A causa é de fé. Com uma gravidez considerada de risco, a dona de casa Leiliane da Silva Queiroz, de 32 anos, iniciou uma novena para pedir que tudo ocorra bem durante a gestação. Grávida de pouco mais de oito semanas do quarto filho, ela teve um sangramento e o exame apontou um mioma - que é um tumor benigno que pode levar ao aborto -, e também descolamento de placenta. “Estou bastante confiante porque já vejo o meu filho no meu colo”, profetiza.Passado de geração em geração, o hábito de rezar novenas faz parte da tradição de muitos goianos e intensifica-se no período da Quaresma, iniciada na semana passada. O Estado que teve forte colonização católica ainda guarda o costume que deriva do latim medieval “novenus”. A história conta que o encontro religioso surgiu do pedido de Jesus aos discípulos para orarem após a sua morte. Assim, Nossa Senhora e os apóstolos rezaram juntos por nove dias, desde a Ascensão até o Pentecostes, quando o Espírito Santo finalmente desceu sobre eles.“Participo de novenas desde pequena e nunca tinha feito um pedido tão importante como o de agora de manter minha gravidez. Não tive nenhum problema nas anteriores e tenho muita fé que o meu desejo será atendido”, confia Leiliane. Uma vez por semana ela, o marido, o autônomo Adoniran José Ferreira, 31 anos, e os filhos recebem na área de casa no Parque Oeste Industrial um grupo de nove amigos para rezarem pela gestação. Eles estão na terceira de nove semanas de orações.Quem entra na casa de Leiliane logo percebe que se trata de uma família devota. Na sala, ela montou um altar com as imagens de Nossa Senhora Aparecida, de Nossa Senhora de Fátima, de vários outros santos, um terço na parede, bíblia, flores e velas. Ela conta que tamanha fé é uma forma de agradecer a vida. “Quando eu tinha 12 anos perdi minha mãe. O meu pai matou ela na minha frente e fugiu. Eu tinha tudo para dar errado, mas Deus me carregou nos braços.”Após a morte da mãe, Leiliane foi morar na Bahia com a avó e pouco tempo depois passou a frequentar a Igreja Católica e a participar de novenas. Quando voltou para Goiânia com 18 anos queria ser freira, mas foi freada pela família. “Deus tinha outro plano na minha vida que era dar filhos para Ele e me deu um marido movido por fé.” A família agora reza pelo Carlo Acutis, o “Anjo da Juventude”, italiano que morreu com 15 anos e que está em processo de beatificação.Novenas fazem parte da vida da aposentada Guiomar Alves Machado, de 80 anos, desde criança por incentivo da família. “Quando eu tinha 3 anos entrou um berne no meu olho e ficou ruim demais. Minha mãe fez um voto com o Divino Pai Eterno para minha cura. Pouco tempo depois recebi a graça e não fiquei com nenhum problema na visão. Todo dia eu preciso agradecer pela minha saúde”, vibra ela, que participa de três novenas na igreja e faz outra em casa no Natal.Guiomar conta que recentemente recebeu mais uma cura. Em 2016, ela quebrou o pé, foi internada e contraiu uma infecção hospitalar. “Fiquei 28 dias no hospital e quando fiquei boa o médico disse que foi uma bênção porque tinha pegado uma das piores infecções”, lembra. Pouco tempo depois que retornou para casa a aposentada fez uma reunião religiosa para agradecer pela recuperação. “Fiz novenas para todos os santos para pagar por não ter pedido proteção antes”, afirma.Além de cura, Guiomar também já fez uma novena para a Santa Edwiges, conhecida como padroeira dos pobres e endividados. A aposentada precisava trocar de casa nos anos 1990 e pediu uma ajuda divina. “Coloquei o joelho no chão e pedi para ela me ajudar e encontrar um lugar que ficasse perto de uma igreja. Já terminei a novena com a graça recebida e na mesma semana mudei. Hoje eu não tenho o direito de pedir mais nada, só de agradecer”, conta.-Imagem (Image_1.2009204)