A advogada Taisa Machado, de 33 anos, já tinha ouvido “falar por alto” no “hormônio do estresse”, como é mais conhecido o cortisol. O que ela não imaginava é que a substância secretada em situações de perigo físico ou psicológico (por isso o apelido) poderia também estar sabotando sua rotina de dieta e exercícios físicos. “Vi que, apesar dos meus esforços, os resultados não estavam satisfatórios. Procurei uma nutricionista, que pediu o exame e constatou a alteração, o excesso do cortisol. Tivemos de mudar a rotina alimentar e de treinos”, conta Taisa, que conseguiu diminuir os níveis do hormônio no organismo.Em excesso, o cortisol pode causar ganho de peso e pressão arterial elevada, prejudicar o sono, alterar o humor, depressão, reduzir os níveis de energia e contribuir para a diabete. Reclamações de pacientes que – apesar das horas na academia e da disciplina à mesa – não atingem seus objetivos são comuns em consultórios de endocrinologistas, nutrólogos e nutricionistas. Em muitos casos, o vilão é justamente o desequilíbrio de hormônios, como os da tireoide, a insulina, a testosterona e, principalmente, o cortisol.“O aumento do cortisol cria um contexto desfavorável e de desequilíbrio integral no nosso corpo. Com o cortisol alto, temos tendência a reduzir os hormônios que são produzidos pela glândula tireoide, que rege o metabolismo. Quem tem disfunção como o hipotireoidismo também tem dificuldade em emagrecer”, explica a nutricionista Janaína Macedo. Ansiedade e estresse são alguns dos responsáveis por desequilibrar hormônios, principalmente o cortisol, liberado pelas glândulas suprarrenais.Na prática, em situações estressantes, o organismo entende que está em guerra. E o cortisol, para protegê-lo, atua na produção de gordura, além de metabolizar a proteína do músculo e diminuir o uso da glicose. “Isso faz com que os tecidos queimem menos gordura, o que causa dificuldade no emagrecimento. Eles ficam com baixa energia celular e por isso engordamos. O cortisol alto também causa resistência à insulina, provocando o armazenamento cada vez maior de gordura na região do abdome”, ressalta a nutricionista.Além da dificuldade de emagrecer, o paciente com cortisol alto tem disfunções cognitivas, excesso de cansaço e fadiga. Apesar da acusação de em excesso engordar, o hormônio, explica o endocrinologista Jued Tuma, é essencial para o funcionamento do organismo. “Sem ele, produzido desde as primeiras semanas de gestação, pelas glândulas adrenais fetais, não haveria vida. O cortisol desempenha várias funções importantes, como o aumento da contratilidade cardíaca e reatividade vascular, além da modulação do sistema imunológico”, enumera o médico, que é presidente da Sociedade Brasileira de Endocrinologia em Goiás. Situações cotidianas, maus hábitos e estilo de vida inadequado são responsáveis por desregular sua produção. Em quantidades normais, o hormônio não é mesmo nenhum vilão. Quando há estresse, o cortisol sobe e diminui a queima calórica para poupar energia em caso de algum perigo. O problema é que o cérebro não distingue as ameaças reais das imaginárias. “O cortisol só provoca ganho de peso se estiver bem alto. Nessa situação, há aumento do apetite por sua ação nos centros reguladores da fome e saciedade e também da insulina, hormônio produzido no pâncreas. A ação conjunta desses dois hormônios levam a um aumento da gordura corporal, notadamente na região abdominal e na face”, explica o médico.