Levar a música e os talentos da Orquestra Filarmônica de Goiás (OFG) para todos os cantos do planeta é o objetivo do maestro britânico Neil Thomson, que comemora a gravação do CD com duas sinfonias completas do compositor brasileiro Claudio Santoro (1919-1989). A gravadora Naxos, líder do segmento erudito, já colocou em seu site (www.naxos.com) a capa e a contracapa do álbum, além de ter disponibilizado o repertório. O lançamento oficial do álbum será no dia 11 de março. “Temos um grupo sinfônico de qualidade e as nossas gravações colocam a OFG no cenário internacional”, celebra o regente.O disco faz parte do Projeto Brasil em Concerto, em parceria com o Itamaraty (Ministério das Relações Exteriores), que vem sendo elaborado desde o início de 2017. Serão gravadas aproximadamente 100 obras sinfônicas brasileiras dos séculos 19, 20 e 21 para divulgação no exterior - muitas em primeira gravação mundial. Apenas três orquestras foram selecionadas para fazer parte da iniciativa, o que reforça a qualidade do grupo goiano no cenário nacional. Além da OFG, participam a Orquestra Sinfônica do Estado de São Paulo (Osesp) e a Filarmônica de Minas Gerais (OFMG).A gravação foi realizada entre 1º e 6 de outubro de 2018, no Palácio da Música, no Centro Cultural Oscar Niemeyer (CCON). Neil Thomson conta que o momento foi uma experiência incrível para o corpo sinfônico. “Foi um processo muito intenso. Você está procurando a perfeição, bem como a paixão e emoção dos concertos ao vivo. Esse é um equilíbrio difícil de alcançar e resulta em muita repetição. Mas é fantástico porque exige maior precisão técnica de toda equipe. Depois de terminarmos numa semana, a orquestra está ainda melhor do que o normal”, ressalta Thomson, regente desde 2014 da OFG.O maestro conta que conheceu o repertório de Claudio Santoro, considerado um dos nomes mais expressivos da música nacional, pouco tempo depois que assumiu a regência titular da OFG. “Na época, pedi a vários amigos que me enviassem recomendações de compositores brasileiros e, quando ouvi a Nona Sinfonia de Santoro, me apaixonei pela música dele imediatamente”, lembra o britânico. Entre 1940 e 1989, Santoro escreveu 14 sinfonias. É o maior e mais significativo conjunto de obras do gênero compostas no Brasil. O CD gravado pela Filarmônica de Goiás compreende a 5ª e a 7ª Sinfonias.A Sinfonia nº 5 tem base folclórica, sendo um material altamente criativo e, por vezes, abstrato. A nº 7 é uma de suas obras mais complexas e intensas, uma celebração da nova capital, Brasília. A peça é considerada uma das obras favoritas do próprio compositor. “Para mim, há uma qualidade que permeia toda a música sinfônica de Santoro: um lirismo muscular. Quando nos acostumamos com sua linguagem, as linhas angulosas da 8ª Sinfonia carregam o mesmo poder expressivo, lírico e dramático da 7ª. Ele pode ser colocado ao lado dos grandes sinfonistas do século 20”, comenta Thomson.A divulgação do CD é o primeiro projeto da OFG desde que a orquestra foi incorporada pelo projeto da Escola do Futuro em Artes Basileu França, no primeiro semestre do ano passado. A escola é gerida pela Secretaria de Desenvolvimento e Inovação (Sedi), em parceria com a Universidade Federal de Goiás (UFG). “Goiás está ajudando a suprir uma lacuna na difusão internacional do repertório brasileiro de música de concerto, que considero uma obra complexa e moderna. Você poderá entrar em uma loja de CDs em Tóquio, Nova York, Sydney ou Paris e comprar uma cópia do disco”, celebra o regente.TemporadaAlém de Cláudio Santoro, a OFG, que conta com 56 músicos, ainda gravará em 2022 as sinfonias completas de José Siqueira (1907-1985) e as obras orquestrais de Edino Krieger e César Guerra-Peixe (1914-1993) pela gravadora Naxos. “Se tudo correr conforme o planejado, lançaremos cinco CDs entre março de 2022 e março de 2023”, confia o maestro. A abertura oficial da temporada será no CCON no dia 24 de fevereiro e, no total, serão realizados no ano mais de 40 concertos, entre apresentações locais, turnês regionais e a nacional.“Será uma temporada cheia de variedade. Há algo para todos, música de todos os grandes compositores. Haverá ênfase na obra de Santoro para refletir o lançamento do CD e mostrar que agora a OFG é a orquestra de Santoro no Brasil. Também estamos lançando um projeto importante: Raízes, que considero o projeto comunitário mais ambicioso do Brasil. Fizemos uma parceria com o Departamento de Musicoterapia da UFG e seremos a primeira orquestra do País a fazer shows para crianças autistas, para surdos, usando a música como parte de uma estratégia de controle da dor”, adianta Thomson.O projeto comunitário foi desenvolvido ao longo de 2021 com o compositor e educador Theodore Wiprud, que atuou por quase 20 anos como chefe do Departamento Educacional da Orquestra Filarmônica de Nova York. A previsão é que ainda no primeiro semestre Wiprud venha a Goiânia para fazer a regência de um grande concerto de abertura. “A nossa visão é atingir todos os níveis da comunidade, desde os mais novos aos mais velhos, e dar aos músicos da OFG e aos professores em todo o Estado a metodologia pedagógica para realizar oficinas e criar projetos”, diz Thomson.Mestre SantoroNascido em Manaus, Claudio Franco de Sá Santoro, ou simplesmente Claudio Santoro, foi compositor, regente, violinista e professor. Sua trajetória começou ainda pequeno, aos 11 anos, quando passou a se dedicar ao violino. Em 1933, com uma bolsa de estudos do governo amazonense, o jovem ingressou no Conservatório de Música do Distrito Federal, ainda no Rio de Janeiro, capital federal. O talento chamou a atenção rapidamente e ele logo entrou para a fundação da Orquestra Sinfônica Brasileira como primeiro violista. Em 1946, recebeu uma bolsa de estudos da Fundação Guggenheim de Nova York. Contudo, por ser filiado ao PCB, teve seu visto negado e não pôde estudar fora.Em 1947, uma nova oportunidade apareceu para o músico por meio de uma bolsa do governo francês. Foram dois anos no Conservatório de Paris. Santoro retornou ao Brasil dois anos depois e passou a compor também para o rádio e o cinema. Em 1962, Cláudio tornou-se coordenador do Departamento de Música da Universidade de Brasília. Ali ficou por três anos, demitindo-se em oposição à decisão dos militares de mandar embora diversos professores da instituição que não concordavam com o regime. Exilou-se na Alemanha, entre 1970 e 1978, onde obteve renome internacional. De volta ao País, ele retornou à Universidade de Brasília como coordenador do Departamento de Artes. Dois anos depois, fundou a Orquestra Sinfônica do Teatro Nacional de Brasília. Ele morreu de um enfarte fulminante no palco durante um ensaio em1989.Mestre SantoroNascido em Manaus, Claudio Franco de Sá Santoro, ou simplesmente Claudio Santoro, foi compositor, regente, violinista e professor. Sua trajetória começou ainda pequeno, aos 11 anos, quando passou a se dedicar ao violino. Em 1933, com uma bolsa de estudos do governo amazonense, o jovem ingressou no Conservatório de Música do Distrito Federal, ainda no Rio de Janeiro, capital federal.O talento chamou a atenção rapidamente e ele logo entrou para a fundação da Orquestra Sinfônica Brasileira como primeiro violista. Em 1946, recebeu uma bolsa de estudos da Fundação Guggenheim de Nova York. Contudo, por ser filiado ao PCB, teve seu visto negado e não pôde estudar fora.Em 1947, uma nova oportunidade apareceu para o músico por meio de uma bolsa do governo francês. Foram dois anos no Conservatório de Paris. Santoro retornou ao Brasil dois anos depois e passou a compor também para o rádio e o cinema. Em 1962, Cláudio tornou-se coordenador do Departamento de Música da Universidade de Brasília. Ali ficou por três anos, demitindo-se em oposição à decisão dos militares de mandar embora diversos professores da instituição que não concordavam com o regime.Exilou-se na Alemanha, entre 1970 e 1978, onde obteve renome internacional. De volta ao País, ele retornou à Universidade de Brasília como coordenador do Departamento de Artes. Dois anos depois, fundou a Orquestra Sinfônica do Teatro Nacional de Brasília. Ele morreu de um enfarte fulminante no palco durante um ensaio em 1989.-Imagem (1.2401126)