Lavoura Arcaica chegou em 1975 e deixou todos boquiabertos. O livro era diferente de tudo o que havia até então, não exatamente pela temática – os conflitos familiares e um filho pródigo –, mas sim pelas experimentações da linguagem em um enredo caprichosamente tecido, que vai aumentando a tensão a cada página. Em 1978 foi lançado Um Copo de Cólera, novela na qual há outras inovações, onde o erotismo e o rancor dividem o mesmo leito e os mesmos ressentimentos. Demorou muito até que em 1997, quase 30 anos após o último título, veio à tona o breve título Menina a Caminho, que na verdade é seu primeiro trabalho de ficção, escrito ainda nos anos 1960 e que apenas alguns leitores privilegiados haviam conhecido até então. Trata-se de uma reunião de quatro contos. Eis tudo! E bota tudo nisso! São apenas três livros, lançados esparsamente e há um bom tempo. Mas essa trinca de títulos foi o suficiente para fazer de seu autor, Raduan Nassar, um dos nomes mais relevantes da literatura brasileira, dono dos principais prêmios em língua portuguesa e uma referência inescapável quando falamos em nossa produção ficcional no último meio século. Nascido em Pindorama, interior de São Paulo, em 27 de novembro de 1935, ele jamais abandonou esse espaço natal, em sua vida particular e nas linhas mestras de seus livros. Ainda que nem todos se identifiquem com o imaginário do interior, os conflitos abordados nas narrativas têm uma forte ligação com as mentalidades que regem comunidades que, em geral, são tributárias de ritos religiosos rígidos e se estruturam tendo os valores do patriarcado em perspectiva.