Uma mulher enterra o corpo de uma criança, não atende o telefone do que parece ser o marido aflito, depois arrasta provavelmente a sua segunda filha para dentro de um carro e dirige perigosamente pela estrada em um definitivo ato destrutivo. É assim que Uma Família Feliz, que estreia nesta quinta-feira (4), em sessões no Cinemark do Flamboyant Shopping e no Cine Cultura, apresenta os primeiros minutos dramáticos de uma trama que começa pelo fim. Dirigido por José Eduardo Belmonte (Alemão 2 e Carcereiros), o longa de suspense é protagonizado pelos atores Reynaldo Gianecchini e Grazi Massafera.

“Queria muito contar uma história que começasse pelo fim porque os meus livros são conhecidos pelos finais surpreendentes e ouvia os leitores falando que gostavam das minhas obras, especialmente das últimas páginas. Aí, tive a ideia de iniciar uma trama assim. Você começa sabendo como vai acabar, mas a questão não é como termina, mas como se chega nesse acontecimento”, analisa em entrevista ao POPULAR o escritor Raphael Montes, roteirista do filme, que é baseado na obra Família Feliz. Autor de Bom Dia, Verônica, série da Netflix, ele é reconhecido por seus thrillers eletrizantes, que somam mais de 500 mil cópias vendidas, com traduções para dez idiomas.

Após a primeira cena aterrorizante, a trama do filme volta alguns meses numa vida supostamente perfeita de uma família que mora em um condomínio fechado de classe média alta. Ao lado de amigos, eles estão celebrando o aniversário de 10 anos das gêmeas Sara (Luiza Antunes) e Ângela (Juliana Bim), que são filhas do relacionamento anterior de Vicente, papel de Gianecchini. Eva (Grazi Massafera) está na reta final de gravidez e pouco tempo depois ganha Lucas. Noites mal dormidas e muito cansaço por conta dessa jornada, dificuldade para amamentar e falta de apoio do marido culminam numa depressão pós-parto.

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Família Feliz tem quase duas horas de duração, que passam muito rápido por conta da trama totalmente envolvente e pelo alto nível de atuação de Reynaldo Gianecchini e Grazi Massafera na tela. Esse é o resultado de uma direção primorosa de José Eduardo Belmonte, que tirou o melhor dos atores. Os olhares opacos, reações boquiabertas e a raiva engolida a seco de um para o outro mostram o tamanho da entrega do elenco. Vicente é ora fofo, prestativo e amoroso. Em outro momento, ele é machista, frio e opressor com sua mulher, como, quando ele diz que o trabalho da mamãe é “brincar de bonecas”.

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Vicente é quem traz mais aporte financeiro para a família por ser advogado e por viver na expectativa de uma promoção, o que faz ele descredibilizar por vários momentos a atividade profissional da sua mulher. Já Eva, além de cuidar do lar, trabalha em um estúdio em casa. Ela constrói bonecas altamente realistas – o que chega até a ser assustador - para ensaios fotográficos. Antes da maternidade, ela era uma mulher bastante decidida e forte. Com a chegada do filho, ela muda totalmente sua fisionomia. A partir daí sua personagem reside o choque, a incredulidade, o pavor, a insegurança e o medo.

“O Vicente é interessante no sentido de que ele tem muitas camadas que são ocultas. Geralmente na novela é muito explícito o que você faz, o melodrama já pede uma identificação rápida. No filme, era o oposto, é sobre o que você esconde, é o mundo das aparências. Você não sabe direito quem é esse homem. O diretor falava nas gravações que ele é o passivo agressivo”, ressalta Reynaldo Gianecchini, em entrevista ao POPULAR. “Ele é um personagem que vem muito de encontro com o que quero fazer ultimamente, não quero mais fazer novela, quero me testar em outras narrativas”, complementa.

Uma Família Feliz é o terceiro trabalho de Grazi e Reynaldo juntos. Anteriormente, os atores fizeram a novela A Lei do Amor (2016) e a série Verdades Secretas (2015), produções da Globo. No entanto, os seus personagens quase não se encontraram nas gravações. “Sempre tive a vontade de trabalhar mais perto da Grazi, acho uma atriz interessante, uma pessoa querida, inteligente, uma artista que me interessa muito assisti-la. Ela é uma profissional que está sempre se desafiando. Foi uma parceria deliciosa. Acho que fizemos um bom filme brasileiro de gênero, que não costumamos fazer”, celebra.

Além da parceria, os atores têm muito em comum. Eles iniciaram a carreira artística como modelos. Ao migrarem para a atuação, ambos sofreram com o mesmo preconceito: não eram levados a sério por serem bonitos demais e fizeram suas estreias em tramas do autor Manoel Carlos. O primeiro trabalho de Gianecchini na televisão foi como Edu, em Laços de Família (2000). O então estreante foi mal recebido pelo público, que não poupou críticas a sua interpretação. O mesmo aconteceu com Grazi. Um ano após deixar a casa do Big Brother Brasil, ela apareceu na telinha em Páginas da Vida (2006).

Reynaldo Gianecchini e Grazi Massafera protagonizam suspense envolvente em 'Uma família feliz'

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Cinema

O brasileiro mal acabou de sair da ressaca do Oscar 2025 para Ainda Estou Aqui e já tem outro filme nacional para chamar de seu. Desta vez, quem protagoniza a narrativa é a veterana Fernanda Montenegro, que dá vida a uma inconformada e solitária aposentada que passa os dias observando a rua de seu apartamento em Copacabana, zona sul do Rio de Janeiro. Trata-se do longa Vitória, que entra em cartaz nesta quinta-feira (13) nos cinemas de Goiânia e Aparecida.

Idealizado por Breno Silveira, que morreu durante a produção, e dirigido por Andrucha Waddington, genro de Fernanda Montenegro - isto é, esposo de Fernanda Torres -, o filme é a segunda produção cinematográfica com selo Globoplay. O primeiro fica a cargo do ganhador do Oscar de Melhor Filme Internacional.

Já a distribuição do longa trilha o mesmo caminho de Ainda Estou Aqui: tem lançamento promovido pela Sony Pictures Entertainment. Vitória também é baseado em um livro, Dona Vitória da Paz (Editora Planeta), escrito pelo jornalista Fábio Gusmão. Será que vem mais prêmios do Brasil por aí?

Nos últimos meses, os filmes nacionais têm arrastado uma multidão para ir às sessões de cinema. Vitória parece dar um gás a mais no cenário positivo que o audiovisual brasileiro tem percorrido. O longa foi o escolhido para abrir o 27° Festival de Cinema Brasileiro de Paris, realizado na França no dia 29 de abril. A produção também deve passear pelos festivais e mostras internacionais ao longo de todo o ano. É esperar para ver.

Fernanda Montenegro, a grande dama da dramaturgia e que já concorreu ao Oscar com Central Brasil em 1999, vive a personagem que dá nome ao filme. A história é baseada no caso real de Joana Zeferino da Paz, que viveu anos sob anonimato forçado no programa de proteção a testemunhas. A senhora se tornou símbolo de luta pela justiça ao registrar, com uma câmera, a movimentação criminosa da quadrilha que atuava na região.

Ao longo da produção, a improvável heroína se cansa de viver sob a sensação de insegurança e decide filmar da janela o tráfico de drogas. A narrativa se desenrola quando ela conhece o jornalista Fábio Gusmão (Alan Rocha), que a ajuda na investigação. “É uma mulher que nos comove por sua coragem e amor”, disse Montenegro durante a pré-estreia do filme no Rio de Janeiro, sua cidade natal.

Do alto de seus 95 anos, a grande atriz sugeriu que essa pode ser a sua última participação em uma produção cinematográfica. “É muito especial para mim. Porque, com a idade que eu estou, posso até continuar fazendo minhas leituras nos palcos, como já estou fazendo há algum tempo, mas cinema pede físico, pede fôlego”, exclamou a veterana, que tem lotado salões e teatros com suas residências literárias.

Na última terça-feira (11), a atriz reuniu mais de 700 pessoas na Academia Brasileira de Letras (ABL) no projeto Uma Academia Toda Prosa. Já em agosto de 2024, a artista fez uma leitura dramática da obra A Cerimônia do Adeus, de Simone de Beauvoir, no Parque Ibirapuera, em São Paulo. O evento foi gratuito e celebrou os 80 anos de carreira da atriz. Na ocasião, cerca de 15 mil pessoas assistiram à apresentação no gramado.

O último grande trabalho de Montenegro nos cinemas antes de Vitória e Ainda Estou Aqui foi em Piedade (2021), dirigido por Cláudio Assis e estrelado por ela ao lado de Cauã Reymond, Mateus Nachtergaele e Irandhir Santos. Trata-se de um relato de uma pequena cidade fictícia pernambucana que tem suas vidas alteradas com a chegada de uma grande empresa petroleira que, para conseguir suas terras, traz à tona segredos do passado de uma família. O filme está disponível no Globoplay e no Amazon Prime Video.

Polêmica 

Antes mesmo de estrear, Vitória já gerou polêmicas em relação à escalação de Fernanda Montenegro. Tudo porque Joana Zeferino da Paz, a mulher do episódio real que inspirou o filme, é negra. A justificativa é de que a produção do longa sabia, sim, das características físicas de Dona Joana, mas tomou cuidado para evitar informações que facilitassem sua identificação após tantos anos. Até os nomes foram trocados: no longa a protagonista é chamada de Nina.

Breno Silveira, o primeiro diretor do longa e que morreu em 2022 vítima de um enfarte fulminante, já havia afirmado que quando a história começou a ser produzida, Joana da Paz ainda estava viva e as pessoas não sabiam a verdadeira identidade dela. Por isso, a produção decidiu proteger as informações de identificação da mulher, que também morreu em 2023 e não conseguiu ver o filme finalizado.

Claquetes tupiniquins

Nos últimos meses, as estreias nacionais fizeram muitos brasileiros pegarem sessões de cinema. Tanto em número de espectadores quanto de arrecadação, o audiovisual feito no País tem também extrapolado as fronteiras. Exemplos não param de proliferar, caso do goiano Oeste Outra Vez, que segue em cartaz e foi vencedor do Festival de Cinema de Gramado; de Minha Irmã e Eu, gravado em Bela Vista de Goiás e um dos mais assistidos do Telecine em 2024; e ainda o sucesso estrondoso de O Auto da Compadecida 2.

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Protagonizado por Fernanda Montenegro, filme 'Vitória' estreia nos cinemas de Goiânia e Aparecida

Senhora da justiça 

Quer pegar um cineminha? Confira os filmes que estão em cartaz em Goiânia e Aparecida

Estreias

"Ainda Estou Aqui" chegou a 5,7 milhões de espectadores no Brasil, se consolidando como o sétimo filme nacional mais visto no país, segundo dados da Comscore, que monitora a audiência de cinemas no país desde 2002. Com esse marco, ele ultrapassou "Se Eu Fosse Você 2", comédia de 2009 com Tony Ramos e Glória Pires. 
 
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A obra que levou o primeiro Oscar do Brasil, estrelada por Fernanda Torres, fica atrás ainda de filmes como "Nada a Perder" (12 milhões de espectadores) e "Minha Mãe É uma Peça 3" (11,6 milhões), que lideram a lista.

Os números têm ligeiras diferenças em relação aos dados da Agência Nacional do Cinema, a Ancine, que em sua atual série histórica contabiliza os filmes de 2018 para cá. Nos dados da agência, o filme chegou, no início deste mês, à quinta maior bilheteria desses últimos sete anos, com faturamento de R$ 85,41 milhões.

<div class="p-readmore-box"> 
<a href="https://opopular.com.br/magazine/com-a-vitoria-de-ainda-estou-aqui-no-oscar-cinema-nacional-ganha-mais-visibilidade-internacionalmente-1.3237198" target="_blank">Com a vitória de 'Ainda Estou Aqui' no Oscar, cinema nacional ganha mais visibilidade internacionalmente</a> 
 
<a href="https://opopular.com.br/magazine/fernanda-montenegro-escreve-carta-aberta-a-fernanda-torres-e-a-chama-de-fenomeno-1.3238895" target="_blank">Fernanda Montenegro escreve carta aberta a Fernanda Torres e a chama de 'fenômeno'​</a> 
 
<a href="https://opopular.com.br/magazine/ainda-estou-aqui-faz-historia-e-conquista-primeiro-oscar-do-brasil-1.3236995" target="_blank">'Ainda Estou Aqui' faz história e conquista primeiro Oscar do Brasil</a></div>

 
Veja a lista dos filmes brasileiros mais vistos, desde 2002, segundo a Comscore:

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	<li>"Nada a Perder": 12 milhões de espectadores 
	&nbsp;</li>
	<li>"Minha Mãe é Uma Peça 3": 11,6 milhões de espectadores 
	&nbsp;</li>
	<li>"Os Dez Mandamentos": 11,2 milhões de espectadores 
	&nbsp;</li>
	<li>"Tropa de Elite 2: O Inimigo Agora é Outro": 10,8 milhões de espectadores 
	&nbsp;</li>
	<li>"Minha Mãe É uma Peça 2": 9,2 milhões de espectadores 
	&nbsp;</li>
	<li>"Nada a Perder 2": 6,1 milhões de espectadores 
	&nbsp;</li>
	<li>"Ainda Estou Aqui": 5,7 milhões de espectadores 
	&nbsp;</li>
	<li>"Se Eu Fosse Você 2": 5,6 milhões de espectadores 
	&nbsp;</li>
	<li>"Minha Vida em Marte": 5,3 milhões de espectadores 
	&nbsp;</li>
	<li>"Dois Filhos de Francisco: A História de Zezé Di Camargo e Luciano": 5 milhões de espectadores</li>
</ul>

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'Ainda Estou Aqui' se torna sétimo filme brasileiro mais visto desde 2002