Adentrar às memórias de Jorge Braga, 66, é como acompanhar um desfile de carnaval iluminado por marchinhas e confetes. Basta meia hora de conversa para entender que, antes de cartunista, o mineiro é um piadista inveterado. Alma de menino e coração carnavalesco, o artista viveu a repressão da ditadura - e foi preso -, desenhou a redemocratização e as Diretas Já e acompanhou as transformações gráficas da virada do milênio. Suas charges, que falam sobretudo do tempo presente, agora fazem parte de uma coletânea lançada pelo POPULAR como livro digital.

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E-book 'Jorge Braga Pra Você' é um presente aos leitores como parte das comemorações dos 85 anos do POPULAR (Wesley Costa / O Popular)

O e-book Jorge Braga Pra Você é um presente do POPULAR aos seus leitores como parte das comemorações dos 85 anos deste veículo de comunicação. Ao mesmo tempo, celebra os 37 anos do trabalho de nosso adorável menino maluquinho nas páginas do jornal, completados neste mês de junho de 2023.

Para conferir o<a href="https://opopular.com.br/magazine/o-popular-lanca-e-book-com-mais-de-70-charges-de-jorge-braga-1.3035969"> livro digital com mais de 70 charges</a>, basta acessar, a partir desta quarta-feira (7), <a href="http://www.opopular.com.br" target="_blank">www.opopular.com.br</a>, ir na <a href="https://especiais.opopular.com.br/biblioteca-o-popular" target="_blank">aba “Biblioteca”</a>, clicar no <a href="https://conteudo.opopular.com.br/e-book-charges-jorge-braga?_ga=2.5100339.1834498973.1684924109-1974290124.1684924108" target="_blank">link do e-book</a> e fazer um rápido cadastro. É simples e de graça.

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Jorge é daqueles que não abrem mão de um pão de queijo com café com leite quentinho. Nas tardes do fim de semana em seu apartamento no Setor Bueno, gosta de desenhar e, ultimamente, tem se aventurado na pintura. Dali saem barquinhos a navegar sobre o mar azul.

Nascido em Patos de Minas em 1957, o cartunista não se lembra quando começou a rabiscar. “Desde que eu me entendo por gente eu desenho. Profissionalmente foi aos 13, para o jornal A Benção. A partir dali, não parei mais”, diz.

O chargista é da geração do O Pasquim, lendário periódico que encerrou experiente em 1991. Com características artísticas e cunho social e político em tons de humor, os artistas do jornal promoveram a contracultura e oposição ao regime militar. “O Ziraldo diz que eu sou o filho goiano dele. Já o Henfil dizia que eu era o irmão goiano”, comenta risonho.

Em Goiás, lugar onde fixou moradia até os tempos de hoje, Jorge chegou no início dos anos 1970, quando começou a desenhar para jornais como O POPULAR, Folha de Goyaz e Jornal do Tocantins. Foi editor de arte da TV Anhanguera, apresentou e foi júri de programas humorísticos e rodou em teatros do interior com esquetes de comédia. “Fazia piadas, estripulias, gerava barulho. Nos teatros, era como se fosse um stand up, só que não existia ainda esse nome”, explica.

Dos tempos de menino em Patos, em que passava as tardes lendo gibis de super-heróis, como o Batman, Tarzan e Super-Homem, Jorge acabou publicando suas próprias revistas tempos depois. Foi o primeiro a lançar histórias em quadrinhos de Goiás, Badião e Romãozinho. Editou o primeiro livro de charges sobre a criação do Estado de Goiás, o Palmas e Vaias. 
 
Gibiteca 
Doou o acervo pessoal para a criação da gibiteca Jorge Braga, localizada no Centro Cultural Marieta Telles, na Praça Cívica. “De vez em quando ainda vou até lá, chego de surpresa, fico vendo as crianças lendo os gibis, vidradas nas histórias. Dá uma sensação boa”, assume.

Ali, no Centro de Goiânia, Jorge costumava passear com os amigos e trocar HQs nas portas das matinês. Saía da sede do O Popular, na Av. Goiás, e ia direto para os bailes perfumados do Jóquei Clube. “Goiânia era outra cidade. Dava para fazer tudo a pé, caminhando. Hoje já é outra história”, reflete. 
 
Vou vadiar 
Dos tempos de ditadura militar, Jorge foi pego com os amigos na porta da pensão onde morava e levado para a Prisão Provisória erguida ao lado do Parque Mutirama. “Foi uma ironia. Eu que tenho alma de menino, preso ao lado do Mutirama. Fiquei dois dias lá. A prisão foi registrada como “Vadiagem”, mas todo mundo sabia quem eu era e o que eu fazia. No fim das contas, comecei a falar que minha musa era a Clementina de Jesus, da música vou vadiar, vou vadiar”, debocha.

Jorge diz que fazer charge no Brasil é mais fácil do que se pensa. “A piada vem pronta. Meu pai sempre falava muito do social, do coletivo. Aprendi tudo com ele”, completa. As bagunças políticas, o comportamento da cidade, as questões sociais e urbanas: tudo serve de pretexto para suas críticas diárias publicadas na página 2 do O Popular. Em sua rotina de trabalho, o artista costuma assistir ao telejornal, sentar em sua escrivaninha e desenhar o que observa do dia. “Tudo pode mudar, como a vida”, comenta o mineiro.

A charge, para Jorge, é uma questão de sensibilidade, assim como o carnaval. Apaixonado pela festa, o cartunista nasceu em fevereiro. Não deu outra. Foi um dos fundadores do Carnaval dos Amigos, festa tradicional em Goiânia. Quando escuta marchinhas antigas, chega a arrepiar. O carnaval e a charge, segundo o artista, estão interligados pelo humor. “Sou um menino levado que não cresceu”, reitera. 
 
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Arte/O POPULAR (Divulgação)

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O POPULAR lança e-book com mais de 70 charges de Jorge Braga

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Jorge Braga

Jorge Braga, meu amigo de infância em Patos de Minas, nasceu maluquinho, levado da breca, birrento, atrevido e narigudo, cara e focinho do Ziraldo, seu maior ídolo. Na década de 80, cada um por si, purgatório para todos, já estamos fazendo jornalismo em Goiânia, ombreando a mensagem subliminar da dupla “Cumprido” e “Baixim”, personagens criados por Henfil para representar a dualidade do bem e do mal. Eu, repórter político, ele cartunista de humor escatológico, ambos deitando ironia na conjuntura política, nas injustiças sociais e na hipocrisia da sociedade. 
Trabalhamos juntos por décadas, 17 anos só no POPULAR. Longe das redações, inteligência acima da média, Jorge esbanjava simpatia e gostava de imitar políticos goianos, usando bordões de humoristas famosos. Seu estilo favorito era o de Ronald Golias, incluindo a impagável boca torta e o olhar atravessado, de esguelha: “Ô Cride, fala pra mãe!” 
Chico Anysio também fazia parte de seu repertório. Jorge Braga reproduzia com rara perfeição as mentiras do Coronel Pantaleão, imitava Walfrido Canavieira e não escondia predileção por Justo Veríssimo. Em 1983, logo após a inauguração da Vila Mutirão, onde foram erguidas mil casas em um único dia, sobrou até elogios para Iris Rezende com entonação da voz do corrupto político de Chico City: “Tenho horror a pobre...aqui em Goiás tem um governador inteligente, aliás, inteligentíssimo...construiu milhares de casas para pobres...agora, ficou fácil...basta jogar bomba e matar todo mundo...eu quero é que pobre se exploda!” 
Esse é o Jorge Braga que conheci nos últimos 50 anos, competente, desinibido e brincalhão.

Ivan Mendonça 
Goiânia-GO

Eu tenho certeza que a última coisa que Jorge Braga gostaria, era que nós chorássemos e nos entristecêssemos por ele. Seu sorriso, seu alto astral e seu carisma vão contra qualquer tristeza e lamento. A morte prematura deste chargista e cartunista mineiro de Patos de Minas, mas goiano de coração, já está deixando uma saudade imensa. Não veremos mais as suas charges na página do POPULAR, bem como seu humor e visão crítica de temas polêmicos de política, esporte, costumes, cultura e economia. Aliás, não só os adultos gostavam da sua arte, mas as crianças e jovens também adoravam as charges. Sou professor de geografia há 39 anos, e sempre usei as charges do Jorge Braga nas minhas provas, simulados e avaliações em geral. Que Deus conforte os corações dos seus familiares e amigos mais próximos. Descanse em paz, mestre Jorge Braga.

Márcio Manoel Ferreira 
Jardim Novo Mundo - Goiânia

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