<img attr-cid="policy:1.3187226" attr-version="policy:1.3187226:1728942459" class="p-smartimage" src="/image/policy:1.3187226/image.jpg?f=default&amp;w=400&amp;q=1" />A placa da fonte luminosa da Praça Cívica está toda depredada, sem que seja possível fazer qualquer leitura (Fábio Lima / O Popular)

Elas estão ali para ajudar na identificação dos elementos art déco de Goiânia e auxiliam os moradores da cidade e os visitantes a entenderem mais sobre prédios e monumentos erguidos nos primeiros anos da capital. Espalhados pelas regiões históricas do Centro e de Campinas, esses informativos se encontram esquecidos, sucateados e em situação de abandono.

<a href="https://www.whatsapp.com/channel/0029Va9rbSgCHDyl4gQj7A1C" target="_blank">🔔 Siga o canal de O POPULAR no WhatsApp</a>

Exatos 22 prédios e monumentos formam o Acervo Arquitetônico e Urbanístico Art Déco de Goiânia. Quando as placas foram instaladas, há mais de dez anos, a ideia era promover uma conscientização da população sobre a importância da preservação e da memória da construção de Goiânia, que chega aos seus 91 anos no dia 24.

“As placas de identificação e informações são o primeiro contato do visitante, estudante ou turista sobre um monumento e o ponto turístico. Datas de construção, nomes de personalidades ou acontecimentos são prioritários nessa identificação”, explica o guia de turismo Gutto Lemes, coordenador do Goiânia Art Déco Festival, que promove anualmente um encontro para discutir o patrimônio.

<div class="p-readmore-box"><a href="https://opopular.com.br/politica/candidatos-em-goiania-prop-em-de-incentivo-a-revitalizac-o-1.3179368" target="_blank">Candidatos em Goiânia propõem de incentivo à revitalização</a> 
<a href="https://opopular.com.br/magazine/confira-igrejas-de-goiania-que-guardam-verdadeiras-joias-artisticas-1.3175748" target="_blank">Confira igrejas de Goiânia que guardam verdadeiras joias artísticas</a></div>

<img attr-cid="policy:1.3187225" attr-version="policy:1.3187225:1728942456" class="p-smartimage" src="/image/policy:1.3187225/image.jpg?f=default&amp;w=400&amp;q=1" /> 
O sucateamento é visto também no Relógio da Avenida Goiás (Fábio Lima / O Popular)

Prédios como o Teatro Goiânia e a Antiga Estação Ferroviária, e monumentos como o Relógio e o Coreto da Av. Goiás, o Obelisco e as fontes luminosas da Praça Cívica, estão agora com o que um dia foi o mobiliário urbano. “Nos dias atuais, as placas de identificação podem parecer obsoletas, mas são necessárias, já que ajudam a compreender melhor a história e a construção do conjunto arquitetônico goianiense”, opina Gutto.

A reportagem apurou que as estruturas das placas ainda existem em determinados pontos, a exemplo da Antiga Chefatura de Polícia, mas os informativos, que tinham o QR Code embutido para uma pesquisa on-line mais aprofundada no campo virtual, estão agora depredadas e apagadas com o tempo. O mesmo cenário pode ser visto em Campinas, a exemplo dos pontos históricos do antigo Palace Hotel, hoje Biblioteca Cora Coralina, e a sede do Fórum e Prefeitura da antiga Campininha das Flores.

Alguns bens tombados e que participam do conjunto art déco estão em atual situação de restauração, como o Museu Zoroastro Artiaga, de portas fechadas para uma reforma que ainda não começou, e o Lyceu de Goiânia. “As placas desses prédios em revitalização estão completamente danificadas. Sabemos que o processo de restauro envolve um todo, portanto, seria interessante retirá-las ou colocar novas para não depreciar o patrimônio”, sugere Gutto.

Enquanto o trampolim e a mureta do Lago das Rosas não possuem identificação que data as suas construções, o Grande Hotel, na Av. Goiás, e o edifício do Instituto de Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan), na Praça Cívica, não possuem as placas informativas. A sugestão de Gutto é criar novas placas com o adicional de textos em braile e QR Code com explicações mais aprofundadas e em outros idiomas.

“Uma das capitais mais importantes do estilo moderno e prestes a receber o título temático de Capital Nacional do Art Déco, Goiânia merece que esses ajustes aconteçam para as comemorações do centenário do movimento que nasceu em Paris em 1925”, reitera o profissional, que mantém em seus trabalhos um roteiro do art déco por meio de um passeio de bicicleta pelos prédios e o monumentos que formam a cidade.

<h2>Licitação</h2>

Em resposta ao POPULAR, a Secretaria Municipal de Planejamento Urbano e Habitação (Seplanh), por meio da Comissão Executiva do Plano Diretor, explica que está em andamento um processo licitatório voltado à instalação de novas placas de sinalização e à manutenção do mobiliário urbano da cidade. A licitação será conduzida na modalidade de concorrência, com avaliação baseada na combinação de melhor técnica e preço. Apesar da mudança, a pasta não informou quando serão feitas as substituições.

“O contrato prevê a instalação mínima de 64.196 Conjuntos de Trânsito e Identificação (CTIs), que fornecerão informações essenciais como nome de ruas, CEP, nome dos bairros, além de dados sobre personalidades culturais ou informações turísticas relevantes”, explica a nota. O objetivo é padronizar as placas de indicação de logradouros, seguindo diretrizes arquitetônicas que contribuam para um visual urbano mais harmonioso.

<h3>Traços e formas</h3>

Confira quais são os 22 prédios e monumentos que formam o Acervo Arquitetônico e Urbanístico Art Déco de Goiânia&nbsp;

Casa Pedro Ludovico Teixeira 
Coreto 
Delegacia Fiscal 
Fonte Luminosa 
Fórum 
Museu Zoroastro Artiaga 
Obeliscos (Praça Cívica) 
Palácio das Esmeraldas 
Procuradoria Geral do Estado 
Torre do Relógio da Av. Goiás 
Tribunal Eleitoral&nbsp; 
Escola Técnica Federal de Goiás&nbsp; 
Estação Ferroviária 
Lago das Rosas (mureta e trampolim) 
Lyceu de Goiânia 
Grande Hotel 
Teatro Goiânia 
Antigo Palace Hotel 
Sede do Fórum e Prefeitura Municipal de Campinas

Placas de identificação sobre monumentos e prédios art déco de Goiânia estão sucateadas

Magazine

Magazine - título

Assine - Offers Target - 2

Matéria - Magazine

Memória do abandono

Quem passa pela porta do sobrado da Travessa do Carmo, no centro histórico da cidade de Goiás, consegue imaginar a quantidade de histórias guardadas em seus cômodos. Antigo prostíbulo da primeira capital, o imóvel foi adquirido recentemente pelo odontólogo goiano Rodrigo Januário e pelo estilista mineiro Ronaldo Fraga. Nos próximos meses, o local será transformado em espaço cultural com projetos de arte, moda e intercâmbios culturais. É como diz o ditado: quem casa, quer casa.

<a href="https://www.whatsapp.com/channel/0029Va9rbSgCHDyl4gQj7A1C" style="color: rgb(0, 136, 204); text-decoration-line: none; font-family: &quot;Lucida Grande&quot;, &quot;Lucida Sans&quot;, geneva, arial, sans-serif; font-size: 12px; background-color: rgb(238, 238, 238);" target="_blank">🔔 Siga o canal do O POPULAR no WhatsApp</a>

Os dois se juntam em uma cerimônia de casamento nesta quinta-feira (17), em Goiás, cidade que Ronaldo se apaixonou à primeira vista quando visitou há cerca de um ano, durante a Procissão do Fogaréu. Foi na viagem que eles encontraram o imóvel de 1913. Não deu outra: os noivos adquiriram a casa logo após a descoberta.

“Trata-se de um casarão localizado no antigo Largo do Açougue. A última proprietária, dona Anésia, faleceu há mais ou menos uns dois anos. Dizem que ela era uma mulher ligada às artes, cabeça expansiva, à frente de seu tempo. Também ficamos sabendo que nas décadas de 1960 e 1970 o sobrado era um antigo puteiro”, conta Januário, que está desde o início da semana na cidade de Goiás cuidando dos preparativos para o casório.

<div class="p-readmore-box"><a href="https://opopular.com.br/magazine/pela-primeira-vez-prociss-o-do-fogareu-reune-60-farricocos-na-cidade-de-goias-1.3252975" target="_blank">Pela primeira vez, Procissão do Fogaréu reúne 60 farricocos na cidade de Goiás</a> 
<a href="https://opopular.com.br/magazine/cora-coralina-a-poesia-que-atravessou-o-tempo-1.3250750" target="_blank">Cora Coralina: a poesia que atravessou o tempo</a></div>

O casal batizou o sobrado de Solar dos Urubus, menção à Guimarães Rosa, que já expressou que se fosse um pássaro seria um urubu, porque jamais seria colocado em uma gaiola. “Em segundo lugar, porque somos gays, né? E gay sofre muito preconceito igual ao urubu. Ao mesmo tempo, a ave tem um dos voos mais livres e bonitos, além de ter uma função sanitária. Ele limpa o mundo para a gente viver. Também exige que as pessoas saiam do julgamento superficial e aprofundem na metáfora da vida”, explica o proprietário.

Januário é odontólogo por formação, mas guarda uma paixão vivíssima pela fotografia. Foi por meio dela que ele conheceu o estilista Ronaldo Fraga, que promove expedições culturais em diversas partes do País, a exemplo do Cariri, na Paraíba. Os dois querem unir seus desejos, entusiasmos e afetos no Solar dos Urubus, com ações que vão desde exposições de arte e fotografia, hospedagem, vivências com os moradores e a cultura local, intercâmbios artísticos e projetos ligados à literatura.

“Primeiramente, queremos sempre reiterar o respeito à cidade de Goiás. É igual aquela música de Maria Bethânia: alguém me avisou pra pisar nesse chão devagarinho. A ideia é inserir os saberes e fazeres da região. Ronaldo também deseja colocar uma escola livre de moda no espaço”, pontua Januário. A intenção é de que haja ciclos de oficinas criativas com pessoas de todo o País, além da inserção da comunidade local, como doceiras, fiandeiras e escritores.

O goiano quer dar um protagonismo à fotografia, com imersões fotográficas, exposições e concursos. Para aproveitar a memória do sobrado, o casal começa a colher histórias de mulheres que trabalhavam no antigo prostíbulo. “Descobrimos uma que se chamava Maria Bicicleta. Inclusive, a atriz Maitê Proença se mostrou interessada em fazer essa personagem tão rica”, reitera.

<h2>Lá vem os noivos</h2>

Ainda não há uma data exata para o início das atividades. O casarão passará por uma reforma para estar nos trinques para receber as ações a partir do próximo semestre. A parte da frente do imóvel está conservada, com a escadaria original e o salão com o piso original. O restauro está sob direção do designer Genésio Maranhão e do arquiteto Marcos Queiroz.

Até aqui, o casal aproveita o ensejo do casamento para fazer com que amigos, colegas e parceiros de outros estados conheçam a cidade de Goiás aproveitando a data especial da Semana Santa com a Procissão do Fogaréu. Há ainda outras procissões até o final de semana, além de festas, reinauguração da Catedral de Sant’Ana e diversos ritos populares no feriado prolongado.

Nomes como os jornalistas Sandra Annenberg, Ernesto Paglia e Zeca Camargo, além do ator goiano Alejandro Claveaux, estão em Goiás e participam da festa. O casamento será comemorado em uma chácara urbana, próximo ao Largo do Chafariz, no centro histórico. Quem assume o cardápio do festejo é a chef Emiliana Azambuja, que prepara um cardápio especial unido as gastronomias goiana e mineira. Há ainda a apresentação de uma cantora que os noivos preferem manter a surpresa.

“Como compramos a casa, resolvemos também fazer o casamento em Goiás porque dá a oportunidade de as pessoas conhecerem a cidade e o Fogaréu. Pode passar batido para nós, goianos, mas quem vem de fora fica impressionado com a cidade”, conclui Januário, que segue morando em Goiânia enquanto Fraga continua em Belo Horizonte (MG). “A gente se vê muito. Ficamos mais tempo juntos que separados. Não estamos preocupados com isso. Se o Solar dos Urubus deslanchar, aí já é uma outra história…”, sugere.

Sobrado histórico da cidade de Goiás vai ganhar projeto de arte, moda e cultura

PATRIMÔNIO

Por todos os lados, das ruas de pedra, vielas e becos até do alto da Serra Dourada, é possível ver de longe a imponência da Catedral de Sant’Ana, na cidade de Goiás. Maior edificação da primeira capital e um dos símbolos do patrimônio histórico do Estado, a igreja passou por um restauro completo durante dois anos e, agora, será aberta aos fiéis, turistas e amantes da história na próxima quarta-feira (16), em missa de celebração à Semana Santa.

<a href="http://opopular.com.br/canal" style="color: rgb(0, 85, 128); outline: 0px; outline-offset: -2px; font-family: &quot;Lucida Grande&quot;, &quot;Lucida Sans&quot;, geneva, arial, sans-serif; font-size: 12px; background-color: rgb(238, 238, 238);" target="_blank">🔔 Siga o canal de O POPULAR no WhatsApp</a>

O aspecto inacabado da Catedral reitera todas as lendas e mitos que a edificação mantém desde o seu surgimento, no século 18. Incrustada na Praça do Coreto, ao lado do Palácio Conde dos Arcos, a igreja leva o nome da padroeira de Goiás. As obras, realizadas pela equipe de equipe de Patrimônio Histórico e Artístico da Secretaria de Estado da Cultura (Secult Goiás), custaram R$ 4,6 milhões oriundos integralmente do Estado.

A última grande intervenção pela qual a edificação passou foi há mais de 20 anos. Desta vez, as principais mudanças ficam por conta da revisão total da cobertura e forro, restauração dos ornamentos em gesso, pintura interna e externa e troca de todo piso que já estava em estado de degradação.

<div class="p-readmore-box"><a href="https://opopular.com.br/magazine/escultura-de-leodegaria-de-jesus-e-novamente-alvo-de-vandalismo-na-cidade-de-goias-1.3250732" target="_blank">Escultura de Leodegária de Jesus é novamente alvo de vandalismo na cidade de Goiás</a> 
<a href="https://opopular.com.br/magazine/cora-coralina-a-poesia-que-atravessou-o-tempo-1.3250750" target="_blank">Cora Coralina: a poesia que atravessou o tempo</a></div>

“Encontramos pedras antigas durante a troca dos pisos que gerou a necessidade da sua preservação”, explica a gerente de Obras e Engenharia, Cecília Guimarães. “Além da recuperação do telhado, o restauro também contemplou o serviço de arqueologia, as instalações elétricas, iluminação, pinturas, troca do piso, higienização das pinturas no altar e revitalização das portas”, completa a superintendente de Patrimônio, Bruna Arruda.

<img attr-cid="policy:1.3251618" attr-version="policy:1.3251618:1744404012" class="p-smartimage" src="/image/policy:1.3251618/image.jpg?f=default&amp;w=400&amp;q=1" /> 
Igreja foi erguida no século 18 e guarda diversas lendas e mitos (Diomício Gomes / O Popular)

Tecnicamente, um dos maiores desafios que a equipe da Secult encontrou foi durante a etapa de cobertura. Historicamente, a igreja já passou por episódios de desabamentos ao longo dos séculos. “Foram removidas as telhas, parte da estrutura foi trocada e posteriormente remontada. A altura da igreja e o dimensionamento das peças de madeira que sustentam a cobertura tornaram o serviço ainda mais complexo”, aponta Bruna.

A demanda arqueológica, segundo a gerente de Projetos Arquitetônicos, Melissa Alves, também empreendeu tempo e trabalho árduo. “Totalmente pronta, a igreja tem acessibilidade, preservando características originais, como os vitrais, o forro artístico e pisos da época de sua construção”, diz a profissional.

O fato é que a Catedral de Sant’Ana possui muitas complexidades em função de seu histórico, sendo reerguida algumas vezes. Cada vez que o prédio desabou, parte da história se perdeu e cada vez que foi reerguida, algo foi alterado. É esse o motivo pelo qual aparecem materiais diferentes na fachada, para destacar o que foi construído posteriormente. “Quando analisamos a edificação, buscamos conhecer cada uma dessas intervenções e prospectar pelos resquícios que podem demonstrar parte da história perdida”, comenta Bruna.

De antemão, a superintendente avisa: desta vez a Catedral de Sant’Ana está pronta! “Um pequeno pedaço do piso não foi executado e foi musealizado devido às lendas. Assim, preservamos o patrimônio da igreja e da cultura popular local”, explica. A equipe da obra fez questão de deixar a particularidade à mostra. “Internamente temos uma sala com as pedras da construção original. Colocamos vidro para mantê-lo visível, com o cuidado para que esse aspecto do que era “inacabado” seja percebido e conservado”, reitera. Pelo visto, a igreja desta vez não cai.

<img attr-cid="policy:1.3251616" attr-version="policy:1.3251616:1744404096" class="p-smartimage" src="/image/policy:1.3251616/image.jpg?f=default&amp;w=400&amp;q=1" /> 
Padre Augusto rezará a missa de celebração da nova Catedral na próxima quarta-feira (16) (Diomício Gomes / O Popular)

Banho de cultura e fé

“O espaço de fé deve ter dignidade para a experiência de graça e celebração”, adianta o padre Augusto Cezar Silva Pereira, que toma conta da Catedral de Sant’Ana, na cidade de Goiás. Por quase dois anos, o pároco levou as tradicionais missas para a Igreja São Vicente de Paula. Na próxima quarta-feira (16), às 19 horas, o sacerdote vai estrear as novas instalações da edificação em uma cerimônia especial de início da Semana Santa. Logo após, começam as festividades da tradicional Procissão do Fogaréu.

A reforma da Catedral faz parte de um projeto maior da Secult Goiás intitulado Fé, Religiosidade e Devoção, que percorre vários templos do Estado. Já são quatro edificações reformadas, a exemplo da Igreja Nosso Senhor do Bonfim, localizada em Silvânia. “Temos mais uma em andamento na cidade de Jaraguá e uma em processo de instrução de licitação. Aos poucos vamos resgatando essa parte importante da cultura do Estado”, reflete a superintendente de Patrimônio, Bruna Arruda.

<img attr-cid="policy:1.3251634" attr-version="policy:1.3251634:1744404245" class="p-smartimage" src="/image/policy:1.3251634/Catedral de Sant'Anna- desenho de Thomas Endereço 1819.jpg?f=default&amp;w=400&amp;q=1" /> 
1819: em uma época sem fotografia, a cidade de Goiás era registrada por viajantes enviados pela Coroa Portuguesa (Acervo Ovat)

<h2>Igreja amaldiçoada?&nbsp;</h2>

A portentosa Catedral começou a ser erguida em 1743, dedicada a Sant’Ana, por Manuel Antunes da Fonseca, o então Ouvidor-Geral de Goiás. No local, havia uma pequena capela, que foi demolida para abrir espaço para a nova edificação. Reza a lenda que um antigo padre, insatisfeito pela demolição do templo, amaldiçoou a igreja, proferindo que ela jamais seria concluída. Sempre que tentassem terminar, o teto dela desabaria. Foi o que aconteceu, por exemplo, em 1872.&nbsp;

“Por três vezes o teto da Catedral caiu. Alguns gostam de legitimar a praga a um padre, que foi retirado da cidade. Ora esta, padre apenas abençoa”, brinca o padre Augusto Cezar. Após inúmeras reformas, apenas em 1998 a igreja foi restaurada pela Diocese de Goiás em parceria com o Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan).

<img attr-cid="policy:1.3251644" attr-version="policy:1.3251644:1744404751" class="p-smartimage" src="/image/policy:1.3251644/1000803130 (1).jpg?f=default&amp;w=400&amp;q=1" /> 
1950: Com a transferência da capital para Goiânia, a cidade de Goiás passou por um momento de abandono (Acervo Ovat)

As lendas que envolvem a Catedral foram passadas de geração em geração por meio da história oral. De acordo com o presidente da Organização Vilaboense de Artes e Tradições (Ovat), Guilherme Veiga, em 1759 todo o teto desabou e passou por uma imediata reedificação. Já em 1872, apareceram novamente rachaduras em toda sua estrutura. “Em 1930, Dom Emanoel Gomes de Oliveira, bispo de Goiás, tentou novamente reerguê-la, mas conseguiu levantar somente a capela-mor”, conta.

Um dos importantes nomes que conseguiram colocar de pé a igreja foi a dona Darcília de Amorim, que promoveu peças teatrais e outros eventos com vendas de ingressos para angariar recursos. “Dona Darcília foi uma mulher que se dedicou para levantar a Catedral desde a primeira metade do século 20, até a década de 1960, quando finalmente conseguiu reabri-la. Essas inúmeras tentativas de reconstrução e de nunca terminar só reforçam a lenda de que caso a Catedral seja terminada, ela sofrerá novamente um desabamento”, sugere Guilherme.&nbsp;

<img attr-cid="policy:1.3251637" attr-version="policy:1.3251637:1744404844" class="p-smartimage" src="/image/policy:1.3251637/catedral de satana 1970.jpg?f=default&amp;w=400&amp;q=1" /> 
1960: por meio da dedicação de dona Darcília de Amorim, a catedral foi reerguida a partir da segunda metade do século 20

<img attr-cid="policy:1.3251639" attr-version="policy:1.3251639:1744404886" class="p-smartimage" src="/image/policy:1.3251639/catedral de santana anos 1990.jpg?f=default&amp;w=400&amp;q=1" /> 
1992: a igreja sofreu muitas intervenções até o final do século 20, quando passou por uma reforma sob orientação do Iphan (Acervo Ovat)

&nbsp;

Catedral de Sant'Ana ganha restauro e está pronta para receber fieis e turistas na Semana Santa

CIDADE DE GOIÁS

Quem vê as fotos que ilustram o livro Avenida Araguaia: Décadas de 1930 a 1960 (Editora Kelps) provavelmente se pergunta: onde foram parar esses casarões com murinhos e grades pequenas que decoravam uma das primeiras avenidas de Goiânia? Quem são essas pessoas que andavam de bicicleta e como estão essas crianças que brincavam livres no meio da rua?

<a href="http://opopular.com.br/canal" style="color: rgb(0, 85, 128); text-decoration-line: none; font-family: &quot;Lucida Grande&quot;, &quot;Lucida Sans&quot;, geneva, arial, sans-serif; font-size: 12px; outline: 0px; background-color: rgb(238, 238, 238);" target="_blank">🔔 Siga o canal de O POPULAR no WhatsApp&nbsp;</a>

Foi pensando em formas de salvaguardar o patrimônio histórico da cidade que diversos pesquisadores e escritores se reuniram ao longo do último ano para pesquisar as três primeiras décadas da Av. Araguaia em livro lançado na última semana pela Academia Goiana de Letras (AGL). O projeto reúne entrevistas, textos, recortes de jornal e de listas telefônicas, publicidades e anúncios da época e acervos pessoais, como fotografias, que ajudam a desvendar uma Araguaia de outros tempos.

“Apesar de ter apenas 91 anos, Goiânia vive uma espécie de apagão memorial. O patrimônio histórico e a memória humana estão se perdendo no passado. O livro da Av. Araguaia ajuda a desvendar a memória da região para tentar entender os seus caminhos futuros”, argumenta o curador da obra, o escritor Ubirajara Galli. Foi o poeta e ex-presidente da AGL que tratou de reunir todo o material que compõe a pesquisa. A arquiteta e urbanista Narcisa Abreu Cordeiro assina a idealização do projeto.

<div class="p-readmore-box"><a href="https://opopular.com.br/magazine/literatura-brasileira-ganha-destaque-internacional-premiac-es-traduc-es-e-reconhecimentos-1.3207607" target="_blank">Literatura brasileira ganha destaque internacional: premiações, traduções e reconhecimentos</a> 
<a href="https://opopular.com.br/magazine/primeiro-museu-de-goiania-e-marco-art-deco-da-cidade-museu-zoroastro-artiaga-passa-por-restauro-completo-1.3206323" target="_blank">Primeiro museu de Goiânia e marco art déco da cidade, Museu Zoroastro Artiaga passa por restauro completo</a></div>

O livro acompanha a avenida desde o seu primeiro traçado, com os prédios públicos erguidos, como a Delegacia do Trabalho Indústria e Comércio, até a chegada do modernismo nos projetos arquitetônicos das residências do final dos anos 1960. A obra também sinaliza quem eram as famílias que viviam nos primeiros casarões construídos, como eles viviam e quais eram os principais pontos de encontro e comércio.

<img attr-cid="policy:1.3208436" attr-version="policy:1.3208436:1733781966" class="p-smartimage" src="/image/policy:1.3208436/image.jpg?f=default&amp;w=400&amp;q=1" /> 
Na foto, Maria Regina, filha primogênita do funcionário público cearense Plínio Moreira de Menezes, que foi transferido da cidade de Goiás para Goiânia no final dos anos 1930(Acervo pessoal)

“As famílias foram fundamentais para conseguirmos informações valiosas sobre como a avenida foi se transformando ao longo dos anos, quem eram os vizinhos, como era viver em uma cidade recém-construída e inaugurada”, destaca o curador. O livro dá destaque para diversos pontos da Araguaia, como a região dos hotéis na Rua 4, o cruzamento com a Av. Anhanguera, e o seu final, no Bosque Botafogo.

Algumas curiosidades também são apontadas na obra, como a primeira academia de ginástica de Goiânia, instalada na Araguaia em 1965. Batizada de Musculo Y Poder, a princípio o espaço só recebia homens, mas passou a ter um horário exclusivo para atender destacadas mulheres da sociedade goiana. Entre as frequentadoras estavam a escritora Célia Coutinho Seixo de Britto, mulher do prefeito Hélio Seixo de Britto, a musicista Belkiss Spencieri e a marchande Célia Câmara. Mais tarde, a academia se tornaria um point LGBT.

O livro também apresenta a história de edifícios e prédios que ainda hoje estão de pé na avenida. É o caso do Edifício Cidade de Goiás, que representou uma das maiores construções de Goiânia nos anos 1940. A edificação foi considerada um sucesso com o grande empreendimento comercial construído na então nova capital goiana.

<img attr-cid="policy:1.3208434" attr-version="policy:1.3208434:1733781964" class="p-smartimage" src="/image/policy:1.3208434/image.jpg?f=default&amp;w=400&amp;q=1" /> 
Fachada da Farmácia Nossa Senhora Auxiliadora, em 1943. Na época, foi a única farmácia de Goiânia solicitada para aulas de Química do professor Agnelo Fleury, do Lyceu de Goiânia (Acervo pessoal)

A Av. Araguaia também acolheu destacados pioneiros da fotografia goianiense, como o italiano Sílvio Berto, que tinha um estúdio em Campinas, mas transferiu seu ponto comercial para a avenida em 1942. Nesse local, permaneceu por 17 anos, quando, em 1959, montou seu ateliê na Rua 3 com a Rua 20. “Toda a elite buscava seu estúdio, haja vista o cuidadoso e artístico trabalho na iluminação e perfeccionista no retoque das chapas de vidro”, disse a escritora Célia Coutinho em depoimento.

<h2>Legado</h2>

O livro faz parte de uma coleção literária que já está em sua oitava edição. Antes da Av. Araguaia, os autores e pesquisadores que formam o núcleo de trabalho da série já publicaram obras de outros logradouros de Goiânia, como da Alameda dos Buritis e das Rua 3, 23, 20 e 29. “Nós já temos os novos endereços que vamos começar a pesquisar para as próximas publicações: um será das Ruas 25 e 16, e o outro especial da Av. Paranaíba. Continuamos reverberando o passado para que a memória de Goiânia não seja esquecida”, reitera Ubirajara.

<img attr-cid="policy:1.3208435" attr-version="policy:1.3208435:1733781965" class="p-smartimage" src="/image/policy:1.3208435/image.jpg?f=default&amp;w=400&amp;q=1" /> 
Cena comum dos primeiros anos de Goiânia: crianças se aglomeram e brincam na calçada da Av. Araguaia. As residências tinham muros baixos e jardins na frente, com árvores que minimizavam o tempo quente e seco da nova capital (Acervo pessoal)

<h3>Ficha técnica&nbsp;</h3>

Avenida Araguaia - Décadas de 1930 a 1960&nbsp;

Editora Kelps&nbsp;

348 páginas

Idealização: Narcisa Abreu Cordeiro

Curadoria: Ubirajara Galli&nbsp;

Preço: R$ 80 (na sede da Academia Goiana de Letras)&nbsp;

<img attr-cid="policy:1.3208433" attr-version="policy:1.3208433:1733781963" class="p-smartimage" src="/image/policy:1.3208433/image.jpg?f=default&amp;w=400&amp;q=1" />

&nbsp;

Livro reúne documentos, imagens e arquivos dos primeiros anos da Avenida Araguaia

HISTÓRIA

Um monumento de 9,20 metros de altura por 17 metros de largura feito com madeiramento de aroeira recuperada de demolições, aço corten com letras vazadas e garras de ferro na cor dourada. Último projeto deixado em vida pelo artista vilaboense Elder Rocha Lima, a Arcada Monumental foi pensada para ser instalada na rodovia GO-070 em homenagem aos 300 anos da cidade de Goiás.

<a href="https://www.whatsapp.com/channel/0029Va9rbSgCHDyl4gQj7A1C" target="_blank">🔔 Siga o canal de O POPULAR no WhatsApp</a>

O amor pela primeira capital goiana e sua paisagem exuberante rodeada pela Serra Dourada fez com que Elder retornasse à antiga Vila Boa em seus últimos anos de vida. Morto em outubro, o artista deixou seu ateliê aberto com obras inéditas além do projeto da Arcada Monumental do Tricentenário, já desenhado e randomizado para apresentar às autoridades e realizar estudos de instalação na rodovia.

“Além de projetos e eventos festivos, Elder acreditava que as comemorações dos 300 anos da cidade de Goiás deveriam ter alguma marca para a posteridade. Foi quando pensou na Arcada Monumental”, conta o produtor PX Silveira, que, junto com o artista e representantes da antiga capital, criaram a Comissão do Tricentenário, grupo independente e sem fins lucrativos e apoio governamental para discutir e colher sugestões e subsídios para ações da data.

<div class="p-readmore-box"><a href="https://opopular.com.br/magazine/palacio-conde-dos-arcos-recebe-projeto-de-literatura-e-artes-visuais-1.3199865" target="_blank">Palácio Conde dos Arcos recebe projeto de literatura e artes visuais</a> 
<a href="https://opopular.com.br/magazine/iphan-goias-lanca-portaria-com-criterios-de-preservac-o-do-patrimonio-art-deco-1.3193359" target="_blank">Iphan Goiás lança portaria com critérios de preservação do patrimônio Art Déco</a> 
<a href="https://opopular.com.br/magazine/tunel-no-teatro-goiania-confira-lendas-urbanas-que-assombram-goiania-1.3193692" target="_blank">Túnel no Teatro Goiânia? Confira lendas urbanas que assombram Goiânia</a></div>

No desenho original de Elder, a Arcada é apoiada nas extremidades por suportes de alvenaria e seria instalada no canteiro da GO-070, próxima à Capela das Areias. Historicamente, o local servia de ponto de chegadas e partidas: os habitantes da cidade saíam em comitivas até o ponto para receber os visitantes ilustres e, depois, deixá-los na hora das despedidas.

<img attr-cid="policy:1.3201329" attr-version="policy:1.3201329:1732054479" class="p-smartimage" src="/image/policy:1.3201329/image.jpg?f=default&amp;w=400&amp;q=1" /> 
Esboço do projeto original de Elder Rocha Lima (Acervo pessoal)

“O artista chegou a ir durante muitas vezes até a rodovia para estudar o melhor lugar para instalar o monumento. O primeiro lugar pensado foi perto da Capela das Areias e o segundo já no perímetro urbano da cidade”, explica PX, que acompanhou Elder nas démarches junto às autoridades para apresentar a ação do projeto. A ideia é que a Arcada fosse instalada e inaugurada antes mesmo da data do tricentenário, completado em julho de 2027.

Com princípios que passeiam pela arte, design e arquitetura contemporâneas, Elder construiu um monumento não pensado sob os moldes coloniais que tanto servem de simbologismo para Goiás. A ideia, segundo a sua viúva, Graça Fleury, presidente do Instituto Bertran Fleury, é que a Arcada refletisse o futuro da cidade histórica, dos 300 anos para frente.

“Elder tinha uma visão do futuro, por isso o desenho é tão contemporâneo, moderno. Ele fez vários estudos e, depois, elegemos o projeto final”, reitera Graça. Os próprios elementos e materiais construtivos brincam com a questão da contemporaneidade, a exemplo da iluminação toda de energia solar.

<h2>Execução</h2>

Com o projeto estruturado, PX busca apoios com organizações para que a Arcada possa ser executada entre 2025 e 2026. Outro desafio é conseguir o aporte da Agência Goiana de Infraestrutura e Transportes (Goinfra) para autorizar a obra de instalação no canteiro da rodovia duplicada. “Uma vez autorizada pela Goinfra, a gente procurará junto a parceiros e patrocinadores uma forma de executá-la. Fizemos a análise da obra e ela custaria em torno de R$ 430 mil”, completa o produtor.

Toda a Comissão do Tricentenário e os projetos pensados pelo grupo são independentes e não há nenhum representante de órgão público, segundo PX. “A comissão foi criada para que Goiás chegue aos seus 300 anos bem cuidada em todas as frentes e sob todos os aspectos. A ideia é despertar e sugerir ações relevantes que representem ganhos permanentes para a cidade, a exemplo da Arcada Monumental”, destaca Siqueira.

Além de PX, outros nomes integram a Comissão como, por exemplo, Marlene Velasco, diretora do Museu Casa de Cora Coralina, a própria Graça Fleury, Leonardo Lacerda, presidente da Fundação Frei Simão, o frei Cristiano Bhering, e Sérgio Siqueira, presidente do Instituto Biapó. “O nosso desejo é fomentar discussões e promover ações diretas e permanentes”, finaliza o produtor.

<h3>Lá do alto da Serra Dourada</h3>

Mais ou menos um ano e meio antes de morrer, Elder Rocha Lima subiu a Serra Dourada. A paisagem sempre serviu de inspiração e mistério para as suas pinturas. Não por menos, o artista deixou uma série de pinturas sobre o local que deve se tornar exposição no próximo ano no Instituto Biapó, no centro histórico da cidade de Goiás.&nbsp;“As obras não retratam apenas as belezas do Cerrado, mas servem como um alerta às queimadas e destruição do meio ambiente. Elder sempre esteve ligado a esses temas que reverberam ano após ano”, comenta PX.&nbsp;

Além de obras, inclusive incompletas, Elder também deixou dois livros a serem publicados.&nbsp;De acordo com a viúva, Graça Fleury, uma das obras é formada por textos críticos de arte que foram publicadas no POPULAR e no Jornal de Brasília ao longo de décadas. “Ainda não há data para a publicação, mas queremos manter o legado e o trabalho com os quais o artista nos presenteou”, diz.&nbsp;

<img attr-cid="policy:1.3201337" attr-version="policy:1.3201337:1732054750" class="p-smartimage" src="/image/policy:1.3201337/ELDER ROCHA LIMA ATELIE (21) FotoCarlosMonaretta (1).jpg?f=default&amp;w=400&amp;q=1" /> 
O artista deixa obras importantes para as artes de Goiás (crédito: Carlos Monaretta)

&nbsp;