Pouco se sabe do que aconteceu com Leodegária de Jesus fora de Goiás. “Ela dedicou a maior parte de seu tempo para cuidar do pai. Ela se tornou um arrimo de família, juntamente com suas irmãs, já que o patriarca estava doente.” Além disso, fundou e administrou um colégio. A publicação do livro Orchideas, em 1928, é seu único projeto literário nas décadas seguintes. Ela chegou a adotar uma menina. “Com essa filha adotiva, a professora Darcy Denófrio trocou correspondências. Mas ela também já morreu sem deixar descendentes. Todas as irmãs morreram sem deixar filhos.”Leodegária faleceu em 1978, em Belo Horizonte, onde passou a morar nas últimas décadas de sua vida. Não há informações sobre se teria ou não deixado material inédito para publicação. “Só conseguimos encontrar poucos textos esparsos publicados em jornais, mas não há originais. A casa onde ela morou em Belo Horizonte também não existe mais. No lugar dela foi construído outro imóvel. A família desapareceu”, lamenta Goiandira. As cartas que a professora Darcy recebeu da filha da poeta são os únicos registros escritos do clã após a partida de Leodegária.Tragédias e omissões que parecem se coadunar com uma biografia cheia de obstáculos. “O pai de Leodegária era um homem negro e ela era bem morena. Há quem acredite que a questão da cor da pele tenha influído nas dificuldades que teve em uma cidade que era muito conservadora”, pondera Goiandira. Fato é que a escritora manteve-se em atividade naquele passado de mais de um século atrás. Foi presidente do chamado Grupo Literário Goiano e colaboradora do jornal feminino A Rosa, em ambos tendo a companhia de Cora Coralina.Na avaliação da professora Goiandira, o legado de Leodegária passou muito tempo silenciado. “Para se ter uma ideia, depois que ela publicou o primeiro livro escrito por uma mulher em Goiás, em 1906, apenas décadas depois apareceu o segundo, que foi o de Regina Lacerda. Leodegária teve papel fundamental como pioneira nesta área. Só depois vieram os livros de Rosarita Fleury, de poetas como Yêda Schmaltz e da própria Cora Coralina”, aponta a pesquisadora. Centro e trinta anos após seu nascimento, a poeta, finalmente, parece receber a devida atenção.