos tentando trabalhar com caracterização fora do eixo, no entanto, ela começou a se sentir cansada. “Os cachês eram baixos, os prazos apertados e faltava acesso a materiais. Por isso, decidi me especializar em cortes de cabelo e abrir um salão”.

Retorno 
No fim da pandemia, quando as regras começaram a flexibilizar, Ana foi chamada para trabalhar no cabelo da Lorena Comparato na série Rensga Hits, da Globoplay. “Esse retorno ao set reacendeu meu amor pelo cinema. A equipe, especialmente a caracterizadora Vanessa Barone e o elenco, me incentivaram a voltar para essa carreira e eu percebi que não estava feliz administrando um salão", diz.

A decisão veio: Ana vendeu tudo e se mudou para o Rio de Janeiro. “Antes disso, já havia ido ao Rio em 2018 para colaborar no curta A Bicicleta, com o Tomás Gravina, um efeitista incrível. Ali me apaixonei pela cidade, mas na época não tinha como realizar esse sonho”, conta. “Depois que me mudei, as coisas aconteceram rápido — às vezes acho que estava escrito”.&nbsp;

Logo que chegou, a caracterizadora Débora Saad a chamou para trabalhar na série Magia de Aruna, da Disney. “Foi uma experiência apaixonante, com caracterizações elaboradas e uma equipe de maquiadores sensacionais.&nbsp; Em seguida, fizemos mais dois filmes juntas, e isso confirmou para mim que aquele era o lugar onde eu queria estar”, lembra. Durante as filmagens da série, foi indicada para assinar a caracterização de um longa-metragem em Recife, Salomé.

Na última semana das gravações em Pernambuco, a goiana recebeu uma ligação para saber se poderia ser indicada para a maquiadora Marisa Amenta, que vinha da Argentina para fazer Ainda Estou Aqui. É claro que a resposta foi sim. “Pensei que não seria escolhida, mas ela é uma artista muito sensível e me escolheu pelas fotos do meu portfólio”, conta. “Sempre quis trabalhar com o Walter Salles desde que assisti Terra Estrangeira, mas&nbsp; nunca imaginei que isso fosse acontecer”.

O filme ganhador do Oscar 2025 foi um presente. “Estar nele impulsionou minha carreira”, aponta. Pouco tempo depois, mais um trabalho marcante veio: O Agente Secreto, de Kleber Mendonça Filho. “Foi demais! Filmar em Recife é sempre delicioso, porque as pessoas têm muito respeito pelo cinema. O Kleber é um diretor que se envolve profundamente em todos os processos. Ele parecia adorar efeitos especiais e estava sempre pelo camarim, acompanhando de perto o trabalho”, conta.

Papagaios, de Douglas Soares, chega em breve aos cinemas e foi um marco na carreira de Ana. “Foi minha primeira oportunidade de assinar um trabalho no Rio e novamente estar em contato com minha criatividade. Tivemos uma conexão entre direção, arte, figurino e elenco para criar a estética única dos personagens e do universo do filme. Nunca vou me esquecer do frio na barriga quando fui propor a caracterização ousada que estava imaginando para o Tunico — mas não vou dar spoiler, vocês vão ter que ver o filme e depois me dizer se gostaram”, diz.

Trabalhar com cinema exige muito de quem faz e, por isso, Ana celebra a chance de fazer o que ama. “De certa forma, todos nós somos um pouco loucos por escolher trabalhar com isso. Por isso, dá um orgulho enorme ver nosso trabalho tocando outras pessoas, provocando, despertando sentimentos”, diz. “O camarim é um espaço sagrado. O filme acontece no set, mas os personagens começam a se materializar no camarim”.

"O camarim é um espaço sagrado", conta a caracterizadora goiana Ana Simiema

CINEMA 

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"O Agente Secreto" teve seu favoritismo confirmado nesta segunda-feira (15) e foi escolhido pela Academia Brasileira de Cinema para tentar uma vaga na disputa de melhor filme internacional do Oscar do ano que vem, marcado para o dia 15 de março.

A decisão foi tomada em meio à gritaria das redes sociais, que ao longo da última semana virou palco de uma disputa acalorada entre o longa de Kleber Mendonça Filho e "Manas", de Marianna Brennand, que surgiu como sério candidato na disputa repentinamente.

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Oscar 2026: 'O Agente Secreto' foi escolhido para representar o Brasil (Reprodução/ CinemaScópio)

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Agora, "O Agente Secreto" será apreciado pela Academia de Artes e Ciências Cinematográficas de Hollywood, responsável pelo Oscar, junto com os títulos escolhidos por outros países. O órgão não pode indicar, em melhor filme internacional, produções que não tenham sido as escolhas oficiais de cada nação.

Assim, se "Manas" decidir dar sequência à campanha de internacionalização que começou nas últimas semanas, ficará restrito às outras categorias da premiação. "O Agente Secreto", por sua vez, já é ventilado pela imprensa americana como possibilidade também em melhor filme, roteiro original, direção e ator, para Wagner Moura, o que deu força para sua campanha diante da Academia Brasileira de Cinema.

<div class="p-readmore-box"><a href="https://opopular.com.br/magazine/protagonizado-por-denise-weinberg-e-com-rodrigo-santoro-no-elenco-o-ultimo-azul-chega-aos-cinemas-1.3305247" target="_self">Protagonizado por Denise Weinberg e com Rodrigo Santoro no elenco, 'O Último Azul' chega aos cinemas</a> 
 
<a href="https://opopular.com.br/magazine/o-mais-importante-e-realmente-fazer-parte-de-uma-lista-com-tantos-filmes-notaveis-diz-erico-rassi-1.3302400" target="_self">'O mais importante é realmente fazer parte de uma lista com tantos filmes notáveis', diz Erico Rassi</a></div>

Na área de comentários da transmissão ao vivo no YouTube em que a escolha foi anunciada, fãs e haters se reuniram logo cedo para defender, em especial, "O Agente Secreto". Poucas horas depois, a função de comentários foi desabilitada.

No fim de semana, a disputa dicotômica tomou proporções que geraram desconforto na indústria, com publicações feitas por nomes como Fernanda Torres, Bárbara Paz e Anna Muylaert nas redes sociais.

Também estavam pré-selecionados para tentar a vaga brasileira os filmes "O Último Azul", de Gabriel Mascaro; "Baby", de Marcelo Caetano; "Kasa Branca", de Luciano Vidigal, e "Oeste Outra Vez", de Erico Rassi.

Em 16 de dezembro, a academia hollywoodiana vai anunciar a lista de pré-indicados ao Oscar de filme internacional. O anúncio de quem de fato concorre à estatueta acontece no dia 22 de janeiro.

Nos Estados Unidos, "O Agente Secreto" é da Neon, distribuidora poderosa e influente, responsável pelo grande vencedor deste ano, "Anora", e que pode alavancar a campanha e emplacar um filme brasileiro na disputa logo após a vitória de "Ainda Estou Aqui". Do outro lado do Atlântico, no Reino Unido, a distribuição é da Mubi, outra com poderio significativo.

'O Agente Secreto' vai tentar vaga para o Brasil no Oscar 2026 após superar 'Manas'